O optimismo que se pode verificar nos gráficos das grandes bolsas globais, desde as norte-americanas às europeias, a queda na produção nos EUA, que é, ao mesmo tempo, o maior produtor de crude do mundo e a maior economia planetária, ainda por causa das tempestades que obrigaram ao encerramento de dezenas de plataformas no Golfo do México ou ainda a queda significativa dos stocks nos Estados Unidos, além do esperado pelos analistas, são o conjunto de factores que estão a impulsionar o valor do petróleo nos principais mercados internacionais.

O barril de Brent, vendido em Londres, e referente aos contratos de Outubro, estava hoje, cerca das 13:10, a valer 45,85 dólares, mais 0,61% que no fecho da sessão de terça-feira.

O WTI, vendido em Nova Iorque, igualmente para contratos de Outubro, e que é determinante para estabelecer o valor médio do crude consumido nos Estados Unidos da América, à mesma hora, de Luanda, igual em Londres, estava a valorizar 0,50%, para os 42, 97 USD.

Uma das razões mais salientes para este comportamento do petróleo na manhã de hoje, quarta-feira, 04, é a queda de 6,4 milhões de barris na última semana, quando os analistas esperavam uma quebra de apenas 1,9 milhões, ao mesmo tempo que as reservas de gasolina que alimentam as estradas norte-americanas caíram 5,8 milhões de baris, quando era esperada apenas uma desvitalização de 3 milhões, segundo o Instituto Americano do Petróleo citado pela Reuters.

Mas também não é de ignorar, como elemento impulsionador da valorização dos mercados petrolíferos, os bons indicadores para a economia norte-americana, e também na Europa, levando os investidores a deixar as apostas mais seguras como no ouro para os mais voláteis mercados bolsistas.

Em pano de fundo para esta recuperação da matéria-prima está ainda e sempre o esforço em curso da OPEP+, organização que agrega os Países Exportadores (OPEP), que inclui Angola, e um grupo de 10 não-membros liderados pela Rússia, que estabeleceram um plano de cortes que já vem de Junho, onde a produção foi cortada em 9,7 milhões de barris por dia, 01 de Agosto, data em que estes cortes desceram para 7,7 milhões barris por dia.

Angola, uma das economias mais dependentes das suas exportações de crude, e um dos países mais atingidos pela crise gerada pela pandemia da Covid-19, viu a sua produção cair abruptamente para cerca de 1,24 milhões de barris por dia (mbpd) quando, antes desta crise, estava acima dos 1,45 mbpd.

E, de acordo com dados fornecidos pelo "cartel", esta poderá diminuir ainda mais porque o País vai ser "obrigado" a compensar, entre Setembro e Novembro, com cortes mais profundos o facto de não ter cumprido com a quota previamente estabelecida nos meses de Junho e Julho.

BP em grande, apesar dos riscos

Mas também há notícias menos dramáticas para Angola, como é o caso da que dá conta, através de um comunicado enviado pelo gabinete de comunicação da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG) a dar conta de que o gigante britânico BP tem plano de manter a aposta no offshoe nacional, depois de a sua presença no País ter sido considerada tremida.

Desde logo porque o FPSO Grande Plutónio (unidade flutuante de produção, tratamento e armazenamento de crude em alto mar), operado pela BP em parceria com a Sinopec, já produziu 600 milhões de barris de petróleo desde que está a operar, há cerca de 13 anos.

Apesar de a pandemia ter criado dificuldades que, como o Novo Jornal avançou em Junho, esta multinacional estava a rever as suas estimativas e acaba de reduzir o seu Outlook de 70 USD para os 55 por barril no longo termo, o que colocava em risco os seus investimentos nas águas profundas angolanas, onde tem "assets" no valor em torno dos 1,5 mil milhões de dólares.

Isso deveria segundo adiantava então a Reuters, levar a pesados ajustamentos da BP em águas nacionais angolanas, com diminuição da actividade devido ao elevado breakeven, que é superior aos 45 USD por barril.

A BP está presente em quatro blocos marítimos em águas ultraprofundas localizados a cerca de 200 quilómetros ao largo de Luanda, segundo a sua página oficial, não havendo indícios de que nas outras áreas onde tem presença, como, por exemplo, na unidade de produção LNG do Soyo ou noutros blocos

Como avança agora esta nota da ANPG, citando Adriano Bastos, vice-presidente da BP Angola, para alcançar resultados relevantes "é fundamental a aposta continuada no trabalho de equipa, na formação, na segurança em todos os trabalhos em Angola"

"Esta aposta será tanto mais bem sucedida se for feita em conjunto com a ANPG (concessionária), com a Sinopec Angola e com todas as companhias que nos prestam serviços. É o compromisso e a colaboração de todos que acrescenta valor ao nosso trabalho. Estou confiante que a resiliência da nossa equipa em Angola continuará a acrescentar valor para o país e para a BP", disse ainda o responsável citado pelo comunicado da ANPG.

Por seu lado, o presidente da ANPG recorda a importância que assume "o papel desempenhado pelas empresas que garantem a actualização e inovação do sector petrolífero angolano, assim como as que trabalham para que os trabalhadores desempenhem as suas funções em segurança e com maiores índices de rentabilidade".