Na chamada era de "comunicar melhor", a dita " nota de esclarecimento" do ministério dos Transportes liderado por Ricardo Viegas D"Abreu foi uma infeliz tentativa de tentar minimizar os danos que a notícia da aquisição dos autocarros estava a causar e tentar forçar uma narrativa favorável ao seu pelouro e deixar uma certa dúvida sobre a informação veiculada pelo NJ, quando diz que " e não como vem sendo erroneamente afirmado nos dois últimos dias para com a compra de novos autocarros desbaratar o dinheiro público". Na verdade, a tal " nota de esclarecimento" foi uma iniciativa pública de esclarecimento ao decreto- presidencial nº111/24 de 17 de Maio assinado pelo PR João Lourenço. Em momento algum, desmentiram a informação e os factos avançados pelo NJ, o que procuraram foi simplesmente criar um novo facto com o anúncio da construção de uma fábrica de montagem de autocarros avaliado em 90 milhões de euros, tudo numa vã e desesperada tentativa de acalmar os ânimos aqui da nossa malta.

Esta " nota de esclarecimento" só veio complicar ainda mais aquilo que já estava complicado de gerir e mostrar uma certa falta de alinhamento institucional no Executivo de João Lourenço. Um nota que se queria de esclarecimento, mas que nada esclareceu. O despacho presidencial de autorização é bem claro em dizer qual é o objecto da contratação: a compra de 600 autocarros por 323, 5 milhões de euros. Já a nota do ministério dos Transportes traz detalhes muito além do objecto referido no despacho presidencial. Logo, é nosso entendimento, que para detalhes como a instalação de uma fábrica de montagem de autocarros, tinha de haver uma outra contratação fundada num respectivo despacho presidencial, por se tratarem de realidades e tipo de despesas que não devem estar contidas num mesmo diploma. O que é preciso esclarecer aqui ao ministro e ao ministério em causa é que : uma coisa é um contrato para compra de autocarros e outra coisa é um outro contrato para construção de uma fábrica de montagem de autocarros. É o total desalinhamento institucional. Ricardo Viegas D"Abreu já andou pelos corredores da Cidade Alta ( já exerceu as funções de assessor económico do PR) e devia ter noção de que os actos do PR devem ser explicados pelos seus serviços de apoio, especificamente a sua Casa Civil. É na Casa Civil onde está a Secretaria de Imprensa que em alinhamento institucional à Secretaria de Assuntos Jurídicos tratam de agir em conformidade, ou melhor, em comunicar em conformidade. E não o fazem por via de notas de esclarecimento ministeriais. A fundamentação do despacho presidencial é clara, a nota de esclarecimento do ministro Ricardo Viegas D"Abreu acaba expondo os Serviços de Apoio do Presidente da República ( SAPR) pois cria aqui duas fundamentações diferentes de um acto jurídico exarado por uma entidade, o PR.

O despacho presidencial é claro quando as dúvidas e omissões de actos do PR devem ser explicadas pelo próprio PR, que o faz por via dos seus SAPR. Expõe muita coisa e põe em causa muita coisa. Ficou-se publicamente sem perceber porque razão houve melhor esclarecimento ou explicação, porque razão se foi aos detalhes apenas após questionamento da fundamentação inicial? Porque é que se entendem " esclarecer" só após o NJ ter divulgado a informação e a mesma ter criado alguma indignação social e virtual? O SAPR teve acesso a toda a informação de forma prévia e porque razão não detalhou na fundamentação do despacho? Porquê tantas omissões? Um boa fundamentação evitaria o debate público em torno da lisura e transparência dos actos do Presidente da República. Embora este negócio, esta contratação seja uma proposta do seu auxiliar, o ministro dos Transportes, Ricardo Viegas D"Abreu, João Lourenço é o Titular do Poder Executivo ( TPE) e é quem tem a última palavra em todo o processo, a decisão final para a efectivação da contratação é dele, e os danos em termos de imagem e reputação acabam sempre por atingir o seu governo. Quanto mais se tentar esclarecer, quanto mais se tentar explicar, mais o nosso ministro se vai complicar e se "espalhar". A lisura e transparência deste negócio já estão muito afectadas. Tudo feito por ajuste directo e a compra dos autocarros feita pela empresa Opaia Europa cujo o seu negócio central nem é a área de transportes e nem se lhe conhece experiência no sector.
Neste caso, Ricardo Viegas D"Abreu vai ter de sofrer calado, evitar " notas de esclarecimento" em desalinhamento com a Cidade Alta e deixar o tempo passar. É que em Politica, sacrifica-se sempre o soldado e nunca a honra do general.