Esta realidade é dramática para milhares de ucranianos que agora perdem a ajuda sem que o Governo esteja em condições de injectar o dinheiro que agora desapareceu depois do Presidente Trump ter decretado a suspensão por 90 dias de todo o apoio humanitário, com excepção de Israel e o Egipto.
Para acudir a esta situação, depois de uma frente de esforços diplomáticos para levar Donald Trump a incluir a Ucrânia entre as excepções, incluindo uma jogada arriscada do chefe da intelligentsia ucraniana, Kyryl budanov, que veio dizer que o país poderia deixar de existir em seis meses, o Presidente ucraniano quer agora que os seus aliados europeus ocupem o lugar dos EUA.
Devido à guerra, que já dura há quase três anos, a Ucrânia está numa situação de default, como a Fitch já veio anunciar, e as suas finanças estão em total ruptura, sendo o apoio externo o único fio de vida que Kiev tem para se aguentar.
Esse apoio é vital na frente militar, onde, aparentemente, depois de algumas dúvidas, o apoio de Washington vai manter-se, mas na dimensão social, onde esta saída norte-americana pode gerar uma catástrofe, só com uma decisão europeia de ocupar o lugar dos EUA será possível evitar o colapso das instituições.
O problema é resultado directo do decreto presidencial assinado por Donald Trump no dia em que assumiu o cargo, suspendendo por 90 dias o apoio humanitário em todo o mundo, deixando milhares largos de organizações não-governamentais sem capacidade de manter as suas actividades, incluindo a Ucrânia.
Porém, na Ucrânia, este apoio tinha uma dimensão ainda mais relevante porque esse dinheiro não estava apenas a ser canalizado para os programas de apoio a organizações humanitárias mas também a servir para cobrir as falhas do Estado em áreas como o apoio aos antigos militares e veteranos ou mesmo para tapar buracos devido às falhas do pagamento de pensões de velhice.
The Guardian, o jornal britânico mais empenhado no suporte a Zelensky, escreve que se tratpu de um choque porque a Ucrânia dependem em grande medida do apoio dos EUA e o dinheiro deixou de fluir do dia para a noite, criando cenas de pânico em algumas ONG's que dependem desse apoio para lidar com milhares de pessoas em situações de grandes dramas humanos.
Isto, apesar de, em teoria, este dinheiro tivesse como destino apenas o apoio aos media, à luta contra a corrupção e o apoio aos veteranos de guerra.
Para já, Zelensky, depois de perder a batalha com a Administração Trump para incluir o país nas excepções, ao lado de Israel e o Egipto, vira-se para Bruxelas, exigindo à União Europeia que ocupe o lugar dos norte-americanos.
O jornal de Londres diz mesmo que Washington se recusou a aceitar uma breve prorrogação de prazos devido a situação mais urgentes onde a falta de dinheiro terá efeitos mais dramáticos, para os quais Zelensky diz que vai "encontrar uma solução nacional de emergência" enquanto o problema não é resolvido de forma cabal.
Alguns analistas admitem que a recusa de Trump em incluir Kiev nas excepções é ma forma de pressão sobre Volodymyr Zelensky para que este ceda ainda mais de modo a criar condições para uma saída negociada do conflito com a Rússia.
Isto, quando em Moscovo Putin vem dizer que a guerra por acabar rapidamente se o apoio ocidental a Kiev for interrompido.
A saída de cena de Trump
Desde que Donald Trump chegou ao poder nos EUA, mesmo ainda na condição de Presidente-eleito, entre 05 de Novembro e 20 de Janeiro, Volodymyr Zelensky tem vindo a mudar radicalmente a sua postura, diluindo as exigências iniciais, que passavam pela saída sem condições de todos os soldados russos dos territórios ucranianos, incluindo a Crimeia.
Agora, Zelensky já admite como patamar de começo de conversações com Moscovo o plano do enviado especial de Trump para o conflito no leste europeu, Keith Kellogg, que passa por congelar a guerra nas actuais posições, garantir que a Ucrânia fica fora da NATO por uma a duas décadas e a colocação de uma força internacional de 200 mil militares para garantir o cessar-fogo.
Todavia, segundo vários analistas, e Putin parece confirmar, aos russos pouco ou nada interessa aceitar o plano Kellogg, recusando liminarmente qualquer congelamento do conflito, não aceitam um cessar-fogo e nem querem ouvir falar da presença de tropas europeus na geografia da guerra, que garantem ser alvo legítimos se entrarem na Ucrânia.
Isto, porque, como em todas as guerras a que a Humanidade já assistiu, nunca os vencedores aceitaram, sem acordos firmados e claramente vantajosos, ceder territórios conquistados, sendo os acordos firmados com base nas posições no terreno de batalha dos contendores.
O que quer dizer que aos russos interessa avançar o mais possível na frente de combate, aproveitando as fragilidades cada vez mais evidentes das unidades de combate ucranianas, que começam a abrir brechas em quase toda a linha.
Como se viu na recente perda em tempo recorde da importante posição em Veliko Novossilka, na região de Donetsk, uma das últimas cidades fortificadas na região, o que permite agora a Moscovo avançar quase sem oposição ao longo de dezenas de quilómetros se o entenderem fazer.
Porém, Vladimir Putin não se recusou a negociar com os ucranianos, exigindo apenas o afastamento de Zelensky da mesa das negociações onde ele mesmo estiver sentado, sublinhando que para a Rússia apenas Ruslan Stefanchuck, o Presidente do Parlamento, possui essa legitimidade constitucional.
Mas a explicação de Putin, na conversa com o jornalista russo, ambos sentados na parte de trás de uma viatura, é ainda mais densa e complexa, porque o Presidente russo defende a tese de que Zelensky não pode, mesmo que queira, negociar seja o que for com a Federação Russa.
Isto, porque, quando em 2022 assinou um decreto Presidencial proibindo-se a si próprio e a todos os representantes do Estado ucraniano a negociar com os russos, Zelensky mantinha a legitimidade de Chefe de Estado, mas, agora, já não a tem.
Putin defende que, desde Maio do ano passado, data em que deveriam ter ocorrido as eleições, Zelensky já não tem qualquer legitimidade, seja para negociar, ou mesmo para anular o decreto que assinou em 2022, considerando que "quaisquer papel assinado por ele será ilegítimo" e notou que "é essa a armadilha que tem de ser evitada".
Este posicionamento de Putin parece mesmo ignorar o volte-face de Zelensky na passada semana, quando este veio a público afirmar que o tal decreto de 2022 a proibir quaisquer negociações com os russos, não o abrange a ele, enquanto Presidente, apenas aos restantes ramos do Estado.
Explicou na altura que isso era necessário para garantir que qualquer governador regional pudesse, sob coacção ou por vontade, assinar qualquer tipo de acordo ou rendição aos russos, durante o decurso desta guerra.
Putin admitiu, contudo, que Zelensky pode participar em conversações bilaterais, mas não poderá assinar qualquer documento, sendo que se estiver presente nas negociações, então o Kremlin indicará as pessoas para com ele entabular essas mesmas conversações.
"Guerra pode acabar em semanas", diz Putin
E quando os ucranianos procuram, por todos os meios, incluindo lançar para os media locais e internacionais a ideia de que o país pode ser extinto em seis meses, atrair a atenção dos seus aliados europeus pedindio-lhes mais apoio em armas e dinheiro, Putin vem dizer, na mesma entrevista, que "o conflito pode acabar em dois meses".
Isto, porque, com a cada vez mais certa diluição do apoio norte-americano, que já começou com a decisão de Trump interromper a ajuda humanitária de forma generalizada, e o armamento começa a chegar cada vez mais esparsamente, sem o apoio ocicental, disparou Putin, "a Ucrânia não tem como existir sem os seus patrocinadores ocidentais".
"A Ucrânia não sobrevive um mês se o dinheiro e as armas dos seus patrocinadores ocidentais deixarem de chegar", disse, acrescentando que "eles praticamente não têm qualquer soberania nesse sentido", o que deixa claro que se os países ocidentais quiserem a paz, "é muito simples de conseguirem, basta deixarem de enviar armas para Kiev".