Vladimir Putin, que a partir da China, onde esteve reunido com o seu homólogo Xi Jinping, provavelmente os dois líderes mundiais mais cautelosos a tratar da questão da Coreia do Norte, chamou à atenção, no seguimento do que os chineses têm vindo a dizer, que ao diálogo e as negociações são a melhor forma de lidar com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un.
Este comportamento de Putin e Jinping surge em relevo face à impetuosidade do Presidente norte-americano, Donald Trump, que diariamente renova as promessas de guerra total contra a Coreia do Norte, desde a famosa ameaça de "fúria e fogo como o mundo nunca viu" até à sibilina: "Ele (Kim Jong-un) não entende palavras, apenas acções (de guerra)".
No entanto, depois de alertar que a subida constante do tom de ameaça norte-americana a Pyongyang e as novas sanções poderem abrir as portas do inferno à humanidade, Vladimir Putin criticou severamente a corrida armamentista de Jong-un, com destaque para o alegado teste de uma "bomba H", que eleva em vários patamares a perigosidade do arsenal nuclear norte-coreano devido ao muito maior poder destrutivo desta arma em relação às bombas atómicas "normais".
Analisando os últimos meses e o xadrez que está implícito na crise coreana, facilmente se conclui que de um lado estão os EUA, a Austrália e o Japão, três países com governos de pendor nacionalista-conservador, com o tom mais acalorado nas ameaças a Pyongyang e, do outro, o melhor aliado de Kim Jong-un, a China, a relativamente distante Rússia e, curiosamente, o único país com quem a Coreia do Norte está efectivamente em guerra desde 1953, embora sob a égide de um armistício, a Coreia do Sul, que não querem de forma nenhuma ver estalar uma guerra na região.
Um pouco por todo o mundo, mesmo que as declarações mais mediáticas sejam as de tom belicista de Donald Trump, os apelos ao diálogo vão ganhando peso, até porque a Coreia do Sul, país mais próximo da capacidade bélica da Coreia do Norte, já disse que não admite "de forma nenhuma" que qualquer país, incluindo os EUA, iniciem um ataque ao Norte sem o seu consentimento, mesmo que na última semana tenha multiplicado os exercícios militares.
Mas o que faz temer as organizações e os governos mais empenhados na manutenção da paz é que um pequeno erro na introdução de coordenadas nos mísseis usados nos exercícios militares da Coreia do Sul, Japão e EUA, ou nos testes efectuados pela Coreia do Norte, faça literalmente explodir a Península Coreana numa guerra desenfreada... por causa da tensão e do tom que não pára de crescer e de alargar o léxico belicista.
Por exemplo: a Coreia do Sul realizou nas últimas horas um exercício preciso com vista a apurar a capacidade de ataque aos silos de mísseis da Coreia do Norte, lançando dezenas de projécteis, E se um destes falha as coordenadas e vai cair em território norte-coreano?
Para já, a única coisa que está a cair na Coreia do Norte é o impacto das sanções, que impedem o país de vender produtos do mar, metais e carvão, secando em mais de mil milhões de USD as suas receitas, e, já na segunda-feira, por proposta dos EUA e do Japão, o Conselho de Segurança da ONU vai votar novas sanções.
Mas a consequência mais quente deste processo pode resultar da ameaça de Donald Trump de suspender todas as trocas comerciais dos EUA com países que mantenham qualquer registo negocial com a Coreia do Norte, o que significaria o fim das trocas comerciais entre os Estados Unidos, a China e a Rússia, por exemplo.
Os EUA recusaram igualmente uma proposta de Pequim e Moscovo que consistia em que fossem interrompidos os exercícios militares conjuntos EUA-Coreia do Sul e a suspensão dos testes armamentistas norte-coreanos.
Face a este impasse... tudo é possível, como alertam a generalidade dos analistas ouvidos pela imprensa mundial.