Demonstrando o claro fracasso destas tentativas de reduzir as tensões, os EUA estão encravados entre um apoio diplomático, económico e militar ilimitado a Israel e a necessidade de manter o Irão sobre pressão, com ataques aos seus "proxys" no Médio Oriente, sem abrir a Caixa de Pandora que seria uma guerra aberta e directa entre Washington e Teerão, onde a primeira vítima seria a economia mundial...
Blinken reúne-se com príncipe herdeiro saudita
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, reuniu-se hoje em Riade com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, com quem debateu esforços para alcançar "segurança e estabilidade" no Médio Oriente, perante a crescente tensão na região.
Segundo a agência noticiosa oficial saudita SPA, os dois responsáveis "analisaram aspectos das relações bilaterais e perspectivas de cooperação conjunta, além de discutirem a evolução da situação regional e os esforços que estão a ser realizados para alcançar segurança e estabilidade", sem fornecer mais pormenores.
De acordo com o Departamento de Estado norte-americano, Blinken "sublinhou a importância de dar resposta às necessidades humanitárias em Gaza e de evitar o alastramento do conflito" no Médio Oriente, perante o aumento das tensões devido aos recentes bombardeamentos dos Estados Unidos na Síria, no Iraque e no Iémen.
Em concreto, debateram sobre "a urgente necessidade de reduzir as tensões regionais, incluindo o fim dos ataques Huthis que estão a minar tanto a liberdade de navegação no mar Vermelho como o avanço no processo de paz no Iémen".
Esta é a quinta digressão de Blinken pelo Médio Oriente desde a eclosão da guerra na Faixa de Gaza, a 07 de outubro, e tem como objectivo "prosseguir os esforços diplomáticos" para obter um cessar-fogo no enclave palestiniano.
Numa conversa telefónica, o chefe da diplomacia norte-americana transmitiu na passada sexta-feira ao homólogo saudita, Faisal bin Farhan, "o trabalho em curso para criar uma região mais integrada e pacífica que inclua segurança duradoura tanto para israelitas como para palestinianos".
Reiterou igualmente a importância de "assegurar uma pausa humanitária que inclua a libertação dos reféns nas mãos do [movimento islamita palestiniano] Hamas".
Esta nova viagem de Blinken ocorre depois de, na semana passada, os chefes dos serviços secretos de Israel, dos Estados Unidos e do Egito, bem como o primeiro-ministro do Qatar, terem chegado, após dois dias reunidos em Paris, a uma proposta de acordo para uma nova trégua e uma troca de reféns por prisioneiros palestinianos. Esse projecto de trégua foi de imediato transmitido à liderança do Hamas, que afirmou estar a analisar a proposta.
Neste contexto, o líder do gabinete político do Hamas, Ismail Haniyeh, pediu na sexta-feira "um cessar total dos combates" na Faixa de Gaza em troca da libertação de reféns e assegurou que a Jihad Islâmica Palestina, que também opera em Gaza, exigia o mesmo.
A viagem de Blinken ocorre também alguns dias depois de os Estados Unidos terem bombardeado posições de milícias pró-iranianas na Síria e no Iraque e dos rebeldes Huthis no Iémen, acções que desencadearam uma onda de condenações e receio de que o conflito de Gaza se expanda a toda a região do Médio Oriente. Após a visita à Arábia Saudita, o governante norte-americano seguirá para o Egipto, o Qatar, Israel e a Cisjordânia.
A 7 de outubro, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) - desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel - realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.163 mortos, na maioria civis, e cerca de 250 reféns, 132 dos quais permanecem em cativeiro, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, electricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que depois se estendeu ao sul.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 122.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 27 mil mortos, 67 mil feridos e oito mil desaparecidos, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais, e quase dois milhões de deslocados (mais de 85% dos habitantes), mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com toda a população afectada por níveis graves de fome que já está a fazer vítimas, segundo a ONU.
Na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, territórios ocupados pelo Estado judaico, mais de 380 palestinianos foram mortos desde 07 de outubro pelas forças israelitas e em ataques perpetrados por colonos, além de se terem registado mais de 3.000 feridos e 5.600 detenções.
Israel anuncia avanço para Rafah, sul de Gaza, onde estão 1,1 milhões de deslocados
O ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, voltou a assegurar hoje que o Exército vai avançar até ao "bastião do Hamas" em Rafah, a zona mais a sul da Faixa de Gaza onde se refugiaram mais de 1,1 milhões de palestinianos.
"Vamos chegar aos locais onde ainda não combatemos, quer no centro da Faixa de Gaza quer no sul e, em particular, no último [bastião] do Hamas, que se situa em Rafah", disse em conferência de imprensa.
"Cada terrorista escondido em Rafah deve saber que o seu fim será como em Khan Yunis ou [na cidade de] Gaza", prosseguiu o ministro, e quando se cumprem quatro meses de incessantes e devastadores bombardeamentos e ataques de artilharia no enclave palestiniano, na sequência da incursão do movimento islamita Hamas em território israelita em 07 de outubro.
No domingo, o Exército israelita reivindicou a destruição do quartel-general do Hamas em Khan Yunis, um complexo designado Al Qadisa e onde, segundo o Exército, o Hamas planificou e treinou membros do grupo para os ataques de 07 de outubro.
Ainda segundo os israelitas, em Khan Yunis foram detectados um centro de treino e gabinetes de Mohamed Sinwar, o comandante desta brigada e irmão de Yahya Sinwar, o líder do Hamas em Gaza ainda não capturado pelas forças judaicas.
Gallant também assegurou que "a operação terrestre avança e cumpre os seus objectivos" e que 18 batalhões do Hamas foram "desmantelados", com "cerca de metade" dos seus combatentes mortos ou gravemente feridos.
O conflito em curso entre Israel e o Hamas, que desde 2007 governa na Faixa de Gaza, foi desencadeado pelo ataque do movimento islamita em território israelita em 07 de outubro.
Nesse dia, 1.140 pessoas foram mortas, na sua maioria civis mas também perto de 400 militares, segundo os últimos números oficiais israelitas. Cerca de 240 civis e militares foram sequestrados, com Israel a indicar que 127 permanecem na Faixa de Gaza.
Em retaliação, Israel, que prometeu destruir o movimento islamita palestiniano, bombardeia desde então a Faixa de Gaza, onde, segundo o governo local liderado pelo Hamas, já foram mortas pelo menos 28.400 pessoas -- na maioria mulheres, crianças e adolescentes -- e feridas mais de 67.000, também maioritariamente civis.
A ofensiva israelita também tem destruído a maioria das infra-estruturas de Gaza e perto de dois milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas, a quase totalidade dos 2,3 milhões de habitantes do enclave.
A população da Faixa de Gaza também se confronta com uma crise humanitária sem precedentes, devido ao colapso dos hospitais, o surto de epidemias e escassez de água potável, alimentos, medicamentos e electricidade.
Houthis reivindicam ataques contra navios dos EUA e Reino Unido no Mar Vermelho
Desde novembro que as forças rebeldes Houthis têm atacado repetidamente navios no Mar Vermelho, numa resposta contra a ofensiva de Israel em Gaza.
Os rebeldes Houthis do Iémen reclamaram esta terça-feira o ataque que visou um navio norte-americano e outro britânico em dois ataques separados no Mar Vermelho, um dos quais tinha sido relatado por uma empresa de segurança marítima.
"O primeiro ataque atingiu o navio norte-americano Star Nasia, enquanto o outro visou o navio britânico Morning Tide", disse o porta-voz dos Houthis, Yahya Saree, em comunicado.
Anteriormente, a empresa de segurança marítima Ambrey tinha comunicado um ataque com drones contra um navio britânico.
Desde novembro que os Houthis, que controlam o Iémen com o apoio do Irão, têm visado repetidamente navios no Mar Vermelho por causa da ofensiva de Israel em Gaza contra o Hamas.
Nas últimas semanas, os Estados Unidos e o Reino Unido, apoiados por países aliados, lançaram ataques aéreos contra os arsenais de mísseis do Iémen e os locais de lançamento dos projécteis.
Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha atingiram 36 alvos Houthis no Iémen no passado sábado.
Na última sexta-feira, um ataque aéreo no Iraque e na Síria teve como alvo outras milícias apoiadas pelo Irão e a Guarda Revolucionária Iraniana, em retaliação por um ataque de drone que matou três soldados norte-americanos na Jordânia.
O Comando Central das Forças Armadas dos Estados Unidos reconheceu separadamente um ataque na segunda-feira contra os Houthis.
As forças norte-americanas "determinaram que representavam uma ameaça iminente para os navios da Marinha dos Estados Unidos e navios mercantes na região", disseram os militares.
"Estas acções protegem a liberdade de navegação e tornam as águas internacionais mais seguras e protegidas para a Marinha de Guerra dos Estados Unidos e navios mercantes."