A ocasião transformou-se numa autêntica aula de e sobre danças africanas e o seu lugar nas artes angolanas, bem como o papel das culturas na promoção do turismo e da imagem do País.

Aos três bailarinos diaspóricos angolanos, Marly, Cazuza e Dasmara, com assentos permanentes em Portugal e Suíça, juntou-se o colega polaco Pawel Krysiak, que em terras de Camões espanta e encanta os amantes das danças africanas.

De improviso Cazuza, dos Kilandukilo, que, na cosmopolita e elegante Berna Suíça, com as suas aulas de danças tradicionais angolanas, põe o mundo, incluindo os engravatados, a mexer e a remexer o corpo como se estivesse em Chitato, Calomboloca ou Caala, enquadra a dança no "bem supremo" dos povos: a cultura.

Sempre muito professoral, o "rapaz" dos Kilandukilo explica a uma conviva de Moçambique as afinidades entre danças africanas do Atlântico e a marrabenta do Índico.

Conversa para qual é rapidamente chamado o Dasmara, professor de Kizomba e Semba que, da Europa à Ásia, passando pelas Américas, ensina essas duas formas peculiares e urbanas de dançar os ritmos angolanos.

Serão mesmo duas formas? Ou é a mesma forma de dançar com distintas nuances, ritmos diferentes, mas aparentados? Questões que foram o mote para conversas em dias subsequentes.

Se Kizomba em Kimbundu significa Festa, Semba, na mesma língua angolana, vem do di-semba (singular) que quer dizer umbigada, ma-semba (plural), movimento característico da Rebita, de acordo com a aniversariante, Marly Baptista, co-organizadora do Luanda Semba Festival, cuja primeira edição, em 2019, foram 11 dias de muita dança, workshops de língua nacional, palestras, visitas culturais, gastronomia e turismo.

Semba que nasce nas rodas das farras dos vários bairros luandenses, como o Marçal, Camama, Rangel, na primeira metade do século XX, segundo estudiosos.

Com brilho nos olhos, a jovem Marly Baptista, que tem nas danças Semba e Kizomba o seu principal modo de vida e que gostava de viver só da dança, alerta que Angola tem vários bailarinos no exterior, que, "por falta de apoios, dificilmente conseguem viver exclusivamente da dança".

"Nascemos com a Kizomba", diz com orgulho, ao recordar que a referida dança nasce perto dos anos 80 do século XX e teve como principais impulsionadores os grupos musicais "Os Fachos" e "SOS".

A sua internacionalização, enquanto música, começa com Eduardo Paim, em Terras Lusas, dizem entendidos na matéria.

Nos finais dos anos 80, já existiam discotecas de música Africana em Lisboa, mas o boom destas danças aconteceu há cerca de 10 anos, quando Kizomba e Semba tomaram por completo as pistas de dança de várias capitais europeias, como Lisboa, Varsóvia e Madrid.

Dessa aula-convívio, aprende-se que a divulgação dessas danças trazidas de Angola teve como grandes promotores professores africanos que já viviam em Portugal há alguns anos como os angolanos Mestre Petchu e António Bandeiras, Tomás Keita da Guiné-Bissau e Zé Barbosa do arquipélago de Cabo Verde.

A sensualidade da Kizomba, que será a herdeira directa da dança das passadas, forma de dançar o Semba e não só, terá criado alguma dificuldade em almas mais puritanas, parecendo os espinhos da rosa.

Com o boom das discotecas africanas em Portugal com muito Kizomba e Semba, apareceram há pouco mais de 10 anos os primeiros festivais desses ritmos em Portugal e na Polónia. É nesta altura que se realiza a primeira competição Internacional de Kizomba e Semba com o nome de "Africa a Dançar", escancarando as portas para Internacionalização destes ritmos.

A partir daí, Kizomba e Semba passaram a ser ritmos importantes para festivais de dança em todo o mundo. Atentos a esse facto, escreve Marly Baptista nas redes sociais, os festivais de salsa e bachata e as escolas de danças exclusivas desses ritmos passaram a incluir também esses dois ritmos angolanos nas suas aulas regulares.

Em Portugal, foram criados cursos intensivos de Kizomba e Semba, que proporcionavam aos formandos um diploma, habilitando-os a ensinar a dançar esses sensuais ritmos angolanos. E assim surgiram os professores de Kizomba e Semba de várias nacionalidades.

Sobre a adesão que Kizomba e Semba têm tido principalmente por parte de europeus e americanos, a partir da República Checa, o jovem angolano Jamba Mulimbwe, pesquisador do Balumuka, explica que isso se deve, sobretudo, a uma filosofia adoptada pelos artistas da Diáspora de não dissociar a dança de outros elementos da cultura nacional.

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