Um país não é, ou não devia ser, diferente. Também ele deve preservar a sua memória e a ela recorrer sempre que procura novos caminhos, novas soluções. E, é claro, a memória impregna cada um dos elementos da nossa cultura, cada pedra riscada na paisagem, cada folha onde o génio dos nossos ancestrais os levou a inscrever sinais para o futuro. Nós. Os vindouros.
Museus, monumentos, sítios históricos, danças, provérbios, canções, mas também os registos, projectos, pedaços de papel onde se inscreveram ilusões, documentaram acontecimentos, procurou-se fixar o passado. Mas a memória não é apenas isso. Cada instituição deveria ter a preocupação de guardar o que é determinante para que a sua génese não caia no poço sem fundo do esquecimento.
Um projecto que merece ser singularizado é o dos Trilhos, levado a cabo pela ATD-Associação Tchiweka de Documentação, que teve em Paulo Lara o seu grande impulsionador e estratega. A preocupação em recolher o testemunho dos actores mais relevantes no processo histórico pré-independência permitiu que não se perdesse por completo informação e experiências de um valor incalculável, para a compreensão do atribulado caminho que nos levou até ao 11 de Novembro de 1975. Percorrendo-se o País, com uma equipa competente e entusiasta, foi possível documentar uma parte importante da luta de libertação nacional, redescobrindo os trilhos que os guerrilheiros palmilharam, as batalhas que travaram, trabalho que complementou, de forma exemplar, o acervo que aquela associação vem preservando para legar às gerações vindouras informação determinante para que se possa entender o caminho percorrido até à nossa independência Nacional, que completará meio século este ano.
Mas é importante que o nosso Estado cumpra o seu papel central na construção de um palácio da memória, que honre o País e a sua história.
O Arquivo Histórico Nacional de Angola tem um papel central na preservação da nossa memória comum, como país. Não só catalogando a documentação escrita que nos transmite o conhecimento do passado, como recolhendo os testemunhos dos que, através da oralidade, ainda conseguem transmitir a informação que foi sendo passada ao longo dos anos, para que possamos saber de onde viemos. A sua estrutura imponente, recentemente construída, faz ter a esperança de que a sua importância tenha sido compreendida. De que se tem consciência que é necessária uma atenção especial para que se criem e mantenham as condições, para que uma equipa competente e suficiente faça o trabalho de conservação, permanenta recolha e aumento do acervo documental histórico do País.
Será isso que está a acontecer? Ou foi apenas mais um edifício?