E a férrea estratégia de controlo da produção entre os países da OPEP+, organização de facto liderada por sauditas e russos, é o pano de fundo para este bom momento que permite às economias mais dependentes da exportação da matéria-prima, como a angolana, respirar temporariamente de alívio.

Ao aproximar-se dos 87 USD, o barril de Brent, referência maior para o valor médio das ramas exportadas por Angola, demonstra uma resiliência inesperada face ao ruído global por causa das alterações climáticas e da urgência de avanços decisivos na transição para fontes não poluentes de energia.

Perto das 09:00 desta sexta-feira, 01, hora de Luanda, o barril de Brent estava a valer 87,05 USD, subindo perto de 0,30%% face ao encerramento da última sessão, estando os analistas dos mercados a balançar entre uma redução deste vigor, que já persiste há semanas, com o barril acima dos 80 USD desde meados de Julho, e uma rectificação nos próximos dias de forma a encaixar as notícias menos abonatórias oriundas da China, especialmente com o arrefecimento do seu sector produtivo e com sinais preocupantes de novo temporal no sector imobiliário.

Mas, para já, o céu cinzento que cobre a economia da segunda maior economia do mundo, e maior importador de crude, não é suficiente para tapar o azul do céu sobre os EUA, a maior economia do mundo e o maior consumidor de energia.

O que ressalta dos dados mais recentes das autoridades norte-americanas que regulam o sector, como o Instituo do Petróleo Americano é que o inventário regular da quantidade de crude e de combustíveis aponta para uma quebra muito substantiva, superior à esperada, na ordem dos 10,6 milhões de barris.

E se este dado é a chama que se solta da vela, a cera que garante o pavio iluminante é a estratégia da OPEP+, que agrega os 13 membros da Organização dos Países Exportadores (OPEP) e um grpo de independentes encabeçado pela Rússia, com os seus cortes na produção desenhados para manter o equilíbrio entre a procura e a oferta.

Além da produção controlada, a OPEP+ conta com o "plus" fornecido pela Arábia Saudita e pela Rússia, que, em conjunto, garantem de motu próprio uma redução extraordinária de 1,5 milhões de barris por dia deste "cartel" que responde por cerca de 50% da produção mundial diária, próximo dos 102 mbpd.

Este acordo extra tem como data de validade o mês de Setembro, mas já se sabe que a Arábia Saudita vai prolongar o corte de 1 mbpd até final de Outubro.

Enquanto não se estabilizam as fontes eventuais de problemas, como a economia chinesa a dar mostras de refreamento do seu potencial, e a guerra na Ucrânia continua a ser um estilete apontado ao coração da confiança mundial, o pilar estrutural de todas as economias, estes valores, com o barril na casa dos 80 USD, não deixa de ser uma benesse dos céus para Angola, ou para outros produtores igualmente sujeitos a crises de inflação, cambiais e produtivas, como a questão da diversificação da economia para fora da grilheta do petróleo.

Situação vista de Luanda

Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, esta consolidação dos preços do Brent largamente acima dos 85 USD é uma boa notícia, porque permite diluir os efeitos devastadores da crise cambial e gera superavit face ao valor de 75 USD por barril com que foi elaborado o OGE 2023.

Se continuar assim por muito tempo, as consequências podem ser bastante positivas porque o sector petrolífero continuará a gerar superavit que serve ao Governo para investir além do básico. E os riscos de subfinanciamento do Estado face aos compromissos assumidos no OGE, podem ser reduzidos, devido ao papel insubstituível, para já, das receitas petrolíferas no PIB.

O petróleo representa hoje, ainda, mais de 90% das suas exportações, corresponde até 35% do PIB e garante cerca de 60% dos gastos de funcionamento do Estado.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.