De facto, o maior importador de energia mundial, a China, está num longo ciclo de notícias mistas sobre a saúde da sua economia que não voltou à pujança que tinha antes do desabrochar da pandemia da Covid-19, em 2020 e isso não sossega os mercados.

Com efeito, os ganhos registados nesta terça-feira, 12, no Brent, a referência global que determina o valor médio das ramas exportadas por Angola, são substancialmente menores que o que a abrasiva situação no Médio Oriente justificaria, precisamente por causa da China.

Se os ataques dos rebeldes Houthis, do Iémen, aos navios que demandam o canal do Suez pelo Mar Vermelho e a ausência de acordo para um cessar-fogo em Gaza justificam que o barril de Brent estivesse a subir, perto das 11:40, 0,90 USD, para os 82,87 USD, por outro lado, os dados da economia chinesa limita substancialmente a valorização da medida internacional.

Isto, porque a fragilidade da economia chinesa é a razão, não a única, mas é das mais relevantes, para que os analistas dos mercados estejam a alimentar um sentimento negativo face à procura pela matéria-prima.

Como a Reuters avança, muito do que vier a suceder nos mercados petrolíferos será uma consequência do que acontecer no Cairo, a capital egípcia, onde confluem por restes dias os lideres de Israel na mesa das negociações com os representantes do Hamas, sendo que o sinal para um cessar-fogo que chega aos receptores globais e fraco e pouco optimista.

Como se isso fosse pouco, cresce o risco de o conflito de Gaza, onde praticamente nada mais há para Israel destruir, além das vidas dos 2.3 milhões de civis palestinianos que sobrevivem como podem nos 365 kms2 do território, menos os mais de 31 mil que já foram mortos, evolua para o sul do Líbano.

E isso seria elevar um patamar de perigosidade no risco de alastramento da guerra à vasta região do Médio Oriente, responsável por mais de 30% do petróleo consumido no mundo, o que abriria todo um novo caminho para o barril saltar para além dos 100 USD.

Tal como está a acontecer com notícias de ataques bem sucedidos das forças ucranianas a instalações petrolíferas russas, que é um dos três gigantes globais da produção e exportação de crude, a par de sauditas e iranianos - os EUA não são exportadores relevantes.

Há, no entanto um elemento que não tem estado nos radares dos analistas, que é o facto de a OPEP+ estra a ser contrariada na sua política de controlo de preços através da redução na produção/oferta, que é a crescente cegada de crude de produtores fora do chapéu do "cartel".

Isso é mesmo o que está por detrás, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), da crescente oferta, que está prestes a chegar aos 103,8 milhões de barris por dia (mbpd), de petróleo nos mercados, sendo esta quantidade ligeiramente acima da procura, que está nos 102,8 mbpd.

Provavelmente a resposta da OPEP+, que junta a OPEP e a Rússia à frente de um grupo de nove desalinhados desde 2017 para manter os mercados equilibrados, será fazer chegar a informação por fontes não identificadas e através da imprensa especializada que está a analisar a possibilidade de novos cortes.

Se isso não for suficiente para amansar as feras, provavelmente terão de ocorrer novas linhas limite para a produção, que está actualmente, e desde 2022, 3,6 mbpd abaixo do potencial natural dos membros da OPEP+.

Para Angola, as contas são simples de fazer...

Apesar de ter abandonado a OPEP recentemente, Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, ter o Brent nos 82 USD permite, embora não seja o antidoto definitivo, diluir alguns dos efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

Com OGE 2024 elaborado com um valor de referência médio para o barril de 65 USD, estes valores actuais permitem um relativo optimismo, mas aumentar a produção é o factor-chave, o que ficou mais fácil depois de Angola ter, em Dezembro passado, anunciado a saída de membro da OPEP, o que deixa um eventual acréscimo da produção fora dos limites impostos pelo cartel aos seus membros como forma de manter os mercados equilibrados entre oferta e procura.

O crude ainda responde por cerca de 90% das exportações angolanas, 35% do PIB nacional e 60% das receitas fiscais do país, o que faz deste sector não apenas importante mas estratégico para o Executivo.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de aumentar a produção nacional, actualmente perto dos de 1,12 mbpd, gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.