Para Brasília viajaram 11 dos 17 ministros portugueses, incluindo Paulo Rangel (Negócios Estrangeiros), Nuno Melo (Defesa) e Pedro Reis (Economia), com a missão de fortalecer a cooperação entre os dois países. Foram assinados acordos nas áreas da saúde, energia, engenharia, biologia, cultura e agricultura, envolvendo diversos ministérios, agências e instituições brasileiras e portuguesas.

"Esta 14.ª Cimeira inaugura uma temporada intensa para a política externa brasileira neste ano. Receber o primeiro-ministro Luís Montenegro é a melhor forma de celebrarmos os 200 anos de parceria e da "mais perfeita amizade" que completamos em 2025", destacou Lula, ao frisar que o encontro marca o início das celebrações do bicentenário das relações entre os dois países.

"Como primeiro-ministro de Portugal, quero assegurar aos brasileiros, ao Presidente da República, aos membros do Governo do Brasil que nós, em Portugal, temos uma relação de perfeita articulação com os brasileiros que escolheram viver em Portugal. São, efectivamente, a maior comunidade de imigrantes que temos no nosso país e, por isso mesmo, aquela que está mais bem integrada, porque, senão, não era tão grande", resumiu o premiê tuga. "Por isso, foram muito importantes os acordos que nós subscrevemos ao nível da justiça, das políticas migratórias, da troca de informações, das políticas sociais que estão associadas também à qualidade de vida das comunidades", reforçou Luís Montenegro.

Durante o encontro de 19 de Fevereiro, ao qual se seguiu o Fórum Empresarial Brasil-Portugal em São Paulo, foram feitos vários anúncios bilaterais, como a criação do escritório de cooperação do Ministério das Relações Exteriores do Brasil em Portugal e a instalação de um escritório da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX-Brasil), ambos em Lisboa.

Foi confirmada, ainda, a compra de aeronaves Embraer EMB 314 pela Força Aérea Portuguesa e anunciada a parceria entre a Indústria Aeronáutica de Portugal e a Embraer. À reunião plenária da cimeira, que ocorreu no Palácio do Planalto, seguiram-se, ao longo de três horas, várias reuniões sectoriais em paralelo. Os instrumentos aprovados pelos governantes dos dois países respondem a preocupações relacionadas com o combate ao crime internacional e terrorismo, com a protecção de informação classificada, com, entre outros, nas já referidas áreas da saúde, ciência, justiça, tecnologia e segurança pública.

A órbita da cooperação Luso-Brasileira não se limita à data da celebração da amizade entre os dois países. A relação, para além de antiga, é dinâmica, a considerar outros eventos, de índole diversa, postos em marcha. O mais recente, só para dar exemplo, foi a Brasil Origem Week, a feira de negócios que decorreu no Porto, em Junho do ano passado, mostrando a integração de brasileiros e portugueses (a irmandade lusófona ao rubro). Uma relação em que ambos os países ganham.

A 1.ª edição do evento visou promover negócios de portugueses no Brasil e vice-versa. E muito mais. A programação foi idealizada para unir outros aspectos, como a gastronomia, apresentações culturais, desfiles de moda com marcas brasileiras e fóruns de discussões. Exposições de arte e de fotografia completaram a parte artística do evento. A organização tem na agenda o lançamento da edição 2025, que será de grande impacto para a comunidade, prevê-se.

Brasil e Portugal inserem-se numa dinâmica de acordos e põem em marcha um conjunto de acções estratégicas nos vários domínios da vida social e económica dos dois países. Certamente, esta forma de cooperação deve servir como ummmodelo para os demais países da CPLP, cultivando maior representatividade entre os vários estados-membros. A parceria Luso-Brasileira demonstra como a colaboração contínua pode fortalecer a comunidade lusófona e promover o desenvolvimento conjunto.

Embora a relação entre os dois países seja anterior à criação da CPLP, recomenda-se dinâmica de integração dos estados CPLP, partindo do quadro bilateral para o multilateral (tirando partido do facto de o Brasil e Portugal terem as economias mais desenvolvidas), observando um dos objectivos gerais na base da criação da organização: "A cooperação em todos os domínios, inclusive os da educação, saúde, ciência e tecnologia, defesa, oceanos e assuntos do mar, agricultura, segurança alimentar, administração pública, comunicações, justiça, segurança pública, economia, comércio, cultura, desporto e comunicação social" como se lê nos estatutos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.

Os países membros da CPLP - Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Guiné Equatorial - possuem uma base comum de língua (excepto a Guiné Equatorial), cultura e história que pode ser um grande diferencial na criação de um espaço de cooperação e solidariedade multilateral. Para dinamizar as relações multilaterais, os 9 estados-membros podem focar em áreas essenciais como educação, ciência e tecnologia, onde a partilha de conhecimentos e experiências pode impulsionar o desenvolvimento conjunto. Aspectos salvaguardados nos estatutos da organização.

Para além disso, a cooperação pode ser estendida a outros domínios como da sustentabilidade ambiental e das energias renováveis. A implementação de projectos conjuntos nestas áreas pode melhorar a qualidade de vida das populações e fortalecer os laços entre os países membros. A promoção de intercâmbios culturais e económicos, bem como a facilitação do comércio e investimento, são igualmente fundamentais para criar uma comunidade mais integrada e próspera.

*Mestre em Linguística pela Universidade Agostinho Neto