O projecto é encabeçado pela Primeira-dama da República, Ana Dias Lourenço, e recebeu do OGE em execução mais de 2,5 mil milhões de kwanzas. Em Angola, a cobertura de tratamentos de crianças com VIH continua baixa em relação aos adultos e a transmissão vertical (de mãe para filho) é ainda a principal via de infecção de VIH nas crianças. Estes dados são uma prova de que há trabalho a ser feito e que as medidas preventivas da transmissão vertical do VIH podem reduzir as taxas de infecção nas crianças.

É claro que o envolvimento e a participação das mães neste processo são fundamentais. É preciso que elas tenham consciência de que o futuro das crianças não pode ser penalizado por falhas ou erros dos adultos ou mesmo por certas fatalidades da vida. Cada criança tem o direito de nascer livre, de celebrar a vida, crescer saudável e brilhar. É verdade que é um processo complexo. A sua complexidade não está somente do lado do conhecimento e da informação mas sobretudo da aceitação. Existem barreiras estruturais, sociais e psicológicas que precisam de ser derrubadas. Ainda há muito estigma e discriminação em torno do VIH/SIDA. Há tabus e crenças que ainda prevalecem. Mulheres abandonadas pelos companheiros, discriminadas pelas famílias e que vivem uma permanente vergonha social. Ainda há dificuldades na identificação de gestantes seropositivas durante o pré-natal, fazendo com que muitas mulheres cheguem ao parto sem conhecer a sua condição serológica.

A importância do trabalho do Instituto Nacional de Luta contra o Sida e do projecto "Nascer livre para Brilhar" é que já permitem fazer a avaliação do nível de conhecimento da doença pela gestante; informar a eficácia do tratamento e o seu impacto na transmissão vertical e também reforçar a importância da adesão ao tratamento.

Angola tem uma taxa de prevalência do VIH/SIDA de 2% entre pessoas dos 15 aos 49 anos, segundo um dos responsáveis do Instituto Nacional de Luta contra o Sida, sendo que existem no País 128 mil pacientes com a doença. O estigma e o medo do estigma continuam a ser grandes preocupações. Um dos grandes problemas que trago aqui é o da transmissão dolosa. Temos muitas pessoas, de ambos os sexos, que infectam de forma dolosa outros cidadãos. São, na maior parte dos casos, pessoas instruídas, socialmente bem posicionadas e financeiramente estáveis, pessoas conscientes da gravidade da acção, mas que, ainda assim, infectam outros cidadãos. Além da irresponsabilidade, paira neles um sentimento de impunidade, uma "agradável" e macabra sensação de "dividir o mal pelas aldeias".

Assim, é necessário que se comece a criar uma consciência de identificar os casos e responsabilizar os prevaricadores. Nestes casos, a Justiça tem de ser dura e implacável. A sociedade não pode tolerar esses casos, deve, muito pelo contrário, mostrar o seu repúdio. Muitas vidas estão agora condenadas, muitos futuros ficaram adiados por causa de pessoas que, com a contaminação dolosa do VIH/SIDA, impedem outras de viver livres e brilhar.