A apreensão desses imóveis da IURD decorre no âmbito do processo-crime 3419/019-05, que, segundo um comunicado da PGR, "resultam do facto de exisirem nos autos indícios bastantes da prática dos crimes de associação criminosa, fraude fiscal, exportações ilícitas de capitais, abuso de confiança, entre outros".
De recordar que foi criada uma Comissão de Reforma da Igreja Universal do Reino de Deus, em finais de Julho, que destituiu a direcção anterior e elegeu novos membros, pondo fim aos serviços dos missionários brasileiros, deliberações publicadas numa acta que a IURD publicada em Diário da República.
Durante a tentativa de tomada, à força, do templo, houve resistência da parte angolana que não aceitou abandonar o local, chamando aa Polícia Nacional (PN), assim como efectivos da SIC, que em pouco tempo chegaram ao local para manter à ordem e a tranquilidade pública, e evitar que o pior acontecesse.
Segundo o porta-voz do Comando Provincial de Luanda da Polícia Nacional, inspector-chefe Nestor Goubel, tanto a parte brasileira como a parte angolana foram encaminhados para a 21.º esquadra, no Rocha Pinto, para prestarem declarações, como avançou o Novo Jornal.
"Eles não estão detidos, apenas convidamos os jovens e os pastores brasileiros, assim como os angolanos, a depor em função do sucedido durante a madrugada. Tão logo termine o depoimento, o caso será entregue ao Ministério Público", disse, na altura, Nestor Goubel, ao Novo Jornal.
O porta-voz da PN em Luanda assegurou que as autoridades estão a acompanhar toda a situação da Igreja Universal do Reino de Deus mas caberá aos tribunais decidirem a problemática que a IURD esta a viver.
No dia 22 de Junho, um movimento de bispos e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus tomaram 30 templos em seis províncias do País, designadamente Benguela, Kwanza-Sul, Huambo, Malanje e Namibe.
Sob liderança do bispo Valente Bezerra, os pastores angolanos decidiram romper com a representação brasileira em Angola, encabeçada pelo bispo Honorilton Gonçalves, a quem acusam de uma série de irregularidades.
O movimento reivindicativo diz-se pronto para iniciar as reformas na igreja e não aceita ser conotada com dissidência nem o rótulo de "ex-pastores", como os brasileiros pretendem fazer passar junto da opinião pública.
"A Comissão Instaladora da Igreja Universal do Reino de Deus Reformada em Angola, continua a testemunhar actos de discriminação racial, castração, abortos forçados às esposas dos pastores angolanos e usurpação das competências da assembleia-geral de pastores", disse ao Jornal de Angola, o pastor Agostinho Martins da Silva, porta-voz da referida denominação.
Estas acusações juntam-se às de fuga de divisas para o estrangeiro, acusação que já remonta a 2016, como o Novo Jornal noticiou na altura, quando um ex-bispo desta igreja, Alfredo Paulo, fez severas acusações à liderança da IURD em Angola.
Situação é tensa desde 2016
Entretanto, segundo o porta-voz dos 300 pastores angolanos, a Comissão Instaladora decidiu montar o seu "Estado-Maior" na Catedral do Morro Bento, localizada na Avenida 21 de Janeiro, em Luanda.
O abuso de confiança na gestão financeira, assim como as irregularidades no pagamento da segurança social aos pastores e privação de visitas aos familiares, estão igualmente na base desta ruptura com os pastores brasileiros.
De recordar que, em Novembro do ano passado, os bispos e pastores da Igreja Universal do Reino de Deus em Angola anunciaram, em Luanda, a rotura com o bispo Edir Macedo, por, alegadamente, este ter desenvolvido práticas doutrinais contrárias.
Num comunicado assinado por mais de 300 bispos e pastores angolanos, estes contaram, na ocasião, que a liderança brasileira, por orientação de Edir Macedo, passou a forçar os pastores angolanos a submeterem-se ao procedimento cirúrgico de "esterilização", tecnicamente conhecido como vasectomia.
Esta prática viola, de acordo com os contestatários, de forma grave, os direitos humanos, de acordo com a Constituição da República de Angola.
Os bispos e pastores angolanos acrescentam que, além disso, a liderança brasileira tem promovido a evasão de divisas para o exterior do País.
No mesmo mês, o director de Gabinete de Comunicação Institucional e Imprensa do Ministério do Interior, subcomissário Waldemar José, disse que uma comissão formada por representantes dos ministérios do Interior, da Cultura e da Justiça e Direitos Humanos estavam acompanhar as investigações na IURD e que a mesma se encontrava sob sigilo.
O conflito interno intensificou-se em Novembro de 2019, quando um grupo de bispos e pastores anunciou a ruptura com o bispo Edir Macedo (líder da igreja), por alegadas práticas doutrinais contrárias à religião, como a exigência da prática a vasectomia, além da evasão de divisas para exterior do país.