Foi em 2007 que a União Africana (UA) lançou o projecto, aproveitando uma iniciativa localizada no Burkina Faso e que surgiu da ideia de um agricultor, Yacouba Sawadogo, que, nos idos de 1980, resolveu meter mãos à obra para fazer frente ao "monstro" do Saara que avançava em direcção às terras dos seus antepassados, plantando árvores, como era uma antiga tradição local que, com as novas eras, se tinha desvanecido.

Com algum sucesso pela forma como conseguiu juntar à sua iniciativa, primeiro as pessoas da sua aldeia, e depois das aldeias vizinhas, Yacouba Sawadogo acabou não só por começar a fazer o que tinha de ser feito, mas, muito mais importante, lançou as raízes para um projecto transafricano, que, como poucos outros, uniu África em torno de algo que não só é essencial para o continente, como pode redefinir a forma da humanidade combater as alterações climáticas e o avanço da aridez dos desertos em todo o mundo.

Ainda por concluir, e, provavelmente, assim será por muitos anos, mesmo décadas, o projecto Africa"s Great Green Wall (A grande muralha verde africana) consistia em plantar uma extensa faixa de árvores e arbustos adaptados a climas áridos, com 15 quilómetros de largura e mais de oito mil de extensão, ligando a faixa de território que divide o deserto do Saara e a região semiárida do Sahel, entre o Senegal e o Djibuti.

Apesar de nos primeiros anos o projecto ter seguido o seu curso com maior ou menor sucesso, dependendo do empenho dos países, a União Africana, o Banco MUndial e a FAO, agência da ONU para a agricultura e alimentação, reavivaram a ideia e renomearam-na como Iniciativa africana para combater a degradação ambiental, desertificação e a seca "Africa"s flagship initiative to combat land degradation, desertification and drought", embora seja pelo seu antigo nome, grande muro verde africano, que é mais conhecido e continua a ser referido.

Apesar de manter a maior parte dos objectivos iniciais, inclusive aqueles que Yacouba Sawadogo tinha em mente na década de 1980, a nova visão é que esse "muro" não tem necessariamente de ser contínuo, podendo ser erguido através de bolsas verdes, um mosaico verde, ao longo da geografia que separa o Saara do Sahel, atravessando, para além do Senegal e do Djibuti, onde começa e termina, países como o Burkina Faso, Mali, Níger ou a parte sul da Argélia, o Chade, o Sudão ou a Eritreia, entre outros, num total de 21 membros deste projecto gigantesco.

Um dos responsáveis pelo projecto, Mohamed Bakarr, que lidera a equipa que faz o acompanhamento da evolução das soluções ambientais desenhadas para a construção do gigantesco muro verde do Banco Mundial, citado pelo site Landscape News, explicou que em 2014, quando se retomou a ideia de resistir através deste método ao avanço do deserto, "mudou-se a visão original depois de se concluir que não era possível uma muralha contínua, optando-se por uma solução que passa por criar bolsas verdes ao longo dos 8 mil quilómetros que depois evoluirão naturalmente para aquilo que é o objectivo final".

Pelo menos 8 mil milhões de dólares deverão ser investidos através de uma recolha global de fundos, incluindo o Banco Mundial, o que vai, se for concluído com sucesso, restaurar 100 milhões de hectares de terras perdidas para o deserto, melhorando a segurança alimentar de mais de 20 milhões de pessoas, criando 400 mil postos de trabalho e, naquilo que mais impacto terá no resto do mundo, ganhando capacidade para armazenar mais de 250 milhões de toneladas de carbono até 2030.

Árvores e arbustos resistentes à aridez vão ser plantadas aos milhões, tendo já começado no Senegal, onde 4 milhões de hectares de terra foram recuperados ao avanço do deserto, no Níger, um dos países mais pobres do mundo, como relatam várias ONG nas suas páginas online, milhares de agricultores estão a mostrar um surpreendente interesse pelo projecto, fazendo com que tenha sido neste país que ocorreu a mais notável transformação de um território em todo o continente africano.

Alias, o Níger é mesmo apontado como exemplo para o que pode ser feito a uma escala diferente, ao longo de todo a geografia envolvida no projecto, como sublinhou Gray Tappan, um geografo, num comentário sobre a realidade da iniciativa neste país.

Naquele país onde o deserto do Saara desagua com a sua aridez na sua plenitide, foram já, e são esses os números do sucesso, restaurados 5 milhões de hectares com a replantação e manutenção de 200 milhões de árvores, recorrendo a técnicas ancestrais, quase sempre tão simples como eficazes, como seja escavar uma meia lua em trono da base dos troncos para melhor recolher a água, seja da rega artificial, seja da chuva ocasional.

Actualmente, segundo dados do Banco Mundial, pelo menos 15 por cento da cobertura vegetal resistente à seca já foi plantada, com efeitos visíveis especialmente em países como o Senegal e o Níger.

Quando terminado, este projecto, que será o mais ambicioso e maior em todo o mundo envolvendo a transformação de regiões áridas ou desérticas em áreas onde a agricultura e a sobrevivência voltam a ser possíveis, fará de África um continente com provas dades de que é capaz de se unir por causas essenciais para a humanidade.

Este megaprojecto é mesmo apontado como exemplo para outras matérias onde igual empenho e consenso surgem como essenciais, seja no combate à corrupção, ao problema das migrações, das doenças, da pobreza... ou mesmo da seca e da desertificação noutras latitudes do continente.

Por exemplo, no sul de Angola, onde a seca e a aridez têm feito alargar para mais de 700 mil as pessoas que, segundo a ONU, têm carências alimentares e de acesso a água potável, onde o gado começa a morrer, tal como nos vizinhos Botsuana e Namíbia, um projecto desta natureza começa a fazer cada vez mais sentido.