Dos Estados Unidos da América, o maior consumidor mundial de crude e a mais robusta economia no planeta, e a China, o maior importador e número dois global na lista das maiores economias, estão a fazer reverberar pelos mercados o mau momento por que passam os seus tecidos produtivos.

Os mercados sabem, desde o primeiro minuto dos tempos em que a matéria-prima surgiu como combustível para o motor da economia global, que se o consumo de combustíveis decresce isso é um sinal claro de problemas nos "pistons" da máquina e a China e os EUA estão claramente identificados como a força motriz do planeta económico.

Da China chegam, como notam as agências internacionais, dados que expõem uma redução nas margens da refinação, um aumento nos stocks e uma redução substantiva nas deslocações aéreas - a razão para menor procura -, que acrescem os problemas já conhecidos num dos sectores que mais tem puxado pela economia do gigante asiático nas últimas décadas, o imobiliário e a construção - razão para o engrossar dos receios -, onde os analistas encontram o verdadeiro nó górdio para o Governo de Pequim fazer o país regressar ao crescimento robusto das últimas duas décadas.

Nos EUA, que, sendo um grande produtor e consumidor, o que leva este gigante a mexer menos nas importações, não deixa de influenciar substantivamente os mercados porque se consumir menos ganha tracção para inundar os mercados com os seus excedentes, e é isso que está a acontecer graças à inflação, às elevadas taxas de juro directoras e a uma inclinada tendência para as famílias viajarem menos, seja por estrada, seja via aérea.

E quando dois gigantes dão mostras de erosão interna, ninguém fica imune, desde logo os mercados petrolíferos, mas, logo na segunda linha dos impactos negativos, os países que mais dependem das exportações de crude, como é o caso de Angola, cuja crise económica, assente num buraco inflacionista e numa montanha russa cambial, sobe e desce em função do valor do barril, apesar dos valores elevados dos últimos largos meses se terem feito sentir muito pouco em termos de melhorias na economia nacional.

É de tal modo assim que nem a fogueira acesa em Gaza que ameaça alastrar para o gigantesco barril que é o Médio Oriente, de onde sai diariamente 40% do crude consumido no mundo, ofusca as faíscas geradas pelas falhas dos motores nos EUA e na China...

Agora, com os 80,08 USD que se verificavam perto das 09:05, hora de Luanda, menos quase 13 USD que em 19 de Outubro, há escassas três semanas, a relativa folga que as economias petrodependentes estavam a observar, está-se a esfumar e crescem as razões para que o pânico se possa começar a instalar em país mais expostos a estas subidas e descidas, desde logo os produtores africanos e, entre estes, com destaque para Angola.

Embora o Governo de João Lourenço tenha antecipado esta deslocação negativa nos gráficos, elaborando o Orçamento Geral do Estado para 2024 com 65 USD como valor de referência, menos 10 que o do ano corrente, a verdade é que o cenário de hoje não é um bom presságio para o que pode estar para vir se, como se espera, se vierem a esfumar os efeitos das guerras em Gaza e na Ucrânia sobre o negócio global do petróleo.

Para Angola, as contas são estas...

Para Angola, que é um dos produtores e exportadores que mais dependem da matéria-prima em todo o mundo, devido à escassa diversificação económica, ter o Brent nos 80 USD não permite diluir os efeitos devastadores da crise cambial e inflacionista, até porque o país enfrenta também o problema da persistente redução da produção diária.

O Presidente da República, João Lourenço, deposita esperança, no curto e médio prazo, de conseguir o objectivo de manter a produção nacional acima de 1,1 mbpd com os campos "Ndola Sul", "Agogo Fuel ou os projectos "Begónia", "Cameia" e "Golfinho", gerando mais receita no sector de forma a, como, por exemplo, está a ser feito há anos em países como a Arábia Saudita ou os EAU, usar o dinheiro do petróleo para libertar a economia nacional da dependência do... petróleo.

O aumento da produção nacional não está a ser travada por falta de potencial, porque as reservas estimadas são de nove mil milhões de barris e já foi superior a 1,8 mbpd há pouco mais de uma década, o problema é claramente o desinvestimento das majors a operar no país.

Aliás, o Governo de João Lourenço tem ainda como motivo de preocupação uma continuada e prevista redução da produção de petróleo, que se estima que seja na ordem dos 20% na próxima década, estando actualmente pouco acima dos 1,1 milhões de barris por dia (mbpd), muito longe do seu máximo histórico de 1,8 mbpd em 2008.

Por detrás desta quebra, entre outros factores, o desinvestimento em toda a extensão do sector, deste a pesquisa à manutenção, quando se sabe que o offshore nacional, com os campos a funcionar, está em declínio há vários anos devido ao seu envelhecimento, ou seja, devido à sua perda de crude para extrair e as multinacionais não estão a demonstrar o interesse das últimas décadas em apostar no país.

A questão da urgente transição energética, devido às alterações climáticas, com os combustíveis fosseis a serem os maus da fita, é outro factor que está a esfumar a importância do sector petrolífero em Angola.