"Houve forças políticas que se opuseram à criação de novas províncias. Fizeram tudo para nos desencorajar. Se nós fossemos fracos de espírito, podíamos desistir, mas mandámo-las passear», disse João Lourenço aos habitantes da de Cazombo, onde colocou a primeira pedra para a construção de uma nova cidade, que será a futura capital desta província.
Disse que entre defender os interesses do povo e as críticas que o seu Executivo recebeu dos partidos da Oposição na Assembleia Nacional, nos meios de comunicação social e nas redes sociais, optou por estar ao lado do povo, que ele considerou ser seu "patrão".

Deixando transparecer um certo desconforto com os críticos à sua governação reafirmou que : " Entre eles [os opositores] e o povo, para nós o mais importante é o povo. É uma meia-dúzia de pessoas que mandámos passear em nome do povo».
Nas farpas que lançou à oposição, infere-se que João Lourenço não mediu o alcance das suas palavras, pois estas poderão criar um clima de animosidade entre as populações locais e os partidos da oposição, acirrar ódios e estimular a intolerância política quando estes decidirem instalaram-se nas novas províncias criadas no âmbito da nova Divisão Político-Administrativa (DPA).
Sem que antes justificasse as razões dos sucessivos fracassos das políticas públicas do seu Executivo, em quase 50 anos depois da independência nacional, 23 dos quais em paz, o PR ofereceu aos locais uma mão cheia de promessas.
Prometeu criar um aeroporto moderno, em substituição da actual pista de terra batida, a construção de um hospital bem equipado para, segundo ele, evitar a transferência de pacientes para outras localidades, e garantir atendimento local de qualidade.

No domínio da educação, prometeu expandir a rede escolar, dando ênfase ao ensino de base, assim como fornecer energia, numa primeira fase alimentada por fontes térmicas; prometeu igualmente investimentos em captação e tratamento de água para combater doenças como a cólera, causada pelo consumo de água contaminada.
Em sentido contrário às posições defendidas pela Oposição e pelas organizações da sociedade civil que têm multiplicado os apelos à realização das autarquias, João Lourenço justificou com o argumento de que a criação de três novas províncias, nomeadamente Icolo e Bengo, Moxico Leste e Cuando, visava reduzir as distâncias entre as sedes provinciais e as populações, facilitando o acesso ao desenvolvimento.

"Os territórios do Moxico Leste e do Cuando estavam muito distantes das anteriores capitais, Luena e Menongue, o que dificultava a chegada de serviços essenciais", adicionou, visivelmente emocionado.
Na óptica do PR, a decisão de avançar com apenas três das seis províncias inicialmente previstas reflectia uma abordagem cautelosa, devido aos elevados custos envolvidos nessas operações.

Contudo, o orador não revelou em nenhum momento as disponibilidades financeiras para a reconstrução das três novas províncias, mesmo sabendo-se que os cofres do Estado encontram-se exauridos e o Executivo tem andado de mão estendida ao crédito internacional e à caridade alheia.
Soou a uma certeza hipocrisia a promessa feita pelo PR de que, na sua próxima visita ao Moxico Leste, faria a viagem por terra, no trajecto que liga o Luau a Cazombo, após a reconstrução profunda da estrada 192.

Há quem tenha sérias dúvidas de que isso venha a concretizar-se, visto que nas suas deslocações ao interior do país nunca o PR viajou de uma capital de província para outra, por via terrestre, mesmo em trajectos de menor distância como, por exemplo, no percurso Luanda/ Caxito, na vizinha província do Bengo.
Ele usa, invariavelmente, a via aérea, o que não lhe permite observar o mau estado das vias, muitas das quais polvilhadas de buracos e corroídas nas laterais por ravinas.

Dito de outro, o PR não conhece a realidade das nossas estradas, dos constrangimentos e perigos que as mesmas representam para milhares de angolanos que diariamente as percorrem pelos mais diversos motivos.
Nas suas curtas deslocações por terra, ele não tem sentido o sofrimento do povo, porque as vias por onde passa têm sido previamente reparadas, com operações de tapa-buracos.
Nessa sua viagem ao Cazombo, uma localidade da Angola profunda, João Lourenço viu-se "forçado" a dispensar o conforto do seu "palácio aéreo", ou seja, do seu luxuoso avião, e seguir viagem do Luau ao Cazombo numa aeronave da TAAG, um aparelho turbo-hélice devido aos constrangimentos da pista local, que é de terra batida.
Como nota de rodapé convém lembrar que desde a sua chegada ao poder, há quase oito anos, não se tem memória de João Lourenço ter viajado numa aeronave da companhia aérea de bandeira, mesmo em viagens ao interior do país.
Será caso para dizer que o "empregado" só viaja em aviões de luxo comprados com o dinheiro do povo, que ele diz ser seu "patrão"?