Com estas declarações, António Guterres está claramente a exigir ao Governo do Presidente Joseph Kabila que não volte a recorrer a expedientes para voltar a protelar a realização das eleições que vão determinar a sua saída do poder porque não se poderá recandidatar a um terceiro mandato, conforme estipula a Constituição.

As eleições na RDC foram adiadas por duas vezes, a primeira, num contexto de grande violência entre manifestantes da oposição e forças policiais, em finais de 2016, e, depois, em finais de 2017, quando foram remarcadas de acordo com um documento assinado entre a Maioria Presidencial do Chefe de Estado e a plataforma de partidos da oposição, num processo mediado pela igreja católica.

Nestas declarações, proferidas aos microfones da RFI, Guterres reagia à acusação feita pelo Presidente Kabila à missão da ONU na RDC, a MONUSCO, a mais cara missão de paz que a organização tem em todo o mundo, de que esta estaria a violar o acordo que a permitiu entre a RDC e as Nações Unidas, nomeadamente a alegada violação dos contornos do acordo onde a MONUSCO estaria aquém do que estava inicialmente previsto, nomeadamente na contenção armadas das guerrilhas, apontando que nenhuma foi neutralizada, além do estabelecido na intromissão em questões de foro estrito da polícia nacional.

Sobre estas acusações, que Kabila utiliza para criar nova frente de instabilidade no país para lhe permitir, mais uma vez, através de expedientes, eventualmente avoltar a adiar a ida às urnas e, assim, manter-se no poder.

Mas a resposta de Guterres foi clara ao reafirmar a determinação da MONUSCO em cumprir a sua missão, sublinhando que o que importa "é que sejam realizadas eleições até finais deste ano, que a Constituição seja respeitada", reafirmando que a ONU "fará o seu melhor trabalho, de forma leal e aberta" para que assim aconteça.

António Guterres exigiu ainda que sejam dados os passos previstos para o realinhamento da RDC com a estabilidade política, como seja a libertação de presos políticos e que o acordo de 31 de Dezembro de 2016 seja igualmente cumprido no que diz respeito à co-gestão política do país entre o partido de Kabila e a oposição, no âmbito do Governo de transição então formado mas que pouco ou nada se sujeita a ouvir a oposição, apesar de alguns dos seus membros tenham sido cooptados no seu seio.

A instabilidade na RDC, recorde-se, está espalhada por todas as 26 províncias do país mas com especial enfoque no Leste (Kivu Norte e Sul), por causa das guerrilhas oriundas do Ruanda e do Uganda, a ADF e FDLR, grupos armados de origem interna, como o M-23 ou ainda as milícias dispersas por várias outras regiões, como é o caso dos Kasai, porb causa dos homens do Kamwina Nsapu (Chefe tradicional) local, que geraram os mais de 30 mil refugiados na Lunda Norte (Angola).

Joseph Kabila tem usado esta instabilidade para alimentar o jogo do adiamento das eleições, como, de resto, foi disso mesmo acusado por várias figuras proeminentes da política, da economia e da sociedade congolesa.