Tenho pressa em ser chefe, estar laifado, ainda que não esteja preparado, nem saiba como lá chegar ou o que fazer quando lá chegar. O mais importante não é saber fazer bem o salo, é chegar lá rápido, do mais breve e michar em tudo. Nem que tenha de tomar banhos com folhas faladas, bajular, bungular, lamber os pisos dos bosses para conseguir chegar lá rápido, ser nomeado, ver e ouvir o meu nome ser lido em voz alta por altura da nomeação ou ainda antes no telejornal... tenho pressa, sai da frente, vou te popolar!
Tenho pressa em passar, não quero madiês no meu caminho, nem que tenha de usar sirenes tipo sou poliange ou granda bossanga, usarei para passar, furar à frente de quem esteja no caminho há mais tempo, tenha acordado cedo. Nem mbaia vou dar, aliás, com as sirenes e vidros fumados que pus no ruca, fico mesmo tipo sou granda wi ou cabomba, ninguém me pára, até os trânsitos me batem pala, vou dar mbaia até nos candongueiros que se acham vivos e que dão bué de mbaias faladas aos boelos que cumprem o código de estrada e aguentam bué de tempo no engarrafamento.
Tenho pressa em viver vidas, ser famoso, usar aqueles rulas que só um custa mais do que uma vivenda no Nova Vida, ndutar aqueles rucas que só os pneus custam um cúbico no Zango, pitar naquelas bandas onde a factura do almoço de uma pessoa custa mais do que um mbanji no Panguila. Tenho pressa em sair da dibinza e não mais voltar!
Tenho pressa em ter bué de madiês a se caxicarem à minha volta e atrás de mim em busca de migalhas, a fazerem o que eu mando, até as cenas mais absurdas. Tenho pressa em ser bajulado, ser temido, em ser chamado de chefe, pai grande, boss. Tenho pressa em também olhar e sorrir de forma arrogante, enquanto espezinho os outros.
Tenho pressa em dizer, consegui, cheguei lá antes do tempo e nem precisei de bucar bué, nem bumbar bué, aliás nem sei fazer grandes salos, só aprendi a bajular, fatigar, levar e trazer intrigas e fofoca, sou wi rijo, quando espirro martelo bem, o pessoal me sente e me respeita. Não há escândalo que não passe por mim. Até a Joana Clementina me respeita! Quando é para fatigar sou o primeiro a ser chamado para duzir o mambo, nem preciso ter pressa, acho que é a única vez que não tenho pressa, porque são tantos pedidos para fatigar que às vezes nem sei que mentira inventar mais para fatigar!
Tenho pressa em passar rápido, ser o Primeiro a embarcar mesmo sem visto, ter tratamento vip e exclusivo quando viajo para qualquer banda em primeira classe. Meu passaporte me permite ser apressado não precisa de visto, minha cara é documento, meu nome é chave, abre tudo.
Sou o wi dos sonhos de muitos, todas as pintas dos ginásios e dos bancos me morrem, quando eu passo me seguem, de outras bandas então, esquece, até parece que me lavaram com me gosta. Até as mães grandes cheias de kumbú me colam, sabem que bebo conhaque Louis XIII no matabicho tipo chá, e que o charuto que fumo dá para pagar salários de alguns madiês.
Tenho pressa em ter tudo o que quero e que os outros têm até a luz deles que me irrita. Então tenho pressa em apagar a luz alheia que faz confusão e quer ajudar a iluminar o caminho de muitos que deviam continuar na escuridão! Sou o Lengu Luka Kiama Nzala, o apressado que nunca come cru!"