Isso mesmo concluiu um estudo conduzido por um conjunto de organizações internacionais numa área rural remota na Zâmbia, sendo uma das principais razões para esta conclusão o facto de administrar supositórios a crianças em estado de doença avançado ser mais fácil que os medicamentos tradicionais por via oral, porque, muitas vezes, estes pacientes têm vómitos ou estão já inconscientes.
Através desta forma, os medicamentos fazem efeito imediato e permitem às famílias ou aos técnicos dos postos de saúde destes locais isolados ter tempo útil para fazer chegar as crianças a unidades hospitalares melhor equipadas.
O estudo envolveu cerca de mil crianças com formas severas de malária (paludismo) a quem os técnicos conseguiram chegar a tempo para administrar um medicamento denominado artesunate em supositório, o que permitiu depois levar a criança para um hospital.
O projecto, para além da administração do medicamente por esta via, criou, através da NGO Transaid, um sistema de transporte composto por bicicletas-ambulância que permitiu o transporte mais célere que o habitual dos pacientes.
Do estudo fez ainda parte, assim que a criança chegada ao hospital, a administração de uma injecção com o mesmo medicamento e, depois, a administração tradicional, oral, durante três dias de comprimidos de artesunate.
Citado pelo The Guardian, Pierre Hugo, director da MMV, uma organização que se dedica à procura de novas formas de tratar a malária, lembrou que, por detrás deste sistema, está a certeza de que se estas crianças não conseguem ter acesso imediato a uma unidade hospitalar, vão morrer.
"Normalmente estas crianças são encontradas com uma contagem de parasitas no sangue em níveis insustentáveis, com os glóbulos vermelhos destruídos, entre a vida e a morte", apontou Pierre Hugo, para sublinhar a importância de criar uma fórmula que permita prolongar o tempo útil para a prestação de socorro eficaz.
Todos os anos morre meio milhão de pessoas com malária, com uma larga percentagem de crianças, que são as mais vulneráveis, entre estas, sendo que 90 por cento ocorrem na África subsaariana.
Este estudo foi divulgado pouco antes da publicação do relatório anual sobre a malária da Organização Mundial de Saúde (OMS), sobre o qual existem fortes expectativas, nem todas boas, tendo em conta que o anterior revelou que pela primeira vez em décadas, a malária estava a ganhar terreno, com os números de casos e de mortes a crescer.
Mas este estudo, feito na região zambiana de Serenje, durante um ano, pode ser mais uma porta aberta para debelar esta doença, até porque os resultados são animadores, visto que durante a sua realização, a percentagem de morte de crianças com a forma severa de malária passou de 8 por cento para 0,25%.
Um dos problemas com que a OMS se debate, apesar de já aconselhar o recurso a supositórios há vários anos, é que as farmacêuticas não se têm mostrado interessadas na produção de antipalúdicos na forma de supositório, esperando-se agora que este estudo leve a uma mudança de atitude.
DE sublinhar ainda que o cenário onbde decorreu este estudo é comum a quase toda a África subsaariana, incuindo Angola, onde vastas áreas geográficas têm escassa resposta sanitária e este método de abordagem do combate à malária poderia contribuir para uma rápida baixa na taxa de mortalidade entre crianças.
A malária é a principal causa de morte em Angola. Só no primeiro trimestre deste ano, entre Janeiro e Março, morreram quase três mil pessoas com a doença no país.
Kuando Kubango, BIé, Moxico, Huambo e Uíge são as províncias mais afectadas.