Com projectos políticos que as mais das vezes atropelam os princípios mais elementares de um Estado Constitucional de Direito [que surgiu com o Liberalismo no século XIX - 1870], esses partidos, sem um pingo de vergonha, declaradamente fascistas, xenófobos, racistas, cujo campo de batalha se organiza com esmagadora simplicidade entre "amigos e inimigos" vão ganhando terreno na Europa, e não só. O caso mais recente ocorreu nas eleições realizadas em Espanha, com a chegada ao Parlamento espanhol do Vox, liderado por Santiago Abascal, um partido com ideias incendiárias e que, nos seus discursos, tem estado a ressuscitar o franquismo.

Acrescente-se ainda o escândalo que vemos na paisagem política do Brasil, onde o juiz Sérgio Moro, violando claramente o the rule of law (regras de direito), condenou à prisão o presidente mais carismático da História do Brasil - Luiz Inácio Lula da Silva. Como era do conhecimento de todos, a série de reportagens divulgadas pelo site The Intercept revelam que o "super-juiz" da Lava Jato, em parceria com o procurador Deltan Dallagnol, teve influência na condenação de Lula. Usamos as palavras certas: travestiu-se de juiz para condenar e afastar da corrida presidencial o homem que tirou metade dos brasileiros do limiar da pobreza. O Brasil, integrante dos BRICS - acrónimo para Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul -, vê-se agora numa autêntica regressão, com o governo ultraconservador de Jair Bolsonaro a acabar com as políticas sociais criadas na era Lula.

E há poucas semanas Boris Johnson, primeiro-ministro britânico, decidiu suspender o Parlamento até 14 de Outubro, dando um duro golpe "às regras democráticas", abrindo a porta para um Brexit sem acordo. O speaker da Câmara dos Comuns (é, digamos assim, o equivalente ao presidente da Assembleia Nacional em Angola), John Bercow, classificou a medida como sendo um "ataque à democracia".

Em face deste quadro bastante preocupante, questionamos: como sair destas "encruzilhadas do labirinto", usando as palavras de Cornelius Castoriadis, que o mundo enfrenta? Como encontrar uma nova narrativa para sair deste marasmo político e democrático? Como ultrapassar os atropelos ao Estado Democrático, neste tempo de activismo judicial? A resposta, certamente, não é fácil porque deve ser analisada com subtileza tendo em conta os diversos factores nela incluídos. Estamos realmente "no meio de uma transformação que nos obriga a conceber a política e praticá-la de outra maneira, porque entrámos na era da desconfiança na qual já não se mobiliza positivamente mas se multiplicam os votos de protesto" (Daniel Innerarity, O Futuro e Os Seus Inimigos, pág. 124).