Em pano de fundo para o pessimismo, sempre na perspectiva dos países exportadores, estiveram as notícias, aparentemente "ligeiramente exageradas" sobre melhorias nas várias crises planetárias, das tarifas norte-americanas ao acordo de paz em Gaza...
Agora, desde o iníco desta semana, o azimute mediático mudou para a supressão das expectativas positivas e o optimismo nos mercados emergiu do pântano em que estava, com o pessimismo a regressar às geografias das tensões geopolíticas e comerciais.
Este recrudescimento das tensões, seja em Gaza, com as fragilidades postas a nu no acordo entre o Hamas e Israel mediado por Donald Trump, ou as ameaças de novas sanções ocidentais à Rússia, China e Índia, veio sobrepor-se mesmo às debilidades que começam a ser conhecidas do lado da procura nas grandes economias.
Depois de uma sucessão de perdas que colocaram o Brent em valores recorde em baixo superior a 5 meses, e há mais de 4 anos exceptuando cerca de 72 horas em Maio deste ano, a referência maior para as exportações angolanas está a recuperar ligeiramente com uma subida de 1,67% para 62,40 USD, perto das 12:00 desta quarta-feira, 22.
No imediato, por detrás desta melhoria das cores nos mercados, ultimamente longe do verde, está a informação ainda por consolidar sobre o alegado adiamento do encontro entre os Presidentes dos EUA, Donald Trump, e da Rússia, Vladimir Putin, que deixa mais perto um recrudescer das sanções ocidentais a Moscovo, como, de resto, a União Europeia acaba de anunciar referente a um 19º pacote.
E não menos relevante, como sublinha a Reuters, está a pressão norte-americana e europeia sobre as grandes refinarias asiáticas que se alimentam por estes dias principalmente de crude russo e que, embora ligeiramente, começam a travar as compras de energia a Moscovo.
E ignorar a crescente tensão entre os EUA e a Venezuela, com a máquina de guerra naval norte-americana cada vez mais activa nas costas caribenhas onde estão as maiores reservas de crude do mundo, seria pouco ajuizado para os analistas dos mercados.
Como tal, essa tensão entre Nicolas Maduro e Donald Trump também está a valer alguns "pigmentos" esverdeados que por esta hora estão a cobrir os mercados e a aligeirar as perdas das últimas três semanas.
Apesar destas melhorias para as petroeconomias mais fragilizadas, como a angolana, o barril de Brent mantém-se longo do valor médio usado pelo Governo de Luanda para elaborar o OGE 2025, que foi de 70 USD.
E, no horizonte imediato, a OMC já veio avisar que se a guerra comercial EUA-China não for travada, a economia mundial vai dar um trombo de 7% nos próximos tempos.
Com uma dependência tão vincada das exportações de crude, Angola, como, de resto, outras dezenas de países em todo o mundo, este momento...
... é mais uma razão para Angola não perder os mercados de vista
O actual cenário internacional tende a manter os preços abaixo do valor estimado no OGE 2025, que é de 70 USD, embora sem que seja possível perspectivar o que será o advir breve devido aos por demais conhecidos imponderáveis.
Angola é um dos países mais atentos a estas oscilações devido à sua conhecida dependência das receitas petrolíferas, e a importância que estas têm para lidar com a grave crise económica que atravessa, especialmente nas dimensões inflacionista e cambial, onde o esperado superavit (preço acima dos 70 USD) poderia ser importante para contrariar.
Isto, porque o crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.
O Governo deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, uma das razões por que abandonou a OPEP em 2023, actualmente abaixo de 1 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.
O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.
Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.
Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.
A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.