No advento da Independência, Angola assumiu o ideal pan-africanista sobre a educação, instrumento para o renascimento, como no enunciado de Ki-Zerbo, "educate or perish". Devido ao legado da colonização manifesto na colonialidade, impunha-se, e infelizmente ainda se impõe, à realidade a concepção de um sistema de educação como um projecto de civilização, e logo como um Estado. A ideia de sistema de educação é formalizada em 1978, começando aí o desafio da sua efectivação. Apesar da suposta boa intenção de pessoas supostamente bem-intencionadas, esse sistema padecia de dois "males" crucias na realização da educação.
O primeiro é a instrumentalização da educação para um projecto ideológico de grupo. Com o ideal do "homem novo", a educação é posta ao serviço da alienação das pessoas para a ideologia do projecto "Marxista-Leninista" nas relações sociais e na gestão das questões públicas. Por outro lado, o sistema continua a reproduzir o ideal colonial de escolas técnicas de artes e ofícios para preparar a mão-de-obra produtiva, uma simples preparação de pessoas para o trabalho. Essa abordagem da educação demarca-se da visão pan-africanista expressa por Amílcar Cabral, segundo o qual a luta pela independência e a autodeterminação são essencialmente culturais. Esse enunciado resume-se no facto de a colonialidade gerada pelo colonialismo buscar aniquilar as civilizações africanas, gerando, assim, pessoas distantes das suas línguas, sistemas de saberes, valores, tecnologias, conhecimento, história, arte, filosofias, etc.
Outro "mal" é o sentido da democratização emprestado à efectivação da educação em Angola. Ao reboque das agendas globais, a democratização ficou resumida ao acesso universal à educação, descurando-se do essencial da democratização, que é o respeito da condição de sujeito das pessoas como humanos históricos que participam dos processos de recriação e criação das culturas. O compromisso de garantir o acesso em nome da melhoria dos indicadores das matrículas suplantou a necessidade de se criar a escola como espaço de superação de poderes totalitários, da negação do outro haja vista o fomento da liberdade e do gozo dos direitos destas na e pela educação. Esse sentido redutor da democratização, se, por um lado, foi favorável ao regime vigente no seu projecto da educação alienadora, por outro, condicionou os processos de uma educação libertadora, que, entre outras missões, sustentaria os processos de superação da colonialidade como factor essencial da afirmação de uma civilização Angolana. A reivindicada crise na Educação nos dias de hoje é o manifesto da ausência de uma educação assente na civilização autóctone. Por isso, o "havemos de voltar" da utopia do poeta ter sido transformado no instrumento político do "resgate dos valores".
Ao pensarmos num ideal de acção da educação, há a necessidade de repensarmos, reeducarmos, reconfigurarmos, mudar os valores equivocados e ensaiar novas rotas em busca da educação da autodeterminação, e com ela o projecto da civilização autóctone como superação das epistemologias da colonialidade presentes no imaginário corrente. Afinal, "cultura é desenvolvimento".