Pouco depois, o vice-primeiro-ministro e ministro da Defesa, Guy Kabombo, a partir de Kinshasa, ordenou às Forças Armadas da República Democrática do Congo (FARDC) que defendam as fronteiras do país e recuperem os territórios perdidos para o M23.
Guy Kabombo quer ainda ver as forças externas do Ruanda a serem expulsas do leste congolês e as FARDC a anularem "todas as ameaças à soberania congolesa", sublinhando que essa missão tem como alvo todas as ameaças e não apenas o Ruanda.
"Neste momento crucial, mostrar a credibilidade do nosso Exército é fundamental para a Pátria. E é por isso que as FARDC devem assumir a sua missão constitucional, que é defender as fronteiras da RDC contra todas as ameaças", apontou Kabombo, nma declaração transmitida pelos media congoleses, na qual acrescentou um grito patriótico: "Restaremos de pé e combateremos sem recuar um milímetro".
Se os rebeldes do M23, que nas últimas horas concluíram a tomada de Goma, a capital do Kivu Norte, havendo notícias de que já se encaminham igualmente para Bukavu, a capital do Kivu Sul, ouviram Guy Kabombo, fizeram de conta que não, porque a partir da sua nova "capital", lançaram um desafio existencial ao Governo de Félix Tshisekedi: "Vamos tomar Kinshasa!".
"O nosso objectivo é o Congo, nós estamos a lutar pelo Congo, não estamos a lutar por minerais ou seja pelo que for... apenas pelo Congo", disse em Goma Corneille Nangaa (na foto), um dos líderes séniores do M23.
Esta milícia tem insistido nos últimos dias, usando para isso as televisões internacionais, no momento em que, em Goma, centenas de mercenários europeus se rendiam à MONUSCO, numa operação concertada com o grupo armado, afirmando-se congoleses e não ruandeses, negando veementemente qualquer apoio de Kigali, tal como, de resto, o fez o próprio Presidente do Ruanda, Paul Kagame.
Ignorando todos os apelos à contenção, o M23, que demonstra uma organização excepcional e armados com equipamento moderno ocidental, fazendo tábua rasa das palavras do mediador da União Africana, João Lourenço ou do outro pilar da mediação regional, o queniano William Rutto (ver links em baixo), não apenas visa agora alargar o seu poder a todo o leste congolês como aponta a mira à capital, naquilo que seria um golpe intolerável para as potências regionais, incluindo Angola, abrindo assim as portas para uma perigosa escalada regional do conflito.
Mas é isso mesmo que os rebeldes afirmam querer, depois de um dia, de quinta-feira, 30, repleto de posicionamentos severos das lideranças directamente envolvidas, RDC, Ruanda e M23, mas também do Processo de Luanda e da Organização dos Estados do Este Africano (EAC).
Na declaração onde apontam agora como objectivo Kinshasa, o M23 sublinha que o seu alvo é obter poder político no país para reorganizar o Estado, que dizem não existir na RDC, porque "o regime de Tshisekedi destruiu o Exército, a Polícia Nacional e a administração e a Justiça, acima de tudo".
O que os rebeldes dizem querer como ponta final da sua acção é "reerguer o Estado congolês", o que só é possível, afirma Corneille Nangaa, "com a conquista de Kinshasa", que, recorde-se, fica precisamente a 2620 kms de distância, ficando sem se perceber como o poderão fazer sem o apoio robusto de uma potência militar externa.
Porém, alguns analistas em Kinshasa não estão a levar a sério esta ameaça que encaram como sendo uma ferramenta negocial para se contentarem com a cedência de Tshisekedi das suas actuais posições no leste do país, eventualmente sob a forma de uma região autónoma com total lastro de decisão local, nomeadamente na exploração do seus vastos e ricos recursos naturais e com fronteira com o... Ruanda.
Todavia, essa tarefa não tem, para já, qualquer aderência em Kinshasa, onde o ministro da Defesa, Guy Kabombo, recusou encetar quaisquer negociações com o M23, apesar de a EAC ter apelado a que esse diálogo aconteça como forma de conseguir um cessar-fogo para proteger as populações civis, que vivem uma gigantesca crise humanitária, somando milhares de refugiados aos mais de seis milhões que 30 anos de conflitos persistentes produziram.
"Dei ordens efectivas para que todos os planos e instruções para dialogar com os terroristas do M23, ferramentas do Ruanda, sejam queimados de imediato, porque nos vamos combater até ao último homem e se não for possível ficar vivos, ficaremos mortos", atirou Kabombo.
O governante, responsável por lidar com a guerra contra os rebeldes e contra as forças ruandesas que estão no leste congolês, disse ainda que os militares das FARDC estão a "iniciar a cruzada das suas vidas" e que "os olhos do mundo inteiro estão fixados nos militares congoleses", prometendo que "nesta batalha o inimigo será destruído e a vitória será oferecida ao povo".