Moon Jae-in, dirigindo-se a Donald Trump, sublinhou que não pode acontecer uma situação em que se inicia uma guerra sem ouvir aqueles que estão geograficamente no primeiro plano das consequências, como é o caso da Coreia do Sul, cuja capital, Seul, está localizada a escassos quilómetros da fronteira com o Norte e claramente ao alcance da sua artilharia convencional.
Estas declarações de Jae-in surgem num dos momentos mais perigosos da crise na Península Coreana que, na verdade, já dura desde 1953, quando terminou a chamada Guerra da Coreia, que opôs o Sul, com apoio dos EUA e Reino Unido, e o Norte, apoiado pela China e pela Rússia (USSR) e a península foi divida pelo famoso Paralelo 38.
Nos últimos dias, isto depois de meses de escalada na tensão alimentada pelos sucessivos testes de mísseis intercontinentais ou balísticos (ICBM) feitos, com sucesso, pela Coreia do Norte, e de notícias de fulgurante desenvolvimento de ogivas nucleares em miniatura para serem transportadas nestes projécteis, os EUA decidiram elevar ainda mais a "espada" e Donald Trumpo prometeu "fúria e fogo como o mundo nunca viu" sobre Pyongyang se o Presidente norte-coreano, Kim Jong-un não recuasse nas ameaças.
Não recuou. Só não recuou como deu um passo em frente ao prometer o seu próprio fogo e fúria sobre Guam, uma ilhota onde os EUA têm bases militares e gerem, situada a 3 500 km"s do arsenal bélico norte-coreano.
Perante aquilo que muitos já admitem como uma séria possibilidade de regresso da guerra à Península Coreana, que, na verdade, nunca deixou de estar em guerra porque em 1953 os combates pararam graças à assinatura de um Armistício mas nunca foi assinado um Tratado de Paz, tanto o Japão como a Coreia do Sul têm-se multiplicado em apelos à contenção, e a China começou mesmo a aplicar as sanções decretadas pela ONU com a interrupção da importação de carvão e outros minérios da Coreia do Norte, que é quase a sua única fonte de rendimento em divisas.
Kim dá passo à rectaguarda
Face às declarações de Donald Trump onde promete afogar a Coreia do Norte em fogo e fúria e com o impacto das sanções aplicadas pela China, o intrépido Kim Jong-un veio nas últimas horas mostrar que deu um passo atrás ao informar que tinha ordenado aos seus chefes militares para não dispararem contra Guam até ver "o que fazem os tolos dos americanos".
Mas não deixou de se deslocar ao Comando Militar Norte para verificar pessoalmente a preparação e evolução do plano para disparar quatro mísseis de médio porte contra Guam.
A agência de notícias oficial norte-coreana citou Kim Jong-un como tendo disto que "se os americanos continuarem com as suas acções extremamente perigosas na península coreana, testando o autocontrolo da República Democrática Popular da Coreia, esta tomará uma decisão importante como já foi declarado".
Os analistas da situação militar na Coreia do Norte admitem que as próximas horas podem ser decisivas para a subida ou descida da tensão e afastar ou aproximar o mundo de uma guerra, que pode ter contornos devastadores se evoluir para o recurso a armas nucleares.