Com estas palavras, António Costa relativiza as afirmações do ministro das Relações Exteriores (Mirex), Manuel Augusto, que, na quarta-feira, garantiu que a cooperação entre os dois países depende do desfecho do caso que Manuel Vicente enfrenta na justiça portuguesa, onde está acusado de corrupção e branqueamento de capitais, entre outros crimes.
António Costa fez estas declarações já depois de o Mirex, Manuel Augusto, ter dito, também em Abidjan, na Costa do Marfim, onde decorre a Cimeira África/União Europeia, de forma clara, e procurando incentivar o Governo português a procurar uma solução política para este caso judicial, que "enquanto o caso não tiver um desfecho, o Estado angolano não se moverá nas acções, que todos precisamos, de colaboração com Portugal".
Questionado pelos jornalistas, o primeiro-ministro português sublinhou que as questões a decorrer nos tribunais portugueses "transcendem o Presidente da República de Angola e o primeiro-ministro de Portugal, transcende o poder político, e tem a ver com um tema da exclusiva responsabilidade das autoridades judiciárias portuguesas".
Manuel Vicente surge envolvido num processo (Operação Fizz) na Justiça portuguesa por, alegadamente, ter subornado um ex-Procurador-adjunto através do pagamento de centenas de milhares de euros.
"Estas questões são exclusivamente judiciais e não podem nem devem condicionar a política externa portuguesa", enfatizou António Costa já depois de ter mantido um encontro com o Presidente angolano, João Lourenço, o primeiro entre os dois governantes desde que Angola realizou as última eleições gerais.
Recorde-se que as relações entre Lisboa e Luanda, apesar de não terem sido nem interrompidas nem postas em causa, sofreram um abalo violento quando, ainda antes da eleição de João Lourenço, foi conhecido, através da imprensa portuguesa, que o então Vice-PR, Manuel Vicente, estava a ser investigado por alegados crimes de corrupção e branqueamento de capitais pela justiça portuguesa.
Face a isto, na capital costa-marfinense, António Costa utilizou a expressão "único irritante" para afirmar que essa questão judicial, a qual "transcende" o seu Governo ou o Governo angolano, é o que resta no que existe de por resolver nas relações entre Lisboa e Luanda.
"É hoje muito evidente que há uma distinção clara entre o que é o entendimento das autoridades políticas portuguesas e aquilo que é matéria das autoridades judiciais", disse o chefe do Governo português, apesar de ter admitido perceber a questão do ponto de vista das autoridades angolanas.
Face a isto, e apesar das palavras pesadas do ministro das Relações Exteriores angolano, que, já depois deste encontro entre Costa e Lourenço, disse que não iria haver encontros de "alto nível" entre os dois países até à resolução do caso Manuel Vicente, utilizando mesmo a palavra "guerra" para traduzir o actual sentimento face à persistência do Governo de Lisboa em não procurar uma solução para o caso judicial, António Costa considerou a conversa que manteve com o Presidente de Angola "muitíssimo boa" e "de acordo com a excelência das relações políticas que Angola e Portugal mantêm".
António Costa afirmou ainda que Angola e Portugal estão a ultrapassar as dificuldades económicas recentes e que isso permite "encarar com optimismo e confiança o crescimento das relações económicas nos próximos anos".
Já este ano, este processo de Manuel Vicente na justiça portuguesa levou ao cancelamento da visita da ministra Portuguesa das Justiça a Angola e interrompeu abruptamente, por decisão de Luanda, o processo preparatório da visita que estava a ser preparada do primeiro-ministro portuguesa a Angola.
Embora não tenha sido apontado objectivamente como tendo e4ssa intenção, no discurso da tomada de posse, o Presidente João Lourenço nomeou um conjunto de países com quem Angola deve manter um relacionamento privilegiado, deixando Portugal foram desse grupo, estando o seu homólogo português, Marcelo Rebelo de Sousa, na cerimónia e a ouvi-lo.
Nessa altura, reagindo ao momento menos bom entre os dois países, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que as relações entre os dois povos é única e excelente e que a vontade dos respectivos povos é que os dois países tenham relações próximas e que aos governos compete cumprir a vontade dos seus povos.