"É consensual assinalar que as eleições gerais de 2017 ocorreram num ambiente de competição política ab initio desfavorável ao MPLA, agravado por uma crise económica financeira e aprofundado com uma severa crise de valores que corroeu o tecido social e económico do País, totalmente adversa aos desafios políticos e eleitorais...", lê-se no documento Posicionamento Estratégico do MPLA para o Reforço da Sua Afirmação no Cenário Político Actual Face aos Adversários Políticos na Oposição, elaborado pelo Gabinete de Coordenação de Estudos e Análises do Comité Central do Partido dos "Camaradas" e cujo conteúdo merece destaque na presente edição do Novo Jornal.
O MPLA admite que "não obstante as reformas em curso", o País continua a ressentir-se de certas falhas do passado, realçando que "o quadro difícil herdado da anterior governação, com uma economia totalmente dependente do sector público, das receitas do petróleo e da excessiva dependência das importações de bens e serviços", associadas à "fraca observação das boas práticas de gestão dos recursos públicos", agravadas com o "desvio galopante das finalidades do erário", pode propiciar oportunidades para a agitação e indignação social, a criação de novos partidos políticos, geração de movimentos sociais, um aparente ou real crescimento da oposição, bem como o surgimento de novos "revús".
Manifestando também uma preocupação com o surgimento de "manifestações induzidas por forças políticas partidárias ou espontâneas, ou ainda por outras forças endógenas e exógenas", este documento resulta da necessidade de o MPLA e de o seu líder construírem o seu posicionamento estratégico para a sua contínua afirmação e manutenção no poder, com realce também para os partidos na oposição e as suas respectivas lideranças.
O referido estudo conclui que os ataques da oposição ao Executivo e ao MPLA serão em torno de temáticas como: A reforma do Estado e revisão constitucional, corrupção, Fundo Soberano, Dívida Pública, Autarquias, Crise económica, desemprego e pobreza, Património e antigos combatentes (implementação dos acordos entre o Governo e a UNITA, decorrentes dos protocolos de paz) e comunicação social pública.
Na avaliação às lideranças políticas da oposição, Adalberto da Costa Júnior surge como a única e real ameaça ao partido no poder. É descrito como "o fenómeno político angolano", uma "figura superstar" e admitindo-se mesmo que pode trazer para o País "uma nova forma de fazer política". O seu estilo de comunicação, descrito pelos camaradas como "agressivo, fluente e forte", torna o líder da UNITA na condição de "alvo a ser vigiado e combatido". Há dois elementos curiosos neste documento, um é a recomendação que se faz, no sentido de se identificarem quadros no Partido com perfil semelhante ao de Adalberto Costa Júnior, para " desconstruir" o seu discurso nos órgãos de comunicação social e redes sociais. Outro é o nome da empresária Isabel dos Santos, que é descrita como alguém que vê em Adalberto Costa Júnior "um parceiro estratégico na sua luta para derrubar o MPLA nos próximos anos". Sem limites no campo da ética, o documento recomenda (se for necessário) uma profunda devassa da vida privada para "ofuscar" o brilho da nova "figura superstar" da política nacional.
O universo digital passa a ter maior realce com a criação de "perfis adequados e adaptados", surgem as "milícias virtuais" e os CAP"s digitais, que já estão em "prontidão combativa" em meios como Facebook, Whatsapp , Instagram e Twitter. Mas como a "tropa" precisa de "abastecimento logístico", foi salvaguardada a articulação e a estreita relação entre gabinetes especializados do partido com os gabinetes afins do Executivo, para o acesso à informação privilegiada. Reactivação de opinion makers (fazedores de opinião), no universo real e virtual, as novas associações filantrópicas para fazer surgir réplicas dos já "falecidos em combate" Bento Raimundo, Pinto Conto, Tulumba, Santos Bikuku, entre outros. Sem esquecer a recomendação de se dar espaço e voz aos "miúdos " que "fazem barulho" pelo País. É necessário que surjam outras "estrelas" para ofuscar o brilho da "figura superstar" que "ousa" tentar dominar os palcos da política nacional. Basta reparar em muitas das últimas políticas e estratégias adoptadas pelo Executivo, o posicionamento estratégico da comunicação social pública, a intensa actividade e ataques das milícias virtuais e dos CAP"s digitais para perceber que a caminhada para 2022 há muito se iniciou.