Ou os partidos mudam ou as pessoas mudam de partido. O eleitorado mudou e os partidos precisam de perceber estes fenómenos. É preciso repensar a forma de fazer política numa praça eleitoral com a dimensão e importância de Luanda. A governação da inclusão, dos afectos e da preocupação com o outro. Bento Bento foi, na realidade, alguém que não conseguiu descer às bases e nunca conseguiu fazê-las subir por uma razão muito simples: nunca teve nível e elevação para tal! O seu discurso não chegava a certos sectores da sociedade luandense por uma simples razão: Ele não tinha um discurso, não tinha uma abordagem para aquilo que eram os principais, os verdadeiros e os necessários desafios da capital do País.
O discurso populista, os desfiles de kupapatas, as danças com as jardadas, as maratonas com kuduro, Cuca e churrasco era tudo para animar a malta. Bento Bento e o seu MPLA em Luanda eram um tambor que fazia muito barulho social e mediático, mas que era vazio nas ideias e estratégias. Confundiu capacidade de mobilização com capacidade de pagar a mobilização. As guerrinhas internas, os grupinhos dos privilegiados, os insatisfeitos e hostilizados, o nepotismo, o compadrio e amiguismo, o sentimento de injustiça e ingratidão, a falta de motivação e de certo sentido de pertença afastaram muitos da principal estrutura provincial do MPLA na capital.
Nelito Ekuikui, da UNITA, soube explorar as necessidades das pessoas, fez um populismo dirigido e orientado. Fez trabalho de base e de campo. Estudou e percebeu as fraquezas do seu adversário, tendo feito uma abordagem de proximidade e de simplicidade com o eleitorado mais jovem. Percebeu que grande parte do eleitorado queria ser ouvida e percebida. Jogou a seu favor o facto de não ter tido do seu lado ónus da governação, pois, para os eleitores que tinha de resolver os problemas, era quem estava a governar. E no caso, o MPLA em Luanda foi "julgado e condenado" não tanto por aquilo que prometeu, mas, sim, por aquilo que o não fez, de facto.
Adalberto Costa Júnior foi o grande obreiro desta vitória da UNITA em Luanda, e Nelito Ekuikui, o grande cabo eleitoral, o homem do terreno e que leva este grande triunfo para o seu partido. Da parte do MPLA, há também uma grande responsabilidade da liderança pela perda de Luanda. É o presidente do MPLA quem escolhe as lideranças nas províncias e, no caso em concreto, Bento Bento foi uma escolha de João Lourenço, cabendo assumir junto dos seus camaradas o fracasso desta empreitada. Com uma situação descendente em três eleições (2008, 2012 e 2017), o MPLA não fez uma avaliação realista da situação, não fez leituras dos cenários, deu palco aos populistas e deixou-se iludir pela sua retórica, tem uma potente maquina mediática que não foi eficiente e que foi perdendo credibilidade junto dos cidadãos. Criou-se um ambiente propício a um protesto silencioso que foi materializado pela via da abstenção.
O MPLA viu muitos dos seus militantes e simpatizantes que adoptaram o lema: "Viajar e ausentar-se para não ter de votar" e outros que decidiram ficar no conforto do lar e não ter de votar. Esse resultado em Luanda tem impacto na estrutura nacional e é revelador de algo que está a acontecer no seio do MPLA e um sentimento que está a tomar conta de muitos dos seus militantes: a falta de empatia pessoal com as lideranças e a ideia de que muitas delas não são as pessoas certas nos lugares certos. Após garantir uma maioria absoluta nas eleições de 24 de Agosto, João Lourenço tem, também, de olhar para dentro e cuidar de algumas "fissuras" nos alicerces do MPLA. Perder Luanda, Zaire e Cabinda para a UNITA vai obrigar a tirar muitas ilações e a aprender muitas lições. Certas derrotas acabam por ser verdadeiras lições.
Na próxima semana, voltarei com as lições que estas eleições trouxeram para a UNITA e para a CASA-CE.