Com temas como "Cenários e respostas às alterações climáticas. Secas e cheias a curto, médio e longo prazos", "Situação da seca nos países da África Austral", "A resposta à seca numa visão humanitária, de resiliência e de macro-finanças", o primeiro encontro interprovincial sobre alterações climáticas no Sul de Angola juntou, no Lubango, membros dos departamentos ministeriais, governos provinciais, académicos, representantes das Nações Unidas (ONU) e organizações da sociedade civil.
Além do debate, orientado para a procura de respostas locais para problemas globais, o encontro ficou marcado pela apresentação de uma avaliação do impacto da seca, realizada no terreno pelo Governo e ONU.
Segundo o levantamento, nos últimos três anos, as perdas resultante da estiagem nas províncias da Huíla, Namibe e Cunene atingem os 744 milhões de dólares.
De acordo com o coordenador residente da ONU no país, Pier Paolo Balladelli, citado pelo Jornal de Angola, os últimos anos de seca consecutiva no sul do país deixaram as famílias sem reservas alimentares, com impacto mais acentuado nas populações vulneráveis, nomeadamente na saúde, por causa da má nutrição.
Os efeitos da seca traduziram-se ainda no aumento da taxa de abandono escolar e agravamento da violência de género devido ao desespero das famílias, constatou a avaliação.
Perante este cenário, os responsáveis presentes no encontro sublinharam a importância de ir além de soluções de emergência, como aquela que tem sido implementada pelas Nações Unidas nos últimos seis meses.
"A solução não está na distribuição de alimentos, através de campanhas de assistência humanitária. O problema da seca não se compadece com as medidas actuais. É preciso aprofundar a abordagem, traçar e executar medidas eficazes para minimizar os efeitos", defendeu o governador provincial da Huíla, João Marcelino Tyipinge, citado pelo Jornal de Angola.
A pensar em soluções definitivas a intervenção da ONU tem abrangido não apenas doações, mas também acções de capacitação da população.
Neste sentido, mais de 2.900 famílias melhoraram as capacidades técnicas na agricultura e cinco mil na saúde animal, com os apoios disponibilizados no quadro das acções de emergência.
De acordo com Balladelli, 9.800 crianças foram tratadas à má nutrição aguda, através de distribuição de suplementos terapêuticos, 220 agentes comunitários aprenderam a identificar crianças em situação de risco, 590 técnicos de saúde foram formados e 14 mil pessoas passaram a ter acesso à água potável através de bombas manuais. Além disso, 40 mil pessoas vivem com latrinas e 70 mil receberam kits de higiene, 10.300 adolescentes foram formados em higiene e saúde reprodutiva, dos quais 2.400 dispõem de kits de higiene pessoal.
"Juntos podemos fazer uma Angola melhor", defendeu o responsável da ONU.