Para já, a semana que agora, segunda-feira, 22, começa, começa em baixa, dando ânimo à provável quarta semana consecutiva com perdas no valor do barril, que, só de sexta-feira, 19, para hoje, foi esvaziado em perto de 3 dólares, dos 85,30 USD para 82,28 USD, perto das 12:30, hora de Luanda, no Brent.

E ainda não estão inseridos no "software" que medeia este negócio a questão da retoma este fim-de-semana dos ataques ucranianos a refinarias russas na região do Mar Negro.

Para já, como notam os sites especializados e as agências de notícias, os mercados estão ainda a tentar digerir o festim de dúvidas surgidas com o anúncio de saíde de cena do Presidente norte-americano, Joe Biden, empurrado do palco pelos "generais" do Partido Democrata.

Mas, pelo sim, pelo não, e como sempre que não sabem de que lado sopra o vento, os mercados reagem ligeiramente em baixa, como que à espera de que o tempo passe e, como sempre, tudo esclareça, mesmo que as expectativas de uma baixa nas taxas de juro nos EUA pudessem levá-los em sentido inverso.

Mas o elefante na sala nesta manhã de segunda-feira, 22, é a notícia de que a casa financeira Morgan Stanley, com quase cinco séculos de vida, 75 mil funcionários divididos por escritórios em 41 países, está a prever uma queda estrutural do valor do crude para pelo menos até finais de 2025.

Este banco de investimento, e de serviços financeiros vários, que tem dezenas de países na lista de clientes, diz que o barril vai deslizar montanha abaixo no ano que vem, para perto ou mesmo abaixo dos 70 dólares, e a razão é simples: vai haver mais petróleo disponível que as necessidades de quem o compra...

O equilíbrio nos mercados diluir-se-á em 2025 por causa do excesso de produção, especialmente dos países fora da OPEP+, onde estão a emergir alguns novos produtores que podem transformar este universo, especialmente a Guiana, já mais que uma novidade, e, entre outros, a Namíbia, com as suas gigantescas reservas encontradas no seu off-shore.

Para forjar estes dados, que contradizem o Outlook da OPEP+, e mesmo da Agência Internacional de Energia (AIE), o Morgan Stanley foi bisbilhotar os dados das grandes refinarias dos países que mais importam crude ou consomem energia.

E concluiu que o pico da refinação, especialmente nos EUA, será atingido em Agosto, iniciando aí uma acentuada quebra até, pelo menos, a segunda metade de 2025, sendo igualmente esses indicadores que apresentam outros grandes players, como a China e a Índia.

Apesar disto, a OPEP+, que, como sempre, reúne no início de todos os meses, não deve, segundo a Bloomberg, anunciar alterações à sua actual política de quotas.

Se se confirmarem as previsões do oráculo Morgan Stanley, isso..

Para as contas de Angola

... que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, podem ser péssimas notícias.

Mas, para já, ter o Brent nos 82 USD, ainda bastante acima do valor médio usado para elaborar o OGE 2024, 65 USD, continua a permitir diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.