Apesar de serem agora os detentores do poder no Zimbabué, as Forças Armadas teimam em afirmar que não estão a fazer um golpe de Estado, garantindo que estão a proteger o nonagenário Presidente Mugabe dos "criminosos que o rodeiam" e que estavam a conduzir uma estratégia de assalto ao poder.

Por detrás do "assalto ao poder" que os militares, liderados pelo general Constantino Chiwenga, dizem estar a travar, está uma facção interna do partido no poder, a ZANU-PF, denominada "G40", liderada pela mulher de Robert Mugabe, Grace Mugabe, e pelo ministro das Finanças, Ignatius Chombo, que deverão ser "levados à justiça" pelo "mal que estão a fazer ao país e ao povo".

Apelidando mesmo de "criminosos" aqueles que rodeiam Robert Mugabe, os militares têm garantido que não estão a depor da Presidência Robert Mugabe, que há muito tempo, devido aos seus 93 anos de idade e 37 de poder consecutivo, é visto como uma marioneta da sua mulher, Grace, com 53 anos e uma clara ambição pelo poder do seu marido.

Segundo a imprensa independente zimbabueana, Grace Mugabe e alguns dos seus fieis terá embarcado durante a noite de ontem para hoje num avião com destino ao Dubai, alegadamente quando se deu conta que as Forças Armadas estavam mesmo na rua para tomar o poder.

Para além das estações de TV e rádio estatais, as Forças Armadas ocuparam ainda o Parlamento e a Presidência, bem como todos os pontos estratégicos da capital do país com material militar pesado, incluindo tanques, tendo, ao longo do dia de hoje, sido ouvidas diversas explosões.

O despoletar deste processo de tomada do poder pelos militares ocorreu na segunda-feira quando o Chefe das Forças de Defesa (Forças Armadas), general Constantino Chiwenga afirmou em público estar preparado pela assumir o poder para fazer colocar um ponto final no assalto ao poder em curso no país, depois de Mugabe ter demitido o seu Vice-presidente Emerson Mnangagwa, na passada semana.

Com esta demissão de Mnangagwa, que era tido como o sucessor natural de Mugabe, imediatamente se percebeu que por detrás do seu afastamento estava a mão de Grace Mugabe, de 53 anos, a quem é apontada uma férrea vontade de assumir o poder na ZANU-PF e no país.

Militares prometem regresso rápido à normalidade

Entretanto, num comunicado emitido nas últimas horas na ZBC, televisão estatal, um porta-voz das Forças Armadas garantiu que a normalidade será reposta assim que estiver cumprida a missão em curso, que visa levar à justiça os "criminosos" que rodeiam o Presidente Mugabe, pela forma como estão a gerar e aprofundar a grave crise social que o país atravessa.

Nesta comunicação foi vincada informação de que não se trata de um golpe de estado, embora, com a confinação do Presidente Mugabe, democraticamente eleito em eleições, à sua residência, comporte elementos que claramente chocam com a normalidade constitucional.

Resposta da comunidade internacional

Actualmente é o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, que lidera a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e o Presidente angolano, João Lourenço, preside ao órgão de Defesa e Segurança da organização austral, os dois homens para quem se olha agora no que toca à procura de uma resolução africana para a crise no Zimbabué.

Para já, quando ainda não é conhecida nenhuma posição angolana, o Presidente sul-africano, Jacob Zuma, já disse que a SADC e a União Africana não vão tolerar qualquer tipo de violência no país, tendo mesmo apelado a que os militares garantam a segurança do Presidente Mugabe, homem visto ainda como um herói das independências africanas por muitos lideres.

Entretanto, Zuma enviou ao Zimbabué e a Angola, devido à liderança nacional do órgºao de Defesa e Segurança, que é a linha da frente da resposta a crises deste género, dois dos seus ministros, o da Defesa e Veteranos, Nosiviwe Mapisa-Nqakula, e o ministro da Segurança do Estado, Bongani Bongo.

Recorde-se que, de acordo com o conteúdo da Carta Africana sobre a Democracia, as Eleições e a Governação, os golpes de estado, miliares ou não, são condenados de forma veemente e não existem mecanismos que permitam o seu reconhecimento antes ou depois de efectivados.

Esta determinação impõe, mesmo que o objectivo dos militares à frente desta acção no Zimbabué seja provocar uma efectiva alteração no Governo, isso não pode ser declarado enquanto tal, porque estaria condenado à partida pela União Africana e todos os países membros ou organizações sub-regionais, como a SADC.

No Artº III do capítulo dos Princípios, a Carta Africana garante "a rejeição e condenação das mudanças anti-constitucionais de Governo", sendo que este princípio tem sido seguido de forma coerente durante as últimas ocorrências, como foi o caso, por exemplo, da Gâmbia, ou mesmo da Guiné-Bissau, entre outros.