Isto, depois de a UNITA e a CASA-CE terem tornado pública a sua discordância face aos resultados provisórios da própria CNE, alegando que as contas feitas nos seus centros de escrutínio oficiosos não encaixam nos seus números, que colocam o MPLA e o seu candidato, João Lourenço, como vencedores destacados, com 61, 05 por cento dos votos.
Esta posição assumida pela porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, já na noite de ontem, surge quando os três maiores partidos angolanos apresentaram números parciais dos resultados, sendo que o MPLA foi o primeiro a assumir a sua vitória, bastantes horas antes da CNE, tendo, já nos dias 24, 25 e 26 (ontem) a UNITA e a CASA-CE feito a mesma coisa, prometendo uma vigorosa contestação legal dos resultados que a CNE e o MPLA apresentaram.
De um lado, os resultados provisórios do MPLA e da CNE são coincidentes na vitória do partido que governa Angola desde 1975, do outro, os números da UNITA, de Isaías Samakuva, que ontem disse que vai divulgar os resultados nacionais dentro de poucos dias, e a CASA-CE, de Abel Chivukuvuku, que já admitiu mesmo contestar na rua, também coincidem relativamente, mas na ideia de que o MPLA não tem os resultados que apregoa.
Recorde-se que Isaías Samakuva, ontem, veio a terreiro afirmar que "o país ainda não tem um Presidente eleito nos termos da Lei" e perguntar à CNE como é que pode ter, do ponto de vista legal, resultados, sejam eles provisórios ou não, desde o dia 24, quando as comissões eleitorais provinciais só começaram a trabalhar nos dados na sexta-feira.
A UNITA garante mesmo que os números que já tem apurados, a partir das actas síntese das assembleias de voto, contradizem de forma inequívoca os apresentados pelo MPLA e pela CNE e vai poder demonstrar isso mesmo ao longo da semana que agora começa, através das mesmas actas síntese que a CNE e o MPLA possuem.
Foi face a este crescendo de contestação, apesar de Isaías Samakuva ter expressamente apelado à calma e ao respeito pela lei, sublinhando que a UNITA em momento algum fará o contrário, que a CNE surgiu em público a procurar tranquilizar a oposição e os seus apoiantes sobre o facto de ser a única voz oficial para divulgar resultados.
E foi também neste cenário que o próprio MPLA, igualmente ontem, tronou pública uma note onde apelava aos angolanos para não integrarem iniciativas que visem ou possam desestabilizar o país.
No entanto, foi por causa dos resultados provisórios, fortemente contestados pela UNITA, o segundo partido mais votado, com 26, 72 por cento, que alguns países já enviaram notas de felicitação ao Presidente eleito João Lourenço, como foi o caso do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa.
No entanto, esta questão poderá ser relativizada porque a contestação aos resultados provisórios como se depreende das intervenções da oposição, não está alicerçada na ideia de que o MPLA saiu vencedor as sim na margem e na folga dessa mesma vitória.
Recorde-se que subjacente a este cenário de contestação está o facto de nestas eleições os partidos terem estado melhor organizados e com acesso aos documentos que espelham a contagem local das 25 873 mesas de voto espalhados pelo país agregadas a 12 512 assembleis de voto, as chamadas actas-síntese, o que lhes permite factualmente proceder à mesma contagem de votos que a CNE.
Sobre esta realidade, a porta-voz da CNE, Júlia Ferreira, veio, na mesma ocasião em que lembrou que a fonte oficial dos resultados não são os partidos, que "A CNE continua engajada no cumprimento rigoroso da Constituição angolana e da lei".
Lembrou que têm surgido informações infundadas, sem apontar nomes nem proveniências, que estão a "distorcer um pouco" a verdade, ou seja, " os dados oficiais deste processo", reafirmando o compromisso da CNE com a verdade e com a lei.