O Presidente Volodymyr Zelensky agradeceu calorosamente as ofertas dos aliados alemão e britânico quase ao mesmo tempo que anunciava a abertura de escritórios na Alemanha e na Dinamarca para vender armamento... ucraniano.

Isto, na sequência da iminente queda de Pokrovsk, uma das cidades-fortaleza ucranianas no Donbass, que, se for tomada pelos russos, permitirá a Moscovo avançar quase sem oposição até às margens do Rio Dniepre.

Se os russos chegarem ao Dniepre, ficam, como tem insistido o analista militar da CNN Portugal, major-general Agostinho Costa, com a tarefa facilitada para assumir Kramatorsk, Kostantynyvka e Slaviansk, as três últimas importantes cidades da região de Donetsk que os russos ainda não conquistaram.

Esta derradeira fase de conquista de Donetsk é fundamental que os ucranianos impeçam, porque, como notam quase todos os analistas, sem fortificações entre o Rio Dniepre e Kiev, a Rússia só não avançará para a capital por opção política do Kremlin.

Para já, o olho do furacão que varre o leste ucraniano desde 2022 está em Pokrovsk, onde os russos apostam quase tudo e os ucranianos investem as derradeiras forças especiais, como a famosa Brigada Azov, para impedir o sucesso de Moscovo.

E a razão é simples: perdendo esta cidade, a que os russos chamam Krasnoarmiisk, o que até os canais pró-ucranianos nas redes sociais, como o Deep State, gerido pela secreta militar de Kiev, admitem estar iminente, a guerra poderá entrar na sua última fase.

Isto, porque a muralha de cidades-fortaleza criadas por Kiev, precavendo a possibilidade de um avanço russo, como está a suceder, na qual Pokrovsk é um elo logístico fundamental, tombará no seu conjunto com o ruir de uma das suas peças-chave.

Mas há outros riscos concomitantes, porque ao retirar as forças de outras áreas da linha da frente, e alocar as forças especiais de reserva à batalha de Pokrovsk, como nota Jacques Baud, analista militar e antigo elemento da intelligentsia suíça nas NATO, com vários livros escritos sobre este conflito, toda a estrutura militar ucraniana pode ruir.

Além disso, o empenho extraordinário de Zelensky e do CEMGFA ucraniano, general Oleksandr Syrskyi, em Pokrovsk, arriscando quase tudo, mostra aos russos que Kiev está exangue de músculo para as trincheiras e se esta cidade cair, Kiev também pode ruir como um castelo de cartas.

Alias, o epílogo da batalha por Pokrovsk, que é um centro logístico ferroviário e rodoviário na região de Donetsk, coincide com uma sucessão de semanas de ataques ininterruptos russos à infra-estrutura energética e industrial ucraniana, que deixou o país às escuras, sem aquecimento no rigor do Inverno no Hemisfério Norte, além da destruição sistemática das unidades de produção militar e de recuperação de material danificado.

Alguns analistas admitem que o anúncio feito nas últimas horas por Volodymyr Zelensky da abertura de escritórios em Berlim, na Alemanha, e em Copenhaga, na Dinamarca, para venda de armamento excedente é um sinal de fim de linha e desespero em Kiev devido ao risco real desse armamento vir a ser destruído pelos persistentes ataques russos com mísseis e drones de longo alcance.

Isto quando a generalidade dos sistemas de defesa anti-aérea, como os media ucranianos admitem, especialmente aqueles que até aqui eram financiados pela USAid, dentre estes The Kyiv Independent, foram sendo destruídos pelos russos até restar quase nada.

Essa falta de sistemas de defesa anti-aérea tem sido apontada como a razão para a destruição avassaladora do que resta da infra-estrutura energética e industrial ucraniana, o que agora parece estar a ser parcialmente resolvido com o envio de novas baterias de misseis Patriot pelos alemães.

Todavia, ainda sem confirmação oficial, alguns canais de bloggers de guerra estão a avançar que também esses novos sistemas, que Zelensky acabara de informar já estarem no país e a serem posicionados, foram já atacados e danificados por misseis russos balísticos Iskander M e os hipersónicos Kinzhal.

Outra ilação possível após o anúncio de abertura de escritórios para venda de armas consideradas excedentes por Kiev, é que a Ucrânia, como tem sido noticiado repetidamente, incluindo pelos media ocidentais pró-ucranianos, não tem pessoal militar em número suficiente para usar esse armamento, considerando que os russos estão a somar sucessos em vários pontos dos mais de 1.200 kms de linha de combates.

No momento em que o Presidente ucraniano anunciava a abertura até ao final do ano de escritórios em Berlim e Copenhaga para vender o excedente de armamento produzido pela Ucrânia e obter recursos financeiros adicionais, na os canais das redes sociais, tanto pró-Kiev como pró-Moscovo repetem-se informações sobre avanços das forças de Moscovo na região de Kherson, Zaporizhia e, especialmente em Donetsk.

Alias, o próprio The Guardian, o jornal britânico mais empenhado na propaganda ucraniana, refere esta terça-feira, 04, que os avanços russos são "sólidos e persistentes" na linha da frente ao longo de todo o mês de Outubro, embora citando uma análise feita pela agência francesa de notícias, France-Presse.

Enquanto isso, John Mearsheimer, um dos mais respeitados analistas de política internacional e autor norte-americano, professor da Universidade de Chicago, nota que a fragilidade ucraniana em termos de recrutamento é já evidente há muito e Pokrovsk demonstra-o com a necessidade de Kiev para ali enviar forças de toda a linha da frente.

E a exaustão do Exército ucraniano foi ainda sublinhada pelo convite recente de Vladimir Putin para os jornalistas ocidentais e ucranianos se deslocarem à cidade cercada, "não por questões humanitárias mas porque o Kremlin sabe que dessa forma demonstra a fragilidade da narrativa ocidental e ucraniana" depois de estarem obrigados a recusar a "oferta" do Presidente russo.

Sobre a abertura dos escritórios para venda de armas, os analistas mais críticos do regime de Kiev sublinham como difícil de explicar como é que um país em guerra, com insistentes notícias de fragilidades crescentes na linha da frente, se pode dar ao luxo de querer vender armas...~

Porém, Zelensky fê-lo. O Presidente ucraniano anunciou a abertura até ao final do ano de escritórios em Berlim e Copenhaga para vender o excedente de armamento produzido pela Ucrânia e obter recursos financeiros adicionais.

"Vamos abrir dois escritórios de exportação", disse Zelensky à imprensa, citado pela agência de notícias ucraniana Ukrinform, referindo-se às capitais da Alemanha e da Dinamarca, dois dos principais aliados de Kiev desde a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

A venda de equipamento militar será utilizada para "a produção nacional de artigos escassos", que o país tem dificuldade em financiar, explicou o chefe de Estado ucraniano, citado também pela Lusa.

De acordo com Zelensky, a exportação de armas, supervisionada pelo conselheiro presidencial Oleksandr Kamishin, terá como base iniciativas de coprodução de armamento.

"Tudo isto será divulgado legalmente e serão elaborados contratos. Oleksandr Kamishin ficará responsável pela Europa e representará as exportações ucranianas no continente europeu", acrescentou.

Segundo o Instituto de Economia Mundial de Kiel, que monitoriza os anúncios de ajuda internacional a Kiev, a Alemanha lidera a lista de países europeus no apoio militar, com cerca de 17,7 mil milhões de euros.

A Dinamarca surge como o segundo país da União Europeia, com uma assistência avaliada em 9,2 mil milhões de euros, segundo o Instituto Kiel.