O representante do Ministério Público, Pedro Adão, deu a conhecer na terça-feira, na sessão do julgamento do caso conhecido por "burla à tailandesa", que à Procuradoria-Geral da República continua a receber elementos novos a propósito da autenticidade do cheque de 50 mil milhões de dólares e que no devido momento tais dados serão usados para sustentar os preceitos da acusação.
O Tribunal Supremo (TS), por sua vez, propôs que deve comparecer em juízo o cônsul honorário da Tailândia em Angola (residente na África do Sul), por considerar importante a sua presença para o esclarecimento de alguns aspectos, na sessão de julgamento do dia 28.
Ainda na sessão desta terça-feira, o colectivo de juízes, deste julgamento, solicitou os bons ofícios do Banco Nacional de Angola (BNA) para que se diligencie junto do Banco Central das Filipinas sobre a autenticidade do documento emitido por aquela instituição, enviando cópias certificadas do referido documento, que o réu Raveeroj Ritchoteanan, presidente da Centennial Energy Company, empresa que pretendia investir em Angola 50 mil milhões de dólares, diz ser verdadeiro e que tem muito mais dinheiro que a quantia apresentada no cheque, o quer faria de si uma das 10 pessoas mais ricas do mundo, segundo a listagem da Forbes, da qual não consta.
O TS está a julgar quatro cidadãos tailandeses, outros quatro angolanos, um eritreu e um canadiano, acusados da prática dos crimes de associação criminosa, fabrico e falsificação de títulos de crédito, falsificação de documentos e uso de documentos falsos, burla por defraudação na forma frustrada, promoção e auxílio à imigração ilegal e tráfico de influência.
Durante o terceiro dia de julgamento, o réu Raveeroj Ritchoteanan negou todas as acusações que pesam sobre si, e disse que não tentou burlar o Estado angolano pois nunca pediu dinheiro às autoridades locais para um possível investimento, mas que pretendia investir o seu dinheiro.
"Quando vim para Angola, a minha intenção era investir, mas trazendo o meu próprio dinheiro cá, por isso trouxe o cheque de 50 mil milhões de dólares ", disse o réu, de 52 anos.
Questionado de quem era o dinheiro que pretendia trazer para Angola, o réu respondeu que o dinheiro pertence à sua empresa Centennial Energy Company.
Sobre o documento, Raveeroj Ritchoteanan insistiu na sua autenticidade, tendo sido questionado se tinha sido advertido pela UTIP de que o investimento que pretendia realizar em Angola seria por sua conta e risco, ao que respondeu que sim.
"Eu tinha consciência de que o Estado Angolano não entraria com nenhum valor", referiu.
A defesa do réu Raveeroj Ritchoteanan requereu ainda ao tribunal para oficiar, por carta rogatória ou outros meios legais, o Banco Central das Filipinas ou o seu representante legal em Nova Iorque, para o esclarecimento sobre a autenticidade do cheque de 50 mil milhões de dólares.
O juiz que preside ao julgamento, Domingos Mesquita, questionou também por que razão, no âmbito do interrogatório, o réu mencionou o nome do ex-Presidente das Filipinas, Ferdinando Marcos, tendo o réu Raveeroj dito que foi forçado a comparar a situação que atravessa com a que um dia o antigo Presidente havia passado, "porque também ninguém acredita que o dinheiro é meu".
Entretanto, a sessão desta terça-feira foi suspensa, no fim da tarde, após sete horas de auscultação, para continuar hoje ainda com o réu Raveeroj Ritchoteanan, principal acusado desta "megaburla tailandesa" que vai na sua terceira audição.
Em julgamento estão 10 réus de quatro nacionalidades diferentes, sendo quatro angolanos, quatro tailandeses, um eritreu e um canadense, envolvidos no processo, que remonta ao ano de 2017.
A dois outros arguidos, os angolanos Norberto Garcia, José Arsénio Manuel, foram aplicadas a medida de coacção de prisão domiciliária, dos oito arguidos que se encontram em prisão preventiva, quatro são tailandeses, Raveeroj Ritchchoteanan, 52 anos, e considerado o mentor da tentativa de burla, Monthita Pribwai, 28 anos (esposa do réu Raveeroj), Manin Wantchanon, 25 anos, e Theera Buanpeng, 29 anos, bem como André Louis Roy, canadiano de 65 anos, e Million Isaac Haile, eritreu de 29 anos.
Com a mesma medida de coação encontram-se os réus Celeste de Brito António e Christian Albano de Lemos, ambos angolanos.
O julgamento que decorre no Tribunal Supremo, conta com 38 declarantes, entre eles altas figuras da sociedade angolana, com destaque para o antigo Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas Angolanas Geraldo Sachipengo Nunda, o ex-Comandante-Geral da Polícia Nacional de Angola, Alfredo Mingas "Panda", Belarmino Van-Dúnem, ex- PCA do Conselho de Administração da Agência para a Promoção do Investimento e Exportação de Angola (APIEX) e Mário Palhares actual PCA do BNI.