Por detrás deste documento, divulgado na segunda-feira pelo Banco Central da Federação Russa, está a perspectiva de uma acentuada queda do crescimento económico mundial tendo em conta factores como a guerra comercial entre as duas maiores economias planetárias, China e Estados Unidos da América.

Apesar de o documento, segundo as agências de notícias, conter mais de um cenário, este é o mais pessimista mas coincide com as perspectivas, por exemplo, do Fundo Monetário Internacional, que aponta para um decréscimo global da economia devido às incertezas provocadas pela estagnação das conversações entre Pequim e Washington.

Recorde-se que o Presidente Donald Trump já aplicou tarifas suplementares a mais de 300 mil milhões de bens Made in China como instrumento de pressão para procurar levar Pequim a ceder em alguns aspectos considerados essenciais pela Administração norte-americana.

Entre os pontos mais relevantes estão o fim dos apoios estatais às empresas exportadoras privadas chinesas, o roubo de tecnologia, a abertura das alfandegas a mais bens Made in USA... ou ainda, como alguns analistas admitem como sendo o mais certo, a procura de uma forma de evitar que a China se transforme numa potência mundial insuperável na área das tecnologias de ponta, inteligência artificial, etc.

Para já, como se verificou nos últimos dias, a possibilidade de este cenário se materializar tem estreitado porque Trump e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, têm vindo a público anunciar a retoma das negociações para Outubro, tendo Pequim anunciado simultaneamente que vai em breve retirar as tarifas suplementares aplicadas em retaliação sobre os produtos químicos importados dos EUA, embora mantendo-as nos principais, que são os produtos agrícolas e agro-industriais, como a soja e a carne de porco.

Para já, essa projecção ainda está longe de se materializar, mas o Brent londrino, onde são avaliadas as exportações angolanas, em média, está hoje a avaliar o barril, cerca das 10:10, nos 60,5 USD, observando uma queda de quase 3 dólares em relação ao fecho de quarta-feira em relação ao fecho de quarta-feira, motivada pela possibilidade assumida do Presidente dos EUA, Donald Trump, de diminuir a intensidade das sanções ao Irão, o que é lido pelos analistas como a garantia de que este país vai voltar a poder injectar a sua produção diária potencial nos mercados em breve, que ronda os 4,5 milhões de barris por dia e que hoje se estima rondar apenas 1,5 milhões.

A divulgação desta perspectiva russa sobre os mercados petrolíferos tem ainda como "atenuante" para o eventual drama o facto de o petróleo barato ser menos danoso para a economia russa que, por exemplo, para países como Angola, que, sendo ambos exportadores têm dependências distintas do crude, mantendo há vários anos a referência do valor do barril para a elaboração do seu Orçamento Geral do Estado (OGE) fixada nos 40 USD.

Embora 25 USD seja provavelmente excessivo, mesmo para a Rússia, como relembra Julianne Geiger, analista do site OIlprice, uma das razões para que Moscovo encarar bem este tipo de cenário, ou, pelo menos, bem melhor que os concorrentes, é porque a descida do petróleo acompanha sempre uma desvalorização da sua moeda nacional, e as companhias petrolíferas russas podem pagar despesas em moeda em rublos embora continuem a vender o crude em dólares norte-americanos, gerando imenso superavit por esta via, e as taxas pagas pelas empresas do sector baixam a par das baixas do barril.

Naturalmente que, para um país como Angola, cuja economia é uma da mais claramente petrodependentes, apesar de ter reformulado o seu OGE 2019 de 68 para 55 USD, se o barril atingir em Londres, onde o Brent local serve de referência para a média das suas exportações, os 25 dólares previstos pelo Banco Central russo, toda a estratégia de reformas do Executivo de João Lourenço pode desmoronar.

Isso, ao mesmo tempo que as multinacionais que operam no off shore angolano confrontam-se de novo, embora para pior, com o cenário de 2014, quando o barril desceu tanto e de forma tão abrupta que a maior parte destas ou deixou o país ou praticamente colocou tudo em stand by.

E foi esse descalabro que levou a uma acentuada queda na produção nacional a ponto de a Agência Internacional de Energia ter previsto que em 2023 Angola estará a produzir apenas 1,29 milhões de barris por dia, contra os actuais 1,4 milhões e os quase 1,85 milhões de 2009.

Esse cenário de baixa produção nos próximos cinco anos obteve, todavia, uma resposta clara do Governo ao lançar um vasto conjunto de reformas no sector, incluindo nova legislação, com incentivos ao investimento das empresas, e a reformulação da Sonangol, bem como a criação da Agência Nacional de Petróleo e Gás (ANPG).