O Brent, vendido em Londres, que determina o valor médio das exportações angolanas, disparou quase 20 por cento assim que os gráficos foram accionados após o fim-de-semana, passando de pouco mais de 61 dólares para 71,95 USD.

Pouco depois, surgiu uma correcção e o barril, cerca das 08:00 de hoje, em Angola, estava a ser transaccionado nos 66,01 USD, mais 9,61 % que no fecho, na sexta-feira, mas os analistas são quase unanimes ao afirmar que se trata de um momento de transição para novas subidas nas próximas horas, quando o real impacto da destruição for integralmente percebido pelos mercados.

Isto, porque os ataques de Sábado, com drones - aparelhos voadores controlados à distância carregados de explosivos - deixaram inutilizada a maior refinaria do mundo, a de Abqaiq, e um dos maiores campos petrolíferos, na Arábia Saudita, levados a cabo por rebeldes Houthis, do Iémen, apoiados pelo Irão, que travam uma guerra com o Governo local apoiado pela vizinha Arábia Saudita, deixaram o gigante produtor mundial sem mais de metade da sua capacidade exportadora, ou seja, menos 5,7 milhões de barris por dia - 5 por cento da actual produção mundial - a chegarem aos mercados.

Pelo meio, outro tipo de tensão está a emergir e pode ser ainda mais grave que esta inesperada situação nos mercados petrolíferos, que é o facto de os Estados Unidos estarem a fazer uma fortíssima pressão sobre o Irão, a quem acusam de estar por detrás destes ataques, apesar de Teerão já ter negado de forma veemente que assim tenha sido e de os ataques terem sido rapidamente reivindicados pelos rebeldes iemenitas.

Num "recado" lançado através da rede social Twitter, o Presidente dos EUA veio dizer que "existe uma razão para acreditar que sabemos quem esteve por detrás destes ataques", sublinhando que os Estados Unidos estão "preparados para responder", embora isso esteja dependente de uma clarificação por parte da Arábia Saudita sobre quem foram os responsáveis, e "em que termos devermos proceder" a seguir.

É todo este contexto efervescente que levou a que o barril de petróleo e tenha subido em tão pouco tempo o mesmo que subiu aquando da Guerra do Golfo em 1991, gerando uma das mais violentas crises petrolíferas de sempre.

O que vai suceder agora é a questão que trespassa os media mundiais, sendo que a continuação dos preços do barril em alta é uma garantia, podendo mesmo, segundo alguns analistas chegar aos 100 USD já esta semana, embora essa possibilidade possa ser relativamente retardada porque os EUA, que possuem os maiores armazenamentos de crude do mundo, a partir das suas Reservas Estratégicas de Petróleo (SPR, na sigla em inglês), como já anunciou o Presidente Donald Trump, estejam dispostos a compensar a perda saudita injectado nos mercados uma parte significativa dos 5,7 mbpd que desapareceram com as explosões.

A diminuir a impetuosidade dos mercados está ainda o facto de a própria Arábia Saudita dispor de reservas suficientes para que o abastecimento dos mercados se mantenha "normal" nos próximos dias, embora a Reuters já tenha noticiado que a reparação da refinaria e as condições de produção do campo atingido vá demorar "várias semanas" e não dias.

Isto significa que o impacto mais profundo destes ataques só se vá começar a sentir quando o abastecimento dos mercados seja efectivamente menor por incapacidade de produção.

Ao mesmo tempo, os especialistas estimam que dos 5.7 mbps que "arderam" nas explosões pelo menos 1 mbpd possa ser reposto pela capacidade existente em alguns dospaíses produtores que tinham baixado a sua produção no âmbito dos acordos de cortes pela Organização de Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e pela Rússia, na denominada OPEP+, como é o caso de Angola, da Nigéria ou ainda do Iraque e também do Irão, sendo que esse último está sujeito às sanções norte-americanas que o impedem de produzir sequer perto do pleno da sua capacidade, que vai até aos 4,5 mbpd, estando actualmente pouco acima do 1,5 mbpd.

Mas essa supressão do défice de oferta não pode ser mantida por muito tempo devido à incapacidade dos países produtores de compensarem a perda, sublinhou, citado pela Reuters, Alan Gelder, da Wood Mackenzie.

Para já, as condenações a estes ataques surgram de todo o mundo, com a necessidade de evitar uma escalada da tensão no Médio Oriente como ponto comum, nomeadamente no que respeita às acusações atiradas contra o Irão que podem despoletar uma crise ainda mais vigorosa devido à histórica animosidade dos sauditas e dos norte-americanos contra Teerão. A China já advertiu os EUA para a necessidade de contenção nas acusações sem provas concretas.

E a confiança é outro dos pilares da economia petrolífera global que pode ter sido atingido de forma severa por estes ataques, porque, ao mesmo tempo que deixam de fora do "pipeline" global mais de metade da produção actual do maior exportador mundial, eles têm ainda como efeito secundáro mostrar toda a fragilidade da infra-estrutura saudita face a ataques perpetrados com aparelhos de relativo baixo custo, como são os drones usados pelos rebeldes houthis.