"Porque são precárias em Cabinda, e um pouco por todo o país, que está tomado por uma crise desigual, e então há que encontrar soluções sustentáveis para dar resposta as inquietações principais dos jovens, dos adultos, não só em Cabinda, mas também em todo o país", disse hoje Belmiro Tchissengueiti, em declarações à Lusa.

O sacerdote católico exemplificou que regiões como o Cacongo continuam iguais, "como há 35 anos" em termos de desenvolvimento, o que causa "algum mau estar e alguma dor".

Para Belmiro Tchissengueti, também porta-voz da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), é importante que aquelas que são as zonas de produção das maiores riquezas do país tenham maior benefício do ponto de vista da reconstrução".

Desde "infra-estruturas, condições sociais e medidas políticas que favoreçam a empregabilidade e a auto-sustentabilidade (...), a província precisa de recordações vivas e sustentáveis dos 50 anos de exploração petrolífera".

"Tem que haver sinal sensível de desenvolvimento", argumentou o bispo.

A União Nacional para Independência Total de Angola (UNITA), maior partido na oposição em Angola, denunciou na segunda-feira que "continuam a morrer" angolanos em Cabinda, "vítimas de um conflito mal resolvido", considerando que naquela província os cidadãos são tratados de forma "arbitrária e autoritária".

"O grupo parlamentar da UNITA já não pode aceitar que em tempos de paz morram angolanos em Cabinda vítimas de um conflito mal resolvido", disse Adalberto Costa Júnior, presidente do grupo parlamentar da UNITA.

"Recomendamos a necessidade da humanização dos órgãos de defesa e segurança, que através de métodos repressivos e de violência estimulam e acirram os extremismos desnecessários", sublinhou.

Pelo menos 63 jovens do autodenominado Movimento Independentista de Cabinda (MIC) estão detidos por pretenderem fazer uma marcha alusiva ao dia 01 de Fevereiro, quando se assinalou o 134.º aniversário da assinatura do Tratado de Simulambuco, segundo as autoridades, mas a UNITA afirma tratar-se de detenções arbitrárias.

Em finais de Fevereiro, o Governo angolano confirmou à agência Lusa a existência de detenções de membros de um "autodenominado movimento independentista" em Cabinda, que "pretendiam alterar o quadro institucional de unicidade" de Angola.

O ministro do Interior angolano, Ângelo da Veiga Tavares, indicou na altura que a situação no enclave de Cabinda estava tranquila e que os respectivos processos estão em segredo de justiça, pelo que resta agora aguardar pelas decisões judiciais.

Em relação a detenção os jovens activistas, o bispo de Cabinda considerou que "é preciso salvaguardar a necessidade de um diálogo permanente", afirmando que as "vozes dissonantes da província são parte integrante do processo democrático".

"Não podemos ter a ilusão de pensarmos que os jovens académicos e intelectuais tenham um pensamento uniforme, então o que é importante, por um lado, é que se cumpram os pressupostos das detenções, que é justamente a apresentação dos motivos", adiantou.

"Porque essas vozes também podem apresentar inquietações que podem ser aproveitadas para o exercício da boa governação, porque em democracia as manifestações são parte integrante e isso deve ser salvaguardado evitando a todo custo as arbitrariedades", acrescentou.

Questionado sobre a situação da segurança em Cabinda, Belmiro Tchissengueiti respondeu: "a minha missão é sobretudo religiosa e espiritual, e naquilo que toca a minha missão, tenho andado um pouco por toda a província e nada mais do que isso".