Como pano de fundo para o cenário de extrema violência e aguerrida batalha política que a Venezuela vive há pelo menos três meses, com mais de uma centena de mortos confirmados e milhares de feridos provocados pelas batalhas campais entre as forças de segurança e os manifestantes, está a profunda crise económica provocada pela baixa acentuada do preço do petróleo, que deixou as prateleiras dos mercados vazias e as padarias sem pão para vender ou ainda as farmácias sem medicamentos.

Recuperando um slogan esquerdista que poderia ter saída da boca do próprio Maduro, a oposição, para enfatizar a sua luta contra a eleição para a Constituinte, colocou cartazes pela capital venezuelana onde recupera, entre outras frases simbólicas, a guevarista "antes morrer de pé que viver de joelhos".

Para já, e depois do referendo oficioso realizado a 16 de Julho pela oposição, onde a esmagadora maioria dos votantes, mais de 96 por cento dos quase oito milhões de "eleitores" disseram não querer a Constituinte de Nicolás Maduro, até Domingo o país corre o risco de viver alguns dos dias mais dramáticos em muitos anos, visto que, como têm dito dirigentes da oposição, o regime não tem condições para levar adiante as eleições porque já não controla o território, o que, em certa medida, significa que o poder pode estar a ser tomado em algumas áreas da Venezuela fora da capital.

Mas Maduro não mostra sinais de cedência e diz ter o país preparado para ir a votos no Domingo e dizer de forma clara que quer a Constituição de 1999, era Hugo Chávez Chefe de Estado, redesenhada por forma a vincar a dimensão bolivarista da Venezuela e combater, como tem afirmado o Presidente NIcolás, o imperialismo norte-americano, que tem os seus serviços secretos por detrás do golpe em curso, utilizando a oposição como instrumento no terreno.

Uma das vozes que lideram os protestos, a do vice-presidente da Assembleia Nacional, único órgão de poder no país que Maduro não controla, Fredy Guevara, pediu mesmo aos venezuelanos +para saírem à rua em Caracas para garantir o "boicote cívico" às pretensões de Nicolás Maduro.

Este esforço oposicionista para travar as intenções de concretizar a eleição de uma nova Assembleia tem por detrás a certeza de que se Maduro conseguir eleger a "sua" Constituinte, o espaço de manobra da oposição será reduzido de forma drástica e serão criados mecanismos de contenção e de restrição das liberdades de manifestação.

Na verdade, como notam alguns analistas sul-americanos, a oposição sabe que do outro lado da Constituinte estará o "poder absoluto" de Maduro e o fim imediato dos instrumentos que ainda restam à oposição, não lhe restando outra coisa que não seja uma espécie de "tudo ou nada" que pode redundar num banho de sangue.

"Não nos vamos render nem ficar em pânico porque estas são horas decisivas para o futuro do nosso país", sublinhou Guevara, acrescentando que nem o Exército nem Maduro "pense que haverá uma rendição".

"Este não é o momento de nos rendermos ou de entrarmos em pânico, estamos nas horas decisivas do futuro do nosso país", explicou Fredy Guevara . "Que seja claro para Maduro e para o exército que nós não vamos ceder, que nós não vamos permitir que ele imponha uma fraude constituinte ao povo", concluiu. Os 545 membros da assembleia, que serão eleitos no domingo, poderão reescrever a Constituição de 1999, feita no primeiro mandato do falecido presidente Hugo Chávez.

Entretanto, face às ameaças da União Europeia e dos EUA em caso de desrespeito da lei pelo regime de Maduro, este já veio a terreiro repetir o discurso da ameaça imperialista.

"Os imperialistas acreditam que pode dar ordens à Venezuela, mas só o povo nos pode dar ordens", avisou Maduro, depois de ter dado ordem às Forças Armadas para colocar militares em todas as mesas de voto, para evitar a sua destruição pelos manifestantes ou os grupos organizados para acções rápidas contra as forças do regime e as suas instituições.

Perante este quadro de sucessivas posições de força, estes podem bem ser dias decisivos para o futuro "mapa" do poder na Venezuela, até porque Leopoldo López, o mais conhecidos dos líderes da oposição na Venezuela, já lançou um pedido9 paras que a população não deixe as ruas até que o regime de Madura caia.