Estes números atestam a gravidade da mais recente epidemia de Ébola na RDC, desta feita numa região onde este vírus, que provoca a mais grave febre hemorrágica que a humanidade conhece, apareceu pela primeira vez em humano, em 1976.

Os dois últimos casos foram registados na sexta-feira, nas comunidades de Lotumbe e Bomongo, sendo que esta última localidade é a 12ª a ser afectada pela presente epidemia.

Recorde-se que esta epidemia foi conhecida precisamente quando as autoridades de saúde nacionais e a Organização Mundial de Saúde (OMS) deu por terminada a epidemia que durante mais de dois anos varreu o leste do país, nas províncias do Kivu Norte e Ituri, junto às fronteiras com o Ruanda e Uganda, fazendo 2.299 mortos em 3.481 casos confirmados, tendo sobrevivido 1162.

Desde 01 de Junho deste ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e as autoridades sanitárias congolesas já registaram 112 casos de Ébola na área da cidade de Mbandaka, onde surgiu o primeiro caso desta mais recente epidemia, dos quais 48 resultaram em morte.

Apesar de quase 30 mil pessoas terem já sido vacinadas com a vacina que se revelou eficaz na contenção das epidemias na África Ocidental em 2013 e no leste da RDC, que começou no mês de Agosto de 2018 e só este ano foi debelada, a 11ª epidemia congolesa mostra-se resistente e continua a fazer vítimas.

A província do Equador foi onde em 1976 o mundo ficou a conhecer a mais recente ameaça, protagonizada por um vírus que, até então, estava delimitado aos seus portadores naturais, primatas e algumas espécies de outros mamíferos, incluindo morcegos, estando agora o vírus de regresso ao local.

Esta região, com epicentro na cidade ribeirinha de Mbandaka, constitui um risco acrescido porque está situada na margem esquerda do Rio Congo, com fronteira com a vizinha República do Congo (Brazzaville), que é a grande via de comunicação deste extenso país da África Central, que desagua junto à fronteira angolana, na província do Zaire.

De acordo com dados revelados pela OMS, através do seu escritório de resposta às situação de urgência (OCHA), o velho problema da tradição de não recurso às unidades de saúde criadas para o efeito devido ao receio alimentado por charlatães de seitas religiosas ou curandeiros tradicionais está a dificultar o controlo desta pandemia.

"Muitos dos casos mais recentes de morte são registados nas comunidades, porque os pacientes de Ébola escolhem ficar em casa, o que revela uma clara falta de informação sobre os perigos da doença e uma resistência comunitária à resposta médica", aponta este comunicado do OCHA.

Face a esta continuada perversão alimentada por seitas religiosas ou outros actores comunitários, esta organização lança um apelo para uma maior aderência das comunidades ao tratamento e à vacinação, que é a mais eficaz resposta conhecida a uma das mais letais febres hemorrágicas conhecidas, sendo isso igualmente importante para evitar a dispersão regional da infecção.

E o risco de expansão da epidemia é evidente tendo em conta que a cidade de Mbandaka tem mais de um milhão de habitantes e a sua esmagadora maioria vive em condições sanitárias precárias, a partir da qual existem ligações frequentes, via fluvial, para Kinshasa, a capital da RDC, e para Brazzaville, capital da vizinha República do Congo, com a qual ocorrem diariamente substanciais trocas comerciais em fronteiras extremamente porosas.

A juzante do Rio Congo está a fronteira angolana, colocando em aberto o risco de a doença poder chegar ao território nacional angolano, como a própria OMS admite que é possível.

Para fazer face a esta ameaça que, como ocorreu nas mais graves epidemias desta infecção, se poderá revelar global, a Agência para o Desenvolvimento Internacional dos EUA (USAID), anunciou na segunda-feira um apoio de mais 15 milhões de dólares para a RDC dedicados à assistência humanitária nas áreas afectadas por mais este surto de Ébola.

O UNOCHA anunciou que o USAID já transferiu para a RDC, desde 01 de Agosto de 2018, mais de 365 milhões USD para apoiar o combate a esta doença.

Este apoio norte-americano junta-se ao de vários países que, através do envio de equipas médicas ou de apoio financeiro directo, têm permitido ao Congo fazer frente a este velho inimigo que, desde 1976, ano em que este vírus foi, pela primeira vez, encontrado em humano, já fez dezenas de milhares de vítimas.