"Procurarei repor a verdade dos factos e lutar através dos tribunais internacionais para defender o meu bom nome", pode ler-se num comunicado divulgado nas últimas horas e na sequência da publicação das primeiras revelações do dossier já conhecido como "Luanda Leaks".

A empresária diz que mais de 700 mil documentos foram ilegalmente pirateados dos seus escritórios há sete meses "e transferidos para uma organização pouco conhecida sediada em Paris, de onde foram enviados para o ICIJ".

A organização a que a empresária se refere como "pouco conhecida" é a Plataforma para Protecção dos Denunciantes Anónimos em África, criada há cerca de dois anos, tendo já muito trabalho de campo realizado, com o objectivo de desmascarar as cleptocracias no continente, e que enviou todos os documentos ao ICIJ.

No comunicado, em que critica o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ), responsável pelo tratamento e divulgação do caso Luanda Leaks, Isabel dos Santos queixa-se também de ilegalidades. Para a antiga Presidente do Conselho de Administração da Sonangol, o ICIJ esteve "meses e meses" a examinar "supostas provas", mas baseou-se "em nada mais do que suposições".

"O ICIJ afirma que os negócios que construí e os investimentos que fiz foram à conta dos angolanos. Mais uma vez, uma alegação extremamente séria e ainda assim nenhuma das supostas 'provas' comprovam isto", imputa a empresária.

No comunicado, Isabel dos Santos afirma que o conteúdo do Luanda Leaks não passa de um "ataque político orquestrado" para a "neutralizar".

"As alegações que estão a ser feitas contra a minha pessoa são completamente infundadas. Em nenhuma parte dos documentos divulgados foi demonstrado qualquer comportamento ilegal da minha parte ou das minhas empresas", afirma.

Isabel dos Santos diz que sempre trabalhou "dentro da lei" e que todas as suas "transacções comerciais foram aprovadas por advogados, bancos, auditores e reguladores". E acrescenta: " Em momento algum o ICIJ tentou sequer provar que os meus esforços comerciais foram feitos à custa dos angolanos, porque não conseguem aferir isso."

"Em vez disso, focam em aspectos individuais e privados e transacções comerciais são seleccionadas e reportadas de forma selectiva e tendenciosa de forma a inserirem-se na narrativa pré-construída do ICIJ, organização que está a ser usada como representante numa luta para neutralizar adversários políticos e vozes alternativas", pode ainda ler-se no comunicado.

A empresária volta, nesta nota às redacções, a repetir que isto não passa de uma campanha "puramente política" contra si, e aponta os holofotes para o Governo de Angola, dizendo que "muitas pessoas estão preocupadas com a capacidade do actual governo angolano em gerir as prioridades políticas".

"O meu país, Angola, irá enfrentar reeleições do partido no poder no próximo ano e esta é uma táctica de diversão e de tentativa de neutralizar diferentes vozes e outras opiniões políticas", defende.

No documento, Isabel dos Santos declara que "a falta do uso isento da lei e da Constituição nacional tem enfraquecido Angola", para depois afirmar que o País tem assistido "ao empobrecimento de uma classe média que antes estava em crescimento e à destruição da economia privada com uma política económica desalinhada".

"Precisamos de empregos já, especialmente para os nossos jovens, de um verdadeiro plano para a economia e de uma meritocracia onde a competência venha antes da amizade. Tudo farei para alcançar estes objectivos para o meu país", diz ainda Isabel dos Santos, que lança a pergunta: "Quem beneficia do crime de obtenção ilegal destes documentos?".

No domingo, o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ), que integra vários órgãos de comunicação social, começou a revelar o resultado da investigação de mais de 700 mil ficheiros do caso Luanda Leaks, que põe a descoberto todos os esquemas que permitiram a Isabel dos Santos reunir uma das maiores fortunas de África. O seu marido Sindika Dokolo, e os seus mais próximos colaboradores, são igualmente referenciados nesta investigação.

Desde então, Isabel dos Santos tem estado no epicentro de um furacão que promete ter efeitos devastadores sobre as empresas da filha do ex-Chefe de Estado angolano e danos reputacionais irreversíveis para a mulher que contruíu uma imagem pública de empresária que subiu a pulso.

Desde Domingo já várias foram as consequências da publicação do Luanda Leaks, com a comunidade internacional a começar a apertar o cerco contra Isabel dos Santos.

Ao fim da manhã de segunda-feira, o nome de Isabel dos Santos foi retirado da lista de participantes da cimeira de Davos, que esta terça-feira reúne no Fórum Económico Mundial, o encontro anual de líderes políticos e de negócios.

Também a PWC se afastou de entidades controladas por membros da família dos Santos, depois de a investigação do ICIJ , denominada Luanda Leaks, ter tornado pública a imensa teia de esquemas que permitiu que a filha do ex-Presidente da República de Angola se tornasse uma das mulheres mais ricas do mundo.

Ao fim da tarde, foi a vez do banco EuroBic emitir um comunicado em que anuncia a decisão de "encerrar a relação comercial com entidades controladas pelo universo de Isabel dos Santos e pessoas estreitamente relacionadas com a mesma", na sequência de um pedido apresentado pelo Banco de Portugal.

Esta manhã, foi a vez da portuguesa SONAE, face às notícias veiculadas nos últimos dias em diversos órgãos de comunicação social sob a designação "Luanda Leaks", comunicar "que está a acompanhar a situação com atenção e preocupação sobretudo dadas as alusões feitas a vários membros não executivos do Conselho de Administração da sua participada NOS".

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