João Grácia, director do gabinete de comunicação institucional e imprensa da administração municipal de Cacuaco, disse que alguns cidadãos, "na sua maior parte oportunistas e invasores", que receberam os terrenos dos camponeses, muitas vezes com ameaças, apercebendo-se do plano de expansão da cidade do Sequele, foram ocupando os terrenos para construções ilegais e desordenadas que comprometem o projecto.

"Toda aquela população do bairro Merengue não tem qualquer título que lhes dê direito àquelas terras, porque, em nenhum momento, eles requereram a obtenção dos espaços que ocupam, e, desta forma, as ocupações são anárquicas e ilegais", disse.

O porta-voz da administração de Cacuaco afirmou ainda que todo o terreno à volta da centralidade do Sequele, que é tecnicamente conhecida como foral do Sequele, foi constituído em reserva do Estado através do Decreto Presidencial nº 007/ 07 de 13 de 2007.

"Neste momento, o Governo está a criar as condições para implementação da segunda fase da cidade do Sequele e a ocupação anárquica daqueles terrenos está a dificultar o projecto", salientou.

"Nós reconhecemos que nos bairros Merengue e Bênção de Deus havia pequenas comunidades de munícipes que se dedicavam à agricultura, mas esses moradores que ali vivem não eram munícipes da zona", disse. E acrescentou: "Saíam de outras partes da cidade de Luanda e ficavam lá a realizar o seu trabalho de agricultura e, no final do dia, voltavam para os seus lugares de origem".

João Grácia conta que os munícipes, "quando se aperceberam da construção da centralidade, entenderam permanecer definitivamente no local, com o propósito que todos nós já conhecemos".

O director do gabinete de comunicação institucional e imprensa da administração municipal de Cacuaco explicou ao Novo Jornal Online que o Estado vai apenas fazer o processo de integração no projecto Sequele às pessoas que já faziam parte do levantamento feito pela administração (em anos anteriores), o que lhes permitirá ficar dentro da centralidade onde o Governo já criou lotes de terreno devidamente organizados, mas sem precisar números e data.

"É evidente que, quando começar o processo de criação das infraestruturas, todas aquelas moradias que estejam no perímetro da segunda fase da expansão da centralidade vão ser demolidas", garantiu, adiantando que será nos próximos tempos.

Moradores contestam decisão da Administração Municipal de Cacuaco

Milhares de pessoas foram notificadas com a ordem de demolição na segunda-feira, 28, conforme constatou o Novo Jornal Online no local. Os moradores disseram que, no passado sábado, o comité municipal do MPLA de Cacuaco os informou que, no dia 28, teriam uma actividade na centralidade do Sequele e que toda a população tinha de estar presente.

"Na ausência dos moradores, a fiscalização municipal de Cacuaco veio fazer marcação das casas para serem demolidas, dizendo que tínhamos de abandonar as casas no prazo de 72 horas, coisa que nós não entendemos até agora", contaram.

Carlos António, camponês e morador há 26 anos naquela zona, disse que não tem outro lugar onde viver e lamentou o facto de a administração chegar e orientar demolições como se de animais se tratasse.

"O Estado não deve só vir notificar por notificar, tinha primeiro de conversar connosco porque não somos animais", declarou.

"Estamos a viver aqui há muitos anos e vimos esta centralidade nascer. Éramos os proprietários das lavras onde hoje está a cidade do Sequele e vivíamos aqui em casas de capim e casotas. Quando vierem fazer a centralidade, os construtores chineses disseram que como aqui já havia casas (de capim), a centralidade teria de começar mais abaixo ... e assim foram iniciando as construções da centralidade" explicou Domingas Manuel, moradora há 20 anos.

"Nós já fizemos filhos que nos deram netos aqui, e continuamos a viver neste espaço, não estamos a faltar ao respeito ao governo porque sempre que há campanha de vacinação, mobilização de massas para o MPLA, vêm aqui, como é que hoje somos fantasmas?", pergunta Joaquim Kivota, membro da comissão de moradores da zona.

Joaquim reconhece que, anteriormente, as casas eram de capim, mas consoantes as possibilidades de cada um, foram construindo residências de blocos para se proteger das cobras.

"Nunca fomos proibidos de fazer casas de blocos nesta zona, a administração municipal só cá vem quando temos actividades partidárias, distribuição de água por cisternas, e quando há campanha de vacinação contra doenças endémicas, mas nunca nos tinha proibido de construir casas definitivas", explicou.