O administrador do distrito urbano do Golf, Bonifácio Francisco, reagiu mal ao pedido de esclarecimento do Novo Jornal e não aceitou prestar qualquer informação sobre o assunto.

Os munícipes entendem que o sistema de chafarizes não vai resolver o problema da falta de água no bairro, que tem mais de 60 mil habitantes.

Os moradores afirmaram que já procuraram abordar o assunto com a administração distrital do Golf, mas esta não se tem mostrado disponível para o diálogo, por isso pretendem, nos próximos dias, manifestar-se em frente à administração do Kilamba Kiaxi para serem ouvidos.

O Novo Jornal esteve esta semana no Bairro dos Rastas, município do Kilamaba Kiaxi, onde já se nota a presença de uma equipa de técnicos chineses que irá executar os trabalhos, e conversou com vários moradores que se mostraram agastados com a situação.

"É difícil acreditar, mas é a verdade, este plano traçado pelas autoridades recua o desenvolvimento deste triste bairro", disse Simão Mbala, de 33 anos, morador da rua da polícia.

Na zona dos armazéns, o Novo jornal conversou com Maria Armando Gourgel, residente no bairro dos Rastas há 18 anos, e disse ser inacreditável ouvir que o bairro será contemplado com mais de 10 chafarizes como solução para a falta de água.

"É triste isso, chafarizes não é solução. Ao invés de corrigirem o que está mal pioram as nossas vidas. Porque que noutros bairros é colocada água domiciliar e a nós não, porquê?" questionou a mulher.

Adilson Matamba, também residente, que falou em nome da maioria, explicou que a população do Kilamba Kiaxi ficou feliz ao ter recebido, no mês passado, uma delegação do Ministério da Energia e Água.

"O ministro da Energia e Água, João Baptista Borges, visitou o Kilamba Kiaxi. O mesmo levou a preocupação da falta de água no Rasta que já dura há mais de 20 anos. Depois da visita, a notícia de que teríamos água espalhou-se pelo bairro, pois para o ministro a situação que constatou é preocupante. Mas ficámos surpresos e abalados quando soubemos que a água será por fontanário", narrou.

Segundo Adilson Matamba, o bairro nunca teve água desde a sua criação, e a população não esperava um plano desta natureza.

"Na verdade, o que queremos é que se coloque água domiciliar, isso dá mais dignidade às pessoas. A questão que até ao momento queremos ver esclarecida é de quem é a ideia da colocação de fontanários no Rastas ao invés de ligações domiciliares. A comissão dos moradores alega não ser ideia sua, então de quem é a ideia?", perguntou. E acrescentou: "Não estão a resolver o problema, porque com chafarizes os problemas irão continuar, que é o de acarretar água na cabeça, discussões, e falta de dignidade do morador. Estamos todos indignados".

Um grupo de jovens visitou a comissão de moradores e procurou saber sobre o assunto. Mas o diálogo não foi o esperado.

"Contactámos o administrador do Golf, o mesmo se mostrou disponível para sentar connosco e discutirmos a questão, marcámos a data do encontro, mas o mesmo não compareceu na reunião e nem mais se pronunciou", contou.

"Existem bairros recentes, como o Maria Eugénia Neto, na Sapú, que já tem ligações domiciliares. Quais foram os recursos utilizados que para no dos Rasta quererem colocar fontenários? O Rasta faz fronteira com o distrito urbano da Maianga, e na Maianga não há chafarizes, porque é que nós temos de ter? Queremos sim, água, mas não por esta via", lamentou.

O Novo Jornal tentou, sem sucesso, ouvir a comissão de moradores dos Rastas. Pereira João Ginga, o seu presidente, não se encontrava presente nem atendeu as ligações.

Sobre o assunto, o porta-voz da Empresa Pública de Águas de Luanda (EPAL), Vladimir Bernardo, confirmou que serão colocados no bairro dos Rasta 18 fontenários para servir a população.

Segundo o porta-voz da EPAL, esta não será uma solução definitiva, mas sim imediata e necessária para minimizar a carência da falta de água na zona.

Questionado porque que serão colocados os fontenários ao invés das ligações domiciliares, Vladimir Bernardo, disse ser devido às limitações financeiras que a EPAL tem agora.

"Trata-se de ligações devolutivas que numa primeira fase vão para os chafarizes e posteriormente vai avançar-se para rede domiciliar à semelhança do que aconteceu em outros bairros como Camama e Molenvos", explicou.

O Novo Jornal perguntou quanto tempo mais os moradores terão de esperar para evoluírem para uma rede domiciliar, depois da colocação dos chafarizes, ao que o porta-voz da EPAL respondeu que não há um horizonte temporal.

De acordo com Vladimir Bernardo, a colocação dos fontenários na zona dos Rasta vai acontecer no decorrer deste ano e a mesma vai depender do Centro de Distribuição do Golf.