"Vi a morte à frente dos olhos", sussurra ao telefone Luzia Banzuzi. "Quando falo no caminho da floresta à minha filha pequena, entra em pânico e começa a gritar", exclama "Ana". "Sempre que nos lembrávamos de Angola, lá no meio da floresta, chorávamos todos juntos. Mas Angola já não dá para ninguém, por isso me vim embora", corta "João".

"João", "Ana" (nomes fictícios) e Luzia são angolanos. Saíram de Luanda numa rota de mais de 35 mil quilómetros pela América do Sul e América Central, rumo aos Estados Unidos ou ao Canadá. A pé, de autocarro e de barco, cruzaram nove países. Arriscaram a vida nas matas onde se escondem ladrões, violadores, assassinos, narcos e traficantes de pessoas. Fugiram da polícia, foram agarrados e acabaram em centros de detenção sobrelotados e pestilentos.

Os angolanos que o NJ encontrou na fronteira sul do México (ou com quem falou mais tarde) são alguns dos 1153 cidadãos nacionais que, entre 2014 e Dezembro do ano passado, sobreviveram à maior parte desta rota para o norte. O número é do Instituto Nacional de Migração do México e não contempla os que escaparam ao controlo das autoridades do país.

As datas coincidem. Em 2014, quando os angolanos começaram a chegar ao México em maior número, o barril de petróleo tropeçou para metade do preço no mercado internacional e submergiu Angola numa crise profunda. Os bolsos altamente dependente das reservas petrolíferas começaram-se a esvaziar. Depois de anos de perdas, em 2019 a dívida pública atinge os 111% do PIB e o crescimento será negativo (-1,1%), prevê o Fundo Monetário Internacional - o mesmo que, em Junho deste ano, emprestou 3,7 mil milhões de dólares a Angola.

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O desemprego é apenas uma das consequências desta crise que golpeia pessoas reais como João e Ana. Entre Julho e Setembro deste ano, 300 mil angolanos perderam o emprego, nas contas do Instituto Nacional de Estatísticas. 30% é a taxa de desemprego no país com índices de pobreza superiores a 50% da população, segundo as Nações Unidas.

Sem alternativas, e fustigados pelo que dizem ser a crescente onda de insegurança no país, centenas de angolanos caminham agora lado-a-lado para os Estados Unidos com milhares de africanos, asiáticos, cubanos e haitianos ameaçados pela pobreza, pela guerra e pela perseguição política. A chamada "rota africana" rumo ao "sonho americano" parte em silêncio de Quito, no Equador, América acima.

"Cada um faz a sua sorte", acredita Ana. Verdade ou não, o certo é que o desfecho não é igual para todos. Há os que chegam, os que desaparecem e os mortos sem cara nem história para contar. São angolanos e ficaram pelo caminho, afogados no mar Caribe. Estão enterrados em campas com cruzes de pau. São os invisíveis.

As makas de Luanda

A voz de Luzia é suave mas enfática. Está ao telefone à porta da sua casa, em Austin, Texas. Cada vinte ou trinta minutos, turbinas de aviões, escandalosas, ensurdecem a chamada. "Vivo ao lado do aeroporto", justifica.

Numa conversa demorada noite adentro conta como tudo começou. "Sou Luzia Banzuzi, tenho 41 anos. Na guerra de 1992, eu e a minha família fugimos do Uíge para Luanda e vivi lá até começar esta viagem no ano passado." Foi comerciante desde pequena. Vendeu gasosa e peixe no mercado dos Kwanzas e "cigarros na bancada". Já adulta, a viver no Zango, montou um negócio de comida, uma cantina e uma farmácia. Comprou terreno sozinha e, com o marido, duas casas.

Tinha quatro filhos. A mais pequena morreu aos cinco anos por complicações de uma cirurgia. Com o primeiro marido viveu 22 anos, mas as coisas não correram bem. "Ele perdeu o trabalho que tinha no Porto de Luanda e ficava furioso quando me via contar o dinheiro em casa, não admitia que fosse eu a sustentar a família". Acusou-a de o ter enfeitiçado "para que perdesse o emprego". Em 2015, trocou-a por outra mulher e proibiu-a de entrar em casa. Luzia aguentou os maus humores por uns tempos, mas acabou por refugiar-se na casa do irmão com os filhos.

Avançamos até 2018. Luzia tem agora outro companheiro e o "ex" faz-lhe vida negra. "Dizia que preferia ver-me morta a ver-me com outro homem, e que ele era o meu marido de sofrimento". Na nova relação, o azar também lhe bateu à porta. "A pessoa com quem eu estava dizia que eu lhe mentia, porque na cabeça dele eu ainda tinha alguma coisa com o meu "ex"." Estava encurralada num jogo de ciúmes, ameaças e acusações. Uma típica história de Luanda.

Farta das agressões, decidiu "desaparecer" por uns tempos. "Um dia, visitei uma prima no Cassequel e contou-me que uma amiga levava roupa para Cuba e eu pensei: por que não?". Sem hesitar, vendeu um terreno que tinha "à beira da estrada do Zango" e comprou mercadoria. Poucos dias antes da viagem soube que estava grávida de três meses. "Não disse nada a ninguém". Deixou os homens para trás e os três filhos com uma tia a quem chama de mãe. A 22 de Maio de 2018 chegava a Havana. Estava, sem saber, num ponto sem retorno que quase lhe custaria a vida.

Um país chamado Equador

Do outro lado do mar e afastada das makas de "homens malucos", Luzia encontrou espaço para respirar e fazer o que melhor sabe: vender. "Estava na casa de um moço de Brazzaville que me ajudou a fazer negócio lá em Havana", quando "chegou uma moça angolana com três crianças". "Ela também vendia roupa, trazia quatro malas cheias. Ia para o Equador e começou a convencer-me para ir lá também. Dizia que pagavam em dólares, que lá tinha trabalho, que as pessoas viviam bem e que ia fazer um bom dinheiro". A ideia era tão atraente como inesperada. "Eu nem sabia que havia um país chamado Equador! De Equador só sabia que havia uma província lá no Congo-Kinshasa com esse nome. Então ela disse-me: "Não, este Equador é um país mesmo, fica na América"".

O visto de Cuba estava válido por mais um mês. Era suficiente para ir, fazer bom negócio e voltar a tempo de embarcar para Angola. "Eu pensei: estou separada, já não tenho casa nem terreno em Luanda, o papá do bebé não sabe que estou grávida. Se o meu ex-marido souber que estou concebida vai-me fazer mal. Vou então ao tal Equador, vendo a roupa e regresso a Luanda com mais dinheiro para fazer a minha vida".

Poucos dias depois, as duas angolanas aterraram em Quito. Guiada pela amiga, alojou-se na casa de um congolês-democrático nos subúrbios da capital equatoriana. "Era uma habitação grande, tinha oito quartos e ficava perto do maior mercado da zona", descreve.

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Desde o início, o movimento anormal do lugar chamou-lhe a atenção. "A casa estava cheia de pessoas de África, principalmente do Congo, que iam e vinham. Tinha mulheres grávidas, famílias inteiras, mais-velhos e muitos jovens." Uns dias depois, uma conversa casual deu-lhe a dica que faltava. "Uma senhora que vivia lá perguntou-me: "tu também estás a ir para os Estados Unidos?"" Fiquei sem entender nada. E perguntei-lhe: "O que é que eu vou fazer para os EUA?" E foi aí que ela me contou que essa casa era de passagem, e que todos os que estavam ali eram migrantes que tinham pago ao moço do Congo para os hospedar e para lhes dizer o caminho até aos Estados Unidos." Confrontou de imediato a amiga. "Acabou por me dizer que também estava a fazer essa viagem e que estava só à espera de uma irmã que vinha ter com ela, do Brasil", narra.

Pouco a pouco, deixou de torcer o nariz à ideia de viajar. "O meu visto para Cuba já tinha expirado e não tinha vontade de voltar para Luanda, os Estados Unidos começaram a parecer uma boa ideia", admite. "O dono da casa dizia-me: "Não te vou deixar ir, o caminho é muito perigoso"", mas a viagem não lhe parecia "tão arriscada assim". "Eu via os mais-velhos, grávidas e crianças a ir embora e pensei, se eles podem eu também posso!". À distância de mais de um ano, recorda, divertida: "A minha amiga dizia-me que só tínhamos de apanhar dois autocarros para um país chamado Colômbia, subíamos a um cavalo e esse cavalo ia-nos fazer chegar aos Estados Unidos."

Angolanos na rota

Em Chiapas, no sul do México, Tapachula é porta de entrada, entreaberta a ponto de fechar, para os migrantes que chegam da América Central com os Estados Unidos na mira. A selva rodeia a cidade. É Junho. A humidade pega-se ao corpo. O calor é sufoco.

"Ana", nome inventado por quem não quer ser reconhecida, vem da Maquela do Zombo e conhece bem esta sensação pegajosa. Está sentada no chão, junto a uma grade da Estação Migratória Século XXI. É o maior centro de migrantes da América Latina.

A cara inchada e cabelos desalinhados não coincidem com a Ana dos tempos de Luanda. A fotografia do perfil de WhatsApp é outra dimensão: cara afilada, extensões negras e onduladas, brilhantes; sobrancelhas delineadas, batom discreto; óculos escuros grandes, pendurados numa blusa preta decotada; um fio dourado com uma pedra redonda, verde e branca, a bater no peito. "A viagem fez estragos", reconhece.

Ana está cansada e não sabe o que fazer. "Estamos aqui há duas semanas à espera que nos registem para dar-nos o salvo-conduto para continuar a viagem pelo México, mas ninguém nos diz nada". À volta, dezenas de migrantes africanos - camaroneses e congoleses, principalmente, mas também do Gana ou Nigéria - esperam com Ana debaixo deste sol forte por uma resposta da migração mexicana.

"Vem só cá!", grita Ana para um moço que deambula pela Estação Século XXI. "Ele também é angolano". "Ele" quer ser chamado de "João". É do Uíge, tem 27 anos. Magro, cabeça rapada. Sobrancelhas franzidas. Os olhos estão em movimento constante. Distantes, apontam para lado nenhum.

Tal como Ana, morava em Luanda, onde ficou a mulher com os dois filhos. A decisão não foi fácil, mas a falta de dinheiro precipitou-lhe os passos. "Trabalhava numa loja e despediram-me de um dia para o outro", explica. Os biscates não funcionaram. "Tu ganhas 200, 300 dólares, vais fazer o quê com isso? A partir daí ficou muito complicado. Somos jovens, precisamos de trabalho para sustentar a família", diz João que, tal como Luzia Banzuzi, viajou primeiro para Cuba antes de chegar ao Equador.

Ana abana a cabeça e repete o refrão da falta de oportunidades em Angola. A jovem de 28 anos formou-se em Gestão de Empresas na África do Sul. Fala três línguas - português, inglês e francês - mas não encontra trabalho. "Cansei-me de procurar sem encontrar nada. Pedi visto na embaixada dos Estados Unidos em Luanda, mas nunca me deram resposta. Uns amigos angolanos que vivem na América falaram-me desta viagem e decidi arriscar." Ana quer chegar ao Canadá, um país que, acredita, "tem muitas oportunidades e está à procura de jovens corajosos para trabalhar e estudar".

Com o marido, de Kinshasa, e uma filha de sete anos, lançou-se no vazio. "Viajámos para a Namíbia, e daí para o Equador", conta. E contabiliza: "Só a viagem para Quito foram seis mil dólares, entre mim, a minha filha e o meu marido. Mais o que gastámos ao longo do caminho. Até agora, são quase 10 mil dólares. Já estamos a pedir aos familiares e amigos para nos mandarem dinheiro, porque são muitas despesas. Não gosto de fazer contas, porque sofro muito quando vejo o que gastámos até aqui."

Coyotes transatlânticos

Tapachula não é o fim da viagem, mas chegar aqui foi uma epopeia que começou bem mais a sul. A capital do Equador, Quito, é o ponto de partida de uma rota de migração ilegal de pouco mais de 35 mil quilómetros até aos Estados Unidos ou Canadá.

Num cantinho da América do Sul virado para o Pacífico, o país é um caso único. Em 2008, o Equador eliminou a exigência de vistos de turismo. Estavam abertas, escancaradas, as portas aos migrantes africanos e asiáticos que "procuravam alternativas a uma Europa cada vez mais fechada sobre o Mediterrâneo e com as entradas a leste bloqueadas", explica-nos Alberto Gutiérrez, da Universidade da Costa Rica.

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Em pouco tempo, as autoridades equatorianas detectaram o que chamaram de "influxo inusual de cidadãos". Em 2010, dois anos depois da abertura das fronteiras, restringiram a entrada a viajantes da Eritreia, Somália, Etiópia, Quénia, Nigéria, Nepal, Bangladesh e Afeganistão. Em 2015, cubanos, norte-coreanos e senegaleses passaram a estar nesta lista negra, que não foi atualizada entretanto.

Gbono Washington aproveitou a brecha. Quando chegou a Quito, fartou-se de perguntar. "Mesmo dentro do aeroporto da cidade há africanos e até agentes de migração que te dizem como chegar à central de autocarros para continuar o nosso caminho", relata o liberiano. Magro, muito magro, sorri com os olhos quando percorro uma fila de homens africanos em Tapachula e pergunto: "Angola? Angola?" Depois de um abraço forte, conta-nos que viveu "na Banda" desde 2001. Foi professor de inglês em Luanda e trabalhou no Lobito para a Sonangol. "No caminho cá para o México encontrei muitos angolanos. Vêm de Luanda, de Malanje, do Uíge e do Lubango", conta. "Agora em Angola há muito ladrão, entram nas casas de noite e matam as pessoas. E também já não há trabalho como antes, está tudo muito difícil". A lista de motivos para deixar Luanda é repetitiva

Gbono, Ana e João juram a pés juntos que conheceram a rota "por amigos" e que não pagaram a "ninguém" para sair de Angola. No entanto, nos últimos anos a Interpol tem desmantelado redes importantes de tráfico de migrantes africanos e asiáticos com escala em Quito e também no Brasil, que se converteu num importante ponto intermédio desta viagem. Vários migrantes angolanos, congoleses, haitianos e cubanos que aí viviam antes de começar o caminho, confirmaram-nos em Tapachula que existe uma rota já estabelecida a partir de São Paulo. Um voo da capital paulistana leva-os a Rio Branco, no Acre, extremo noroeste do Brasil. Dali saem de carro até ao Perú e atravessam todo o país até cruzar a fronteira com o Equador em direcção a Quito.

Durante a investigação de doutoramento, o mexicano Jaime Cinta pôde descortinar um pouco os esquemas ilegais que actuam em África. "Os migrantes contactam muitas vezes os coyotes [gíria para traficantes de pessoas] através do Facebook e combinam por aí todos a logística da viagem". Os métodos são "cada vez mais surpreendentes", revela. "Quem não tem dinheiro para comprar um bilhete de avião está a viajar para a América do Sul via marítima. Falei com um migrante do Gana, por exemplo, que esteve em alto mar durante 40 dias. Um tio pagou a viagem ao capitão de um barco de pesca. Durante a travessia, a tripulação deu-lhe de comer e também lhe indicou o que fazer quando chegasse. Talvez não fosse uma rede como tal, mas era notório que não era a primeira vez que transportavam migrantes ilegalmente através do Atlântico".

Próxima estação: Colômbia

Já era demasiado tarde quando Luzia Banzuzi se deu conta que estava emaranhada numa rede de coyotes africanos a operar no Equador. A casa onde se hospedou quando chegou de Havana era o primeiro elo de uma cadeia de contactos que a perseguiu pela Colômbia e pelo Panamá. "Em cada ponto onde parávamos sabiam quem éramos, tinham as nossas fotografias, cobravam-nos para nos levar de um lado ao outro", relata. "Na altura não dei importância, mas já desde Cuba que a minha amiga angolana recebia constantemente telefonemas de alguém que lhe dizia onde ir. Foi essa mesma pessoa que a pôs em contacto com a casa do moço em Quito."

E também foi "ele" quem designou "outro moço também do Congo" para "acompanhar" Luzia e a amiga na saída do Equador para a Colômbia, o segundo país da rota pela América do Sul em direcção aos EUA. "Éramos várias pessoas, pagámos-lhe 20 dólares cada um. Durante a viagem, ele dizia-nos em que autocarros tínhamos de subir. Quase nem saímos das centrais, descíamos de um transporte e entrávamos logo noutro. Às vezes também dormíamos em hotéis que ele nos indicava. Foi assim todo o caminho até chegarmos às praias da Colômbia".

Os passos de Luzia seguiram-nos Ana e João poucos meses mais tarde. A viagem é directa, confirma o jovem do Uíge. "Viajei logo um dia depois de chegar a Quito. O autocarro saiu por volta das 23 horas e entrou na Colômbia às 6 da manhã. Por volta das 8, 9 horas cheguei à cidade de Pasto, e aí apanhei outro autocarro até Medellín e daí já às praias no norte."

As cidades litorais de Turbo, Necoclí e Capurganá, a poucos quilómetros da fronteira norte da Colômbia com o Panamá, são os pontos de reunião dos migrantes que vêm do Equador. As águas quentes e agitadas do Golfo de Urabá anunciam o inferno de uma selva densa onde muitos entram e nunca mais saem. Fica na volta do mar, passando o rebentar das ondas nas noites sem luz.

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Número de angolanos no Equador dispara em 2019

No Equador, os migrantes africanos passam desapercebidos. "Ninguém fala deles, pouco se sabe das pensões ou casas onde se refugiam", escreve o jornalista deste país Joel Ortega no jornal "O Comércio", em 2016. Ruth Urbano concorda. Ao NJ, a assessora legal da delegação equatoriana de HIAS, organização de apoio a migrantes na América Latina, confirma que "a nível migratório, o país está mais preocupado com a grande onda de venezuelanos."
Os dados oficiais disponíveis até ao momento levantam mais dúvidas que respostas. Um documento que a Subsecretaria de Migração do Equador enviou a este jornal revela que, entre 2015 e Julho do ano passado, entraram naquele país sul-americano 786 angolanos, quase todos pelo Aeroporto Internacional de Quito. Destes, apenas 104 (13%) saíram pelos postos fronteiriços oficiais.
Onde estão os restantes 682 angolanos que aqui chegaram nos últimos quatro anos? O documento das autoridades migratórias dá algumas pistas: "A diferença pode ser catalogada como pessoas que ainda permanecem no país em estado irregular; que pediram algum tipo de visto; ou que seguiram rotas de saída irregulares de território equatoriano por fronteiras terrestres, presumivelmente a fronteira norte de Rumichaca [saída para a Colômbia] e fronteira sul de Huaquillas [rumo ao Perú e Brasil]).
Os números mostram também um aumento acelerado e constante de angolanos de passagem por este país nos últimos três anos. Se em 2015 se registaram 6 entradas, em 2016 o número disparou para 66. Em 2017, foram 69; e em 2018, 293, quase cinco vezes mais que no ano anterior. A tendência continua a exponenciar-se. Só nos primeiros sete meses deste ano, entraram no Equador 352 angolanos, um número recorde.
As estatísticas podem, inclusivamente, estar aquém da realidade. Num documento da Embaixada do Equador no México a que NJ teve acesso, as autoridades admitem que "é difícil obter de dados, cifras ou estimativas" dos chamados "migrantes extracontinentais". No caso dos africanos, dizem, "um número importante" chega ao Equador "sem documento de identidade que acredite a sua nacionalidade", acabando por complicar a identificação e repatriação. Em consequência, lê-se, muitos acabam por permanecer no país "por períodos prolongados (...) em condição migratória irregular" e numa situação de "alta vulnerabilidade".

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NA PRÓXIMA REPORTAGEM: Na Colômbia, os migrantes angolanos atravessam o mar picado em direcção ao "Tampão do Darién". Luzia tem os passos marcados por traficantes. Passa pelo lugar onde duas crianças angolanas morreram afogadas, em Janeiro do ano passado. A selva espera-os do outro lado do mar.