Há muito que temos defendido que um diálogo franco, aberto, abrangente, plural e ao mais alto nível era fundamental para se encontrarem soluções para a juventude e o País. Combate à corrupção, diversificação e crescimento da economia, afirmação do Estado de Direito, recuperação e repatriamento de capitais, renovação geracional, afirmação da diplomacia económica e projecção de Angola como potência regional foram algumas bandeiras apresentadas por João Lourenço para o seu programa de governação (2017-2022). Passaram a ser essas as suas prioridades e o seu foco, mas a crise económica associada à Covid-19 baralharam as contas, atirando o desemprego na juventude para níveis nunca antes atingidos, provocando um descontentamento no seio da mesma, criando também em Angola a geração dos "nem-nem", ou seja, jovens que não estudam nem trabalham, tornando-se num perfeito retracto de uma geração esquecida e sem rumo; jovens que de geração rasca passaram a fazer parte de uma geração à rasca.

"Soares é fixe" é até hoje considerado um dos mais originais e simbólicos slogans de uma campanha presidencial em Portugal. O slogan pretendia aproximar o candidato do Partido Socialista (PS) às camadas mais jovens do eleitorado. Mário Soares versus Freitas do Amaral, nas eleições mais disputadas de sempre da história da democracia portuguesa (1986), que obrigariam a uma segunda volta em que Mário Soares viria alcançar 51,2% da votação contra os 48,8% de Freitas do Amaral. Mário Soares tornou-se 16.º Presidente de Portugal e o primeiro Presidente civil em democracia. Era mais velho de Freitas do Amaral, mas a sua campanha surgiu com uma mensagem muito mais jovem e bem dirigida à juventude.

O gosto do risco e do desafio e o espírito de combate de Soares abriram caminho para uma nova forma de estar na política. Esta forma de aproximação de Mário Soares à juventude, através de uma comunicação frontal, aberta, pouco formal, fluída e evoluída, foi apreciada e acolhida pelos jovens, acabando por fazer a diferença. A mensagem de um "kota fixe", que os abordava e que se interessava pelos jovens e pelos seus problemas, acabou mobilizando os jovens e ajudou-o a conquistar o poder. Num Portugal já bastante envelhecido, foi para os jovens que ele direccionou o seu discurso. Reverteu o cenário desfavorável que tinha e fez uma campanha memorável. Dialogou com eles, ouviu os seus anseios e receios, viveu e geriu as suas emoções, partilhou com eles as responsabilidades que tinham na construção da Nação, fez deles parte da solução, não deixando de lhes mostrar as dificuldades e os problemas. Foi conciliador, foi humano, foi fixe.

"(...) Neste âmbito, importa salientar o papel reservado à juventude, a única força motriz capaz de vencer todos os desafios. É importante que se aprofunde a qualidade da sua educação, no plano técnico e cultural, para que a sua formação específica não deixe de levar em conta o contributo dos grandes homens das diferentes culturas e civilizações que, ao longo dos séculos, nos ajudaram a compreender e a amar o mundo e os nossos semelhantes. É com esperança no empenho dessa juventude que mantenho o optimismo e continuo a acreditar que podemos legar um mundo melhor aos nossos descendentes", disse João Lourenço, no seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, no dia 24 de Setembro de 2019.

A inclusão da juventude nos seus discursos e nas políticas do seu Executivo é importante e crucial para a sua governação. João Lourenço sabe disso. A inclusão de quadros jovens com funções relevantes no seu Executivo, nos quadros da Cidade Alta, é um sinal bastante revelador de uma estratégia de governação que passa pela juventude através da renovação geracional em curso. Ainda assim, é preciso perceber as novas dinâmicas sociais e culturais da juventude, é preciso renovar/actualizar o discurso para e com a juventude. É esta geração que, não encontrando espaço ou liberdade no seio das instituições para dialogar, acaba por encontrar nas ruas o palco para se expressar.

Será nesta abertura e exercício permanente do diálogo que se vai perceber as ideias, as dificuldades, o conceito e ideais de Nação dos jovens. É neste exercício que se pode promover o respeito e a valorização das instituições. São estes exercícios que permitem também indagar os jovens sobre o que esperam da Pátria e dos governantes. JLo é fixe? É uma das questões que podem ser feitas aos jovens e deixarmo-nos surpreender com as respostas, pois, muitas vezes, perguntar é mais difícil do que responder.

"A governação dos povos tem sempre presente a marca dos governantes", Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de Portugal.