Tanto Donald Trump, que tem como principal atributo ser multimilionário, como o próprio afirma, e ter ainda sido estrela de um programa de entretenimento televisivo, e Joe Biden, senador há várias décadas e ex-vice-Presidente de Barack Obama em dois mandatos, têm mais de 70 anos, o primeiro 74 e o segundo 77, mas esta parte final da corrida - faltam seis semanas para as eleições - parece estar a ser mais complicada para Trump, especialmente depois de o New York Times ter, no Domingo, divulgado uma investigação a duas décadas de registos de impostos pagos e concluído que durante 10 anos o bilionário inquilino da Casa Branca não pagou impostos, e quando pagou, como sucedeu em 2016, ano em que assumiu o poder, pagou apenas 750 USD, menos que aquilo que paga um simples funcionário da limpeza de uma qualquer municipalidade do interior dos EUA.

Acossado pela suspeita de fuga aos impostos e por sucessivas sondagens que o colocam vários pontos atrás de Joe Biden, a última das quais 7%, Donald Trump resolveu partir para o contra-ataque e optou por sublinhar a idade de Joe Biden, deixando dúvidas no ar sobre a sua condição física, exigindo que este se submeta a um teste antidoping antes ou depois do debate televisivo que começa às 01:30 - hora de Luanda -, na noite de hoje para amanhã, quarta-feira.

Trump alega que os desempenhos de Biden são inconsistentes e por isso afirma ser plausível que o seu adversário ande a tomar medicamentos, tendo escrito no Twitter: "Para dizer isto com gentileza, só o consumo de drogas pode causar as discrepâncias na performance" de Joe Biden, deixando a garantia de que se compromete a fazer teste idêntico.

Recorde-se que, segundo os cálculos da imprensa norte-americana, devido ao complexo sistema de eleição nos EUA, apesar de as sondagens nacionais lhe darem mais 7% que a Trump, Biden não tem a eleição garantida porque, contando com o método de eleição estado a estado, essa superioridade desce para cerca de 3,5%.

Isto é especialmente relevante porque em 2016, apesar de ter conseguido mais cerca de 3 milhões de votos que Donald Trump no conjunto do país, Hillary Clinton perdeu as eleições devido às singularidades do sistema eleitoral que, em síntese, privilegia os grandes eleitores saídos das votações por estado e nem todos os estados têm a mesma importância devido ao número de habitantes.

O que mais parece, segundo os analistas citados pelos media norte-americanos, é que em 2016 Trump conseguiu, através de uma conjunto gigantesco de "notícias" plantadas nas redes sociais, denegrir a imagem de Clinton, o que não parece estar a conseguir com Biden, que se mostra mais resiliente a esses esquemas, bem como ao facto de a Covid-19 estar a revelar uma completa inépcia e falta de competência do actual Presidente para a enfrentar, ao ponto de a maior potência económica, militar e tecnológica do mundo ser, igualmente, o país com mais casos e mais mortos nesta pandemia em todo o planeta.

E, para piorar a vida de Trump, segundo as sondagens, nos denominados swing-states, que são aqueles que mudam de partido com mais facilidade, Joe Biden está claramente a impor a sua vantagem, como é o caso da Florida, Michigan ou o Wisconsin.

Por estas razões, e outras, o primeiro debate entre Trump e Biden está a gerar um forte interesse global, até porque os EUA são, ainda, o país com maior lastro mundial e um protagonismo insubstituível na mediação de conflitos tanto no Médio Oriente como na Ásia, ou mesmo em África, como é o caso da região do Sahel.

E, como se sabe, Trump tem optado claramente por uma retracção da presença dos EUA além-fronteiras e esta eleição tem ainda essa importância, até porque Biden tem um posicionamento totalmente distinto para a política externa dos EUA.