No "tweet", que Donald Trump publicou a 25 deste mês, dizia à OPEP para "relaxar" na pressão sobre a matéria-prima porque o preço do crude está "muito alto" e que é melhor "ir com calma" porque "o mundo não suporta uma escalada" na valorização do barril.

Na verdade, isto não é nada de novo, porque as tentativas de Trump para pressionar em baixa o petróleo são antigas, ou, pelo menos, tão antigas quanto a sua Presidência de cerca de dois anos, tendo o ponto alto dessa pressão ocorrido em Julho de 2018, quando conseguiu chantagear a Arábia Saudita por causa do polémico caso da morte do jornalista saudita Jamal Kashoggi levando este país a injectar no mercado mais um milhão de barris por dia para, com sucesso, provocar uma queda do "ouro negro" nos mercados.

Só que... a OPEP, em conjunto com os seus aliados estratégicos dos últimos dois anos, liderados pela Rússia, rapidamente recuperou os comandos da máquina global de controlo do preço do barril de crude, com novos cortes, incluindo da Arábia Saudita, que foi, inclusive, mais longe do que aquilo com que se comprometera, obrigando isso a uma nova escalada em alta do petróleo, que voltou do barril a raiar a marca dos 50 USD para os actuais 65 dólares.

E, como se não bastasse, Donald Trump acaba de ter dois movimentos na arena internacional que estão a mexer ainda mais com o mercado do petróleo: o primeiro e mais importante foi o retomar das negociações com a China para encontrar uma saída para a guerra comercial que as duas maiores economias mundiais travam há cerca de um ano.

A segunda é o regresso das cimeiras com o seu homólogo da Coreia do Norte, Kim Jong un, com vista à desnuclearização da Península Coreana, eivada de sucesso e com a previsível pacificação de uma das mais escaldantes regiões do globo, o que é uma espécie de anabolizante para a economia da região e do mundo, não fosse aquela a geografia de influência do Japão, da Coreia do Sul, da China e da Rússia.

Sobre o esperado "tratado de paz" com Pequim para acabar com a guerra das taxas alfandegárias com que Pequim e Washington se têm ferido mutuamente, Trump já veio dizer que está tudo a correr bem entre as delegações, prevendo-se que os mais de 250 mil milhões de USD de taxas atiradas contra as exportações chinesas pelos EUA e os pelo menos 50 mil milhões envolvidos no contra-ataque de Pequim, possam, progressivamente, ser retiradas.

Isto, como era de esperar, está a galvanizar os mercados e os analistas prevêem já um novo impulso para a economia global, que vinha a sofrer algumas enxaquecas por causa deste excesso de taxas, apontando para novas prováveis subidas no valor do petróleo nos mercados internacionais, como é o caso do Brent londrino, que molda o valor das exportações angolanas, onde o barril chegou mesmo, esta semana, a estar a escassos 30 cêntimos de dólar dos 68 USD por barril, o valor com que o Governo elaborou o OGE 2019 e que, graças às quedas do final de 2018, se viu obrigado a admitir a sua revisão.

Com esta realidade cada vez mais evidente, e com Trump a não recusar elogios aos "substanciais progressos" das negociações sobre a guerra comercial com a China, que devem estar concluídas ainda esta semana, a 01 de Março, está eliminado um dos maiores entraves a uma recuperação forte do valor do barril, que, recorde-se, depois das quedas brutais de meados de 2014, quando valia mais de 100 USD, passou para menos de 30 USD por barril no arranque de 2016.

A par desta realidade, as reservas das grandes economias têm vindo a ceder, como sucede às norte-americanas, com o Instituto Americano do Petróleo a revelar que a última semana ficou marcada por uma descida dos stocks em cerca de 4,2 milhões de barris, facto que, normalmente, pressiona em alta o valor do barril tanto no Brent de Londres como no WTI nova-iorquino.

E, para Angola, as notícias são bastante animadoras, até porque na semana passada, apesar de se ter observado uma derrapagem entre 4ª e 5ª feira, o barril em Londres chegou a estar a menos de 30 cêntimos de dólar dos 68 dólares com que o Governo de João Lourenço elaborou o seu OGE para o ano em curso.

Hoje, com a abertura dos mercados em ligeira alta, o barril está a valor - cerca das 09:30 - 65,70 USD, mostrando uma subida em relação ao fecho de terça-feira de 0,50%, com, todavia, os mais importantes sites especializados no negócio do crude a apontar para a ocorrência de um conjunto sólido de factores que deverão, nos próximos dias e semanas, empurrar o barril para valores próximos dos 70 USD em Londres.

Paralelamente a este cenário promissor, na perspectiva dos países exportadores, como é o caso de Angola, corre ainda uma grave crise na Venezuela, igualmente membro da OPEP, e detentor das maiores reservas mundiais de petróleo, sendo que a sua produção tem vindo a decair ano após ano, a ponto de ser hoje uma sombra do que foi no passado, passando de uma produção de quase 3 milhões de barris por dia há 10 anos para pouco mais de 1 milhão nos dias que correm.

Contra esta subida benigna para a parte que produz, está a parte do mundo que olha para esta realidade com outros interesses, é o caso das economias importadoras, como a chinesa, mas, mais importante pela forte influência que exercem, os EUA, onde o Presidente Donald Trump vai a eleições para renovar o seu mandato em 2020 e um dos factores decisivos para os eleitores, numa sociedade como a norte-americana, de hiperconsumo, é o preço dos combustíveis.

Donald Trump já mostrou do que é capaz e está disponível para fazer quando, em meados de 2018, usou o caso Kashoggi para obrigar os sauditas a produzir mais para baixar o preço, por causa das eleições intercalares para o Congresso, sendo previsível que, para as eleições onde está em causa a sua continuidade na Presidência, esta questão volte a ser central para a sua Administração que, como se sabe, tem apostado em aumentar a produção interna, o que levou os EUA a ultrapassarem a Arábia Saudita como, circunstancialmente, produtores de petróleo, com 12 milhões de barris por dia.