Foi eleito, no XII Congresso da UNITA, maior partido na oposição, com 32 anos de liderança de Jonas Savimbi e 16 de Samakuva. Nesta altura, qual é balanço de um ano da sua liderança?
Um ano passa muito rápido, particularmente quando estamos sujeitos a restrições da pandemia, porque nós tivemos de mudar substantivamente a agenda que tínhamos. A partir de Março, praticamente, foi um descobrir de uma realidade diferente. Mas diria que, nos quatro meses sem pandemia, demos os passos todos daquilo que se pode esperar do pós-congresso: a normalização do funcionamento dos órgãos internos. A UNITA é um partido que tem muitos quadros, foi preciso nomear imensos órgãos. O congresso da minha eleição ocorreu numa sexta-feira, e eu, sábado de manhã, tive que dar posse à Comissão Política. A Comissão Política é um órgão deliberativo fora do congresso, que tem a obrigatoriedade de reunir uma vez por ano e que é o mais representativo órgão do partido entre os congressos. Dei posse e tive a particularidade de pedir ao congresso o aumento da Comissão Política. Pedi o acréscimo de 50 membros, que foi acedido.
A que se deveu este aumento?
Por uma razão especial, concreta: tinha a intenção de aumentar substantivamente a presença de jovens e mulheres. E a Comissão Política da UNITA é composta por um conjunto de equilíbrios bastante interessante. Às vezes, vale a pena falarmos disto, porque me parece bastante equilibrado e muito democrático. Nós temos na Comissão Política uma percentagem que corresponde às organizações de massa, a LIMA e a JURA, que têm os seus congressos, elegem os membros da Comissão Política nos seus congressos (...). Dizer que a UNITA, nessa matéria, é um partido que tem o funcionamento dos órgãos com eleição, por via democrática e com rigor.
Fala-se em descontentamentos nas mexidas nos secretários provinciais.
Devo dizer que, quanto às nomeações dos secretários provinciais, não mudei ninguém, só substitui secretários em que tirei quadros para a direcção central, porque, de resto, mantive a mesma direcção que já vinha de trás, com o objectivo muito simples: continuidade, estabilidade e também um período de avaliação do desempenho.
E é óbvio que, após congresso, foi precioso fazer a legalização do congresso junto do Tribunal Constitucional. Isso é um exercício bastante complexo e legal.
Estava a fazer balanço da sua trajectória à frente do partido...
Dizer que o presidente, até à Covid-19, andou bastante, conseguiu visitar nove províncias, naqueles quatro meses, visitas bastante profundas, recebi bastantes convites muito relevantes, destaque, por exemplo, para a cerimónia do primeiro ano desde a posse do Rei do Cunene, participei nalguns eventos internacionais, porque a UNITA é membro de uma internacional, a Internacional Democrática do Centro, é a maior Internacional de partidos no mundo. A UNITA hoje é vice-presidente desta internacional. Estive em Cabo Verde, com grato convite do MpD (Movimento para a Democracia), o partido que se encontra a governar. Estive na convenção deste partido, onde tivemos direito à palavra, na Assembleia Nacional, onde decorreu, e tivemos muitos encontros no plano interno. Penso que o início da Covid- 19 nos obrigou a refazer todas as estratégias. A UNITA antecipou-se às medidas do Estado.
Antecipou-se? Como assim?
O Estado de Emergência entrou em vigor creio que a 28 de Março, e a direcção da UNITA, logo após o 13 de Março [data da fundação do partido], que foi comemorado no Kwanza-Sul, no Sumbe, reunimos a direcção e antecipámos as medidas de protecção e de combate à pandemia. Anulei todos os encontros estratégicos que tinha, e eram muitos e importantes, alguns deles só hoje é que estou a fazer. Portanto, tivemos uma leitura, uma percepção dos desafios e riscos. Fomos daqueles que antecipámos, inclusive, a solicitar ao Presidente da República a tomada de medidas de excepção. Tinha passado em Portugal, por exemplo, no princípio do mês de Março, e tinha regressado com um escândalo, porque não vi nenhuma medida de protecção a esta pandemia, que já era uma realidade no mundo. Passei a caminho de Cabo Verde, e no aeroporto [4 de Fevereiro] não fui sujeito a nenhum controlo, nem para lá, nem para cá. Nenhuma restrição existia. Lembro-me de ter feito algumas declarações, porque, nessa altura, Angola já tinha tomado algumas decisões de protecção, embora, depois, nos atrasássemos muito a controlar os voos de risco e esse é o motivo destas infecções todas que existem no País. A leitura que tenho é que não resultaram de furos apenas à cerca; resultaram, fundamentalmente, de um enorme atraso. Não percebo, não consigo justificar. Tendo o Governo angolano antecipado substantivamente a tomada de medidas, os voos de Lisboa, os voos do Brasil, os voos da África do Sul, os voos de... não foram sujeitos... os voos de Lisboa foram 40 dias depois, apenas os da TAAG, e os da TAP nunca foram sujeitos até hoje. Portanto, aqui está a razão da contaminação nacional.
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