Esta proposta vai permitir o debate alargado em torno dos media nacionais, na globalidade, mas que tende a focar-se no desempenho dos estatais (TPA, RNA, Jornal de Angola e Angop) ou que estão sob gestão pública, como é o caso da TV Zimbo, da Rádio Mais ou do jornal O País, e surge numa altura em que sobe de tom a acusação por parte da oposição de que o poder e o partido que sustenta o poder, o MPLA, são claramente beneficiados na cobertura mediática realizada por este conjunto de órgãos de comunicação social.

O MPLA aceitou esta proposta da UNITA e, segundo a Angop, o seu líder do grupo parlamentar, Virgílio de Fontes Pereira, manifestou já o desejo de que este debate se faça numa perspectiva pedagógica, mas a UNITA teme que seja aproveitado para "mais um faz de conta" que há abertura quando, na verdade, ela não existe, disse ao Novo Jornal Alcides Sakala, deputado e antigo porta-voz do partido do "Galo Negro".

"Se este debate não contar com a presença da tutela (ministro da Comunicação Social) para que se lhe sejam apresentadas as evidências daquilo e para aquilo a que a UNITA vem chamando a atenção ao longo dos últimos anos, então de pouco valerá", adiantou Alcides Sakala.

O deputado da UNITA deu o exemplo da recente deslocação de um grupo de deputados ao Sequele, onde foram destruídas habitações de pessoas com o apoio da polícia e militares e os media públicos, como a TPA ou a TV Zimbo "nem sequer se dignaram fazer presentes".

"Este debate pode ser um momento muito importante desde que não seja aproveitado pelo partido que sustenta o poder para fazer passar uma imagem de abertura que não existe na realidade. Tem de ser transmitido em directo", alertou.

Sakala avançou ainda com o exemplo da cobertura mediática por estas estações de TV da recente eleição da nova líder da OMA (Organização da Mulher Angola - MPLA), com uma candidata única, sem qualquer tipo de dúvida quanto ao desfecho da eleição, que foi largamente superior à que foi dedicada pela TPA ao congresso da UNITA, o maior partido da opoiação, onde estiveram a concorrer cinco candidatos.

No entanto, ainda citado pela Angop, o líder da bancada parlamentar do MPLA, Virgílio de Fontes Pereira, sublinhou a ideia de que os debates na Assembleia Nacional são fundamentais para "consolidar o processo democrático" e são, por isso, "bem-vindos".

Mas, se a oposição critica os media estatais - que têm uma evidente superior abrangência territorial e de meios que, por exemplo, a Rádio Despertar, visa como próxima da UNITA -, o líder da bancada do MPLA lembra que as violações sistemáticas da lisura e da objectividade atravessam todos os media, sublinhando que "basta observar os meios de comunicação social privados que estão associados a partidos políticos" para se verificar que "a informação fica inclinada relativamente ao processo democrático".

Alcides Sakala, mantendo o tom de critica no que diz respeito à "excessiva partidarização" dos media estatais, sublinha que a partir de 2010, com a nova Constituição, assistiu-se a um "retrocesso" nas conquistas conseguidas desde 1992 nas liberdades democráticas com uma "mais densa partidarização das instituições do Estado confundindo-as com o MPLA".

Entretanto, o líder do grupo parlamentar da UNITA, Liberty Chiaka, depois de saudar a marcação deste debate sobre a comunicação social, citado pela Angop, pediu directamente aos media estatais "uma nova postura".

"Entendemos que o passado deixou lições duras de divisões e ódios, precisamos, agora, passar por uma nova fase, que é a consolidação da democracia, particularmente na promoção da unidade e da diversidade", afirmou.