O Partido Socialista (PS), que governa o país há oito anos, e que, apesar da sua maioria absoluta, interrompeu a governação a meio devido a suspeitas sem confirmação do Ministério Público de ilicitudes do ainda primeiro-ministro António Costa, aposta na continuidade.
Com Pedro Nuno Santos, antigo ministro das Infra-estruturas, a liderar o PS, os resultados positivos da economia portuguesa confirmados pelo FMI, União Europeia e agências de "rating" são os "foguetes" da campanha eleitoral, mas as sondagens não mostram esse optimismo entre o eleitorado.
O secretário-geral do PS aposta na continuidade dos resultados das políticas sociais e económicas dos Governos de António Costa, destacando a garantia de manter o Serviço Nacional de Saúde (SNS), que é o grande trunfo da esquerda e garante a Portugal um lugar entre os países europeus mais desenvolvidos.
Já a Aliança Democrática (AD), que disputa taco a taco os votos com os socialistas, com o Partido Social Democrata (PSD) a liderar esta coligação, aparece em campo com o objectivo de recuperar o poder que perdeu há oito anos, apostando num programa mais virado para a modernização da economia portuguesa.
Com dois novos partidos da direita radical, a Iniciativa Liberal (IL), na economia, e o Chega, xenófobo extremista, à ilharga, a AD procura a fórmula mágica que lhe permita encaixar garantias de que dará prioridade ao sector social, protegendo o SNS e o ensino público, ao mesmo tempo que abre caminho à baixa de impostos e à modernização do sector privado.
Mais radical que a AD de Luís Montenegro, a Iniciativa Liberal de Rui Rocha, surge nesta campanha com um pendor liberal jamais visto na política portuguesa, defendendo sem rodeios a privatização alargada do Serviço Nacional de Saúde, na redução dos impostos e na diluição da segurança social como combustível para uma nova robustez do sector empresarial privado.
O Chega, de André Ventura, é o partido de direita mais polémico desta campanha eleitoral, visto por muitos analistas e acusado pelos adversários de esquerda, de ser xenófobo e extremista ideologicamente, tem surpreendido com sondagens que lhe dão mais de 15% dos votos.
Se tal suceder, este resultado será uma dor de cabeça para a AD, no caso desta aliança chegar à frente na contagem de votos, porque, estando afastada por completo uma maioria absoluta, corre o risco de não conseguir formar Governo apenas com o apoio da IL.
E isto é um problema porque Luís Montenegro, líder do PSD e da AD, já garantiu que não vai formar Governo com o apoio do Chega, porque é um partido que defende valores não-democráticos, como a xenofobia e o racismo.
Nesse caso, como admitem alguns analistas, dificilmente a esquerda, sob liderança do PS, conseguira ter uma maioria parlamentar para reavivar a denominada "geringonça" que lhe permitiu governar entre 2015 e 2019, afastando o PSD do poder, apesar deste partido ter sido o mais votado.
E assim se chega a um beco sem saída, com duas possibilidades em cima da mesa do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que é convocar novas eleições ou dar tempo para uma reorganização da direita que resolva os entraves à formação de um Governo da AD com apoio da IL e do Chega.
Para que tal aconteça, ou Luís Montenegro consegue uma reviravolta da sua posição, aceitando o apoio do Chega para formar Governo, ou, internamente, o PSD movimenta-se para afastá-lo do cargo de presidente do partido de forma a eleger um líder que veja o Chega de André Ventura com melhores olhos.
Para já, o presidente do Chega veio dizer que esse deverá ser o caminho, avançando mesmo nesta terça-feira, 05, com quatro nomes de outros tantos pesos-pesados do PSD que apoiam um Governo da AD com o Chega.
André Ventura falou mesmo dos nomes de Pedro Passos Coelho,ex-primeiro-ministro, entre 2011 e 2015, Ângelo Correia, antigo ministro da Administração Interna e uma figura das "profundezas" do PSD e tido com boas ligações aos diversos serviços de intelligentsia em Portugal e também em África, na Europa e nos EUA, ou ainda Miguel Relvas e Rui Gomes da Silva, antigos ministros do PSD.
Contra esta possibilidade de abertura das portas do poder ao Chega, partido acusado pela esquerda de ser "fascista e racista", quando a revolução do 25 de Abril de 1974, que terminou com 50 anos de ditadura fascista, faz meio século este ano, estão os partidos mais robustamente de esquerda.
O Partido Comunista Português, que, como é usual, surge nestas eleições inserido na Coligação Democrática Unitária (CDU), se as sondagens se confirmarem, podem ser as últimas onde este partido com mais de 100 anos conta com um grupo parlamentar.
Mas os comunistas portugueses não arredam pé das suas tradicionais posições de defesa das classes trabalhadoras e das pequenas empresas, apesar de terem voltado nestas eleições a admitir que, como disse o seu secretário-geral, Paulo Raimundo, o reatar da "geringonça" pode ser a fórmula mágica para manter as direita radical e a AD fora do poder.
Já o Bloco de Esquerda (BE), outro partido da esquerda mais vincada, tal como o PCP/CDU, tem no reforço do sector social do Estado parte graúda do seu programa, apostando claramente na criação de uma fire wall que proteja o país da extrema-direita, nomeadamente na defesa do SNS e do sistema público de ensino.
Ao todo, são 19 os partidos políticos e coligações que vão estar no boletim de voto de voto ao dispor dos mais de 10 milhões de eleitores que vão eleger 230 deputados em 18 círculos eleitorais, cabendo aos deputados eleitos escolher o futuro primeiro-ministro, não sendo, no regime semi-presidencialista portugês, o voto de Domingo para uma escolha directa do novo chefe do Executivo.