Os prejuízos sentidos pela Lucapa, que apostou quase tudo na sua mina "especial" do Lulo, de onde, recorde-se, saíram quase todos os dez maiores diamantes alguma vez produzidos em Angola, são resultado directo dos problemas laborais na sua mina da Lunda Norte.

Além dos bloqueios gerados por desentendimentos com as populações locais, o Lulo sofreu com inundações repentinas, dificultando a movimentação de terras nas zonas de aluvião, que é de onde saem os gigantes que deram fama global a esta mina.

Especialmente o maior de sempre extraído em Angola, com 404 quilates, em 2016, que valeu à empresa 16 milhões de dólares e foi, então, comprado pela De Grisogono, a joalheira suíça que foi de Isabel dos Santos, que fez dele uma jóia rara que valeu em leilão 34 milhões USD.

Mas os resultados negativos de 2024 são ainda fruto da queda generalizada do preço dos diamantes, o que se tem vindo a evidenciar ano após ano, temendo mesmo alguns analistas uma crise profunda no sector.

E isso fica claramente demonstrado nas perdas de 1,5 milhões USD da Lucapa Diamond Company, a australiana que explora o Lulo com a Endiama e com a Rosa & Pétalas, e que tem nesta mina o seu grande activo, onde reinvestiu estrategicamente há um ano depois de vender uma mina no Lesotho, Mothae, que lhe fornecera igualmente algumas pedras de grande qualidade e dimensão.

As razões apresentadas para estes maus resultados pela cotada australiana são a baixa dos preços, as disrupções na produção e as más condições de mercado, que são consequência directa das inundações, dos bloqueios e da incerteza geopolítica e económica globais, que pressionaram, e ainda pressionam, os preços em baixa.

Apesar disso, como refere a empresa em comunicado, a Lucapa produziu mais de 25 mil quilates em 2024, na sua mina do Lulo, com um volume de vendas de mais de 27 mil, a um preço médio por quilate de 1980 USD, contando com cinco pedras com mais de 100 quilates.

Este cenário de fragilidade no negócio global dos diamantes encaixa com o que se passou em Angola, como ficou demonstrado pelos resultados anunciados já este ano pela ENDIAMA no que toca a 2024.

A Empresa Nacional de Diamantes de Angola (ENDIMA) teve, em 2024, a maior produção de diamantes de sempre chegando aos 14 milhões de quilates, mas, devido à crise no sector, vendou menos que em 2023 e apenas arrecadou 1,4 mil milhões de dólares.

A ENDIAMA fez notar, em meados de Janeiro último, que o mercado diamantífero atravessa uma crise, tendo, por isso, vendido menos que o esperado e tem em "stock" por vender, mais de três milhões de diamantes, durante a apresentação dos dados definitivos do sector referentes ao ano de 2024, apresentados pelo presidente do conselho de administração da diamantífera angolana, Ganga Júnior.

Segundo o PCA da ENDIAMA, a produção até ao ano de 2023 rondava, em média dos últimos anos os 9,5 milhões de quilates, mas, de forma excepcional, no ano passado atingiu os 14 milhões, sem que isso tenha servido para aumentar o valor das receitas, tendo mesmo sofrido uma redução de 1,5 milhões para 1,4 milhões de dólares.

Isto, porque os preços dos diamantes angolanos ficaram 55% abaixo do planificado em 2024, assegurou o responsável, o que deixa perceber que a trajectória do sector em Angola (ver links em baixo) sofreu um abalo face aos objectivos.

Segundo Ganga Júnior, apesar das dificuldades, a ENDIAMA mantém-se firme e tem sabido honrar os seus compromissos administrativos e sociais.

Ainda assim, o subsector dos diamantes contou com mais de 28 mil postos de trabalho no ano passado, mais quatro mil comparativamente ao ano de 2023. Mantendo a perspectiva de, até 2027, ter um aumento para os 35 mil postos de trabalho.

Apesar da complexidade da situação gerada pela crise internacional neste sector, a ENDIAMA quer continuar a produzir e perspectiva arrecadar em 2025 receitas para os cofres do Estado acima dos 2 mil milhões USD.

Segundo os dados da diamantífera, as minas de Catoca e Luele são as que mais produziram diamantes em 2024.