"Os angolanos percebem que a principal preocupação do Presidente da República não são os valores constitucionais, como a solidariedade nacional e a justiça social, mas o poder e a sua manutenção, manifestando desprezo pelos problemas dos angolanos", afirmou o vice-presidente do BD, Nelson Pestana Bonavena, quando apresentava a visão do partido sobre o Estado da Nação 2023.

"Nunca o País teve indicadores tão baixos como agora. Nunca a pobreza e a miséria foram tão gritantes como agora. Nunca o País esteve assolado com tantas crises como agora", acrescentou.

Na opinião do vice-presidente do BD, a crise política no País traduz-se na "instabilidade produzida pela luta permanente entre o Estado Democrático de Direito constitucional e a economia política de poder real que insiste em governar em ditadura atreves do Partido-Estado que `capturou" todos os órgãos de soberania".

"A crise financeira esta patente na fraca capacidade de o Estado honrar os seus compromissos internos e cada vez mais externos. O País corre o risco de insolvência, como já tem ficado sem ter a capacidade de pagar salários da função pública e de pagar os fornecedores internos", apontou.

Referindo-se à crise social, frisou que "é a soma das insuficiências no acesso à água potável, à assistência médica e medicamentosa, na grande falta de vagas nas escolas, que deixa cerca de 20 por cento das crianças fora do sistema de ensino, na retirada dos subsídios dos combustíveis e na agravação dos preços dos alimentos com a aplicação de impostos em catadupa para os bens alimentares".

De acordo com Nelson Bonavena, a crise alimentar não está apenas associada à insuficiência da produção interna que não descola, porque não há nenhuma política consequente para apoiar a agricultura familiar.

"O Executivo continua a insistir nos grandes projectos e no agronegócio, enquanto os pequenos produtores continuam a registar grandes dificuldades de aceder a crédito bonificados e a insumos", referiu.

Para Nelson Pestana Bonavena, "a chamada Reserva Estratégica Alimentar (REA) privilegiou os produtos de importação e parece ter esgotado rapidamente os recursos financeiros colocados a sua disposição, sem nunca ter conseguido resistir a pressão do mercado, nem ter equilíbrio verdadeiramente os preços, de maneira a tomar os bens essenciais acessíveis a maioria da população".

"Uma das soluções para reduzir a pobreza que assola o País, passa pelo financiamento da agricultura familiar e pela municipalização das políticas públicas, através da implementação Imediata das autarquias locais", sugeriu, lamentando que o País vive uma situação de crise profunda e não há sinais de estabilização para breve.

"Perante essa crise multimoda que é estrutural e não meramente circunstancial, não basta colocar as culpas na conjuntura política internacional (Covid-19, guerra na Ucrânia e agora conflito Israel/Palestina), para justificar a incapacidade de respostas concretas aos problemas do País e dos angolanos", salientou.

Sublinhou que a actual conjuntura implica a adopção imediata da medida de IVA 0, para os produtos da cesta básica, para a despesas da escolarização e para os medicamentos necessários ao combate das doenças endémicas e cronicas.

"Os angolanos estão sufocados. Já apertaram o cinto até ao limite dos ossos. Não basta alargar a base tributária, é necessário também torna-la de maior qualidade", disse defendendo uma política de bons salários.

"O BD encara a exigência das eleições autárquicas para 2024 como absolutamente necessária e apoia a destituição do Presidente da República como medida saneadora e indicativa da emergência dum País sério capaz de vencer os obstáculos que uma pequena elite de política impões ao País. Uma Angola diferente é possível", concluiu o vice-presidente do BD.