Para uns a bengala, sempre elegante e refinada, é um símbolo de dignidade e respeito, sendo usada para mostrar a sabedoria e experiência. É principalmente um acessório de status, não apenas uma ferramenta. Lembra a democracia que está presente mas que a sua aplicação prática depende muito de quem a usa, a dirige. A muleta, por outro lado, é mais prática e directa. É considerada uma verdadeira heroína pois ajuda as pessoas a se levantarem quando estão feridas, diminuídas fisicamente. Demonstram a diferença entre alguém ficar preso no chão e seguir em frente. Na verdade, as duas são essenciais e têm um papel a cumprir na sociedade. Mas uma sociedade não pode viver apenas da bengala e da muleta, tem de saber caminhar sozinha.
A democracia em Angola deveria ser como a bengala: um símbolo de dignidade e respeito. É algo que todos desejam, mas que nem todos sabem usar correctamente. Um instrumento que permite opiniões díspares, que respeita a opinião de todos, maiorias e minorias, que assegura a participação de todos e que permite uma vida socialmente justa. Tem de ter cuidado com os buracos na estrada que fazem com que a bengala tropece e caia. A muleta, por outro lado, já não pode ser apenas o potencial que Angola tem, o potencial agrícola, o hídrico, geológico, ambiental. Esse potencial tem de ser transformado e assegurar uma real independência.
Este ano, Angola comemora 50 anos de independência. Já não engatinha como fez nos primeiros anos da independência e depois do alcance da paz. As muletas e as bengalas deram um apoio mas agora cabe a cada um de nós usar essas ferramentas da melhor maneira possível, para que possamos continuar a caminhar rumo a um futuro melhor. Afinal, como se diz, «a jornada de mil milhas começa com um único passo» - seja ele apoiado por uma bengala ou por uma muleta.